{43} O PODER QUE BROTA DO CHÃO

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Lia fez todo o caminho de volta limpando as lágrimas do rosto, não queria que Yeji e os outros a vissem naquele estado e começassem a fazer perguntas que ela não saberia como responder. No bolso da calça, sentia o peso do amuleto de Kraj, a prova que tudo tinha terminado, ou quase tudo. Ainda haviam sete imperadores para vencer e um exército de Espectros em Híon que não se renderia, com ou sem a liderança de seu mestre. Mas aquilo tudo era tão pequeno para ela; passou metade da vida em busca de vingança e quando finalmente teve sua oportunidade, simplesmente deixou-o ir. Não era vingança o que ela buscava, agora ela sabia, e sim uma explicação do porquê sua vida tinha se tornado aquele turbilhão.

Perdida em pensamentos, Lia não se deu conta de que a floresta tinha ficado subitamente silenciosa, os pássaros tinham se calado, o vento parou de soprar. Ela só percebeu que algo estava errado quando aproximou-se o suficiente do lago para ouvir as vozes exaltadas da equipe de Jonan. Correu para ver o que estava acontecendo.

Ao chegar na cachoeira, Lia encontrou Yeji e os outros Áureos revezando olhares perplexos entre as telas nos pulsos dos uniformes e um algum ponto alto além das árvores.

- Yeji, o que está acontecendo? - Lia indagou à Elenus.

- Os equipamentos voltaram a funcionar - ela informou mostrando o brilho em seu braço. - Barton achou o aço Ghara.

- Como sabe?

Yeji apontou na direção em que todos olhavam.

- Não está sentindo essa aura?

Lia seguiu o braço da vampírica que indicava uma árvore impossivelmente alta erguendo-se como um dedo de madeira para o céu. Dos galhos grossos projetavam-se folhas de um verde brilhante. O mais impressionante era que a planta continuava crescendo, pulsando com uma aura única que Lia conhecia muito bem.

- Barton... - sussurrou ela como se tentasse convencer a si mesma. - Barton está fazendo aquilo?

- Não há nenhum Nahin da terra nessa ilha tão poderoso para isso, Lia - Yeji garantiu sem desviar os olhos da árvore.

A árvore só parou de crescer quando já era uma gigante entre as outras a sua volta. Aparentava ter milhares de anos quando, na verdade, havia brotado das entranhas da terra há apenas alguns segundos. Era mesmo Barton, Lia podia sentir a vibração de seu poder, entretanto, havia algo mais, como se outra coisa ocupasse o mesmo lugar que ele.

- Eu vou até lá - informou Lia, abrindo caminho pelo mato.

- Vai com calma, Lia! - Antes de seguir a Niffj, Yeji gritou para um dos soldados: - Contate os seleni pelo rádio, diga que é seguro virem até aqui. Vamos voltar para base o quanto antes.

Com as instruções dadas, Yeji disparou atrás de Lia que já tinha sumido na mata.

Lia chegou a tempo de ver Barton saindo de uma passagem no imenso tronco da árvore com a Assassina das Sombras em punho como se tivesse acabado de usá-la. Ela estremeceu com a possibilidade de ele ter encontrado alguma coisa lá embaixo e tivesse tido que lutar por sua vida. Procurou sinais de ferimentos em seu corpo, mas não encontrou nada, mesmo assim ele caiu depois de alguns passos entre as raízes saltadas da planta fantástica.

Ela adiantou-se para ajudá-lo.

- Barton! O que houve? Está sentindo dor? - Ela viu no dedo de suas mãos trêmulas um anel de metal polido, um arrepio subiu-lhe a espinha.

- Não... não doí. - Com ajuda dela ele conseguiu se sentar. - Só preciso recuperar o fôlego e me acostumar com isso em mim.

Alguma coisa em Lia dizia que o isso a que Barton se referia não era o anel no dedo, mas ao poder que ele continha. Ela tentou segurar a mão com a joia, mas ele não deixou, afastou-se dela com um puxão.

𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒂 𝑮𝒖𝒆𝒓𝒓𝒂Where stories live. Discover now