{29} ESPIÕES

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Johá nunca imaginou que voltaria para aquele lugar de novo - pelo menos não tão cedo. O ar úmido e frio, com eventuais lufadas de ar quente, as árvores altas e fantasmagóricas, o barulho de insetos por todo lado. E o pior: o chão coberto de lama escura. Era tudo exatamente como da primeira vez. O Pântano dos Perdidos continuava igual.

Felizmente, dessa vez ele sabia exatamente para onde estava indo, e não precisava chapinar os pés na lama, estando sobre uma pantera de passadas tão suaves que quase não afundavam no terreno molhado. Quando ele e Lara haviam entrado no pântano por um outro caminho, diferente do que tinha feito antes com Barton Lia, sentiu-se um tanto desnorteado com o cenário confuso. Mas a medida que se embrenhavam mais, o caminho ficou claro. Ele tinha o mapa do lugar gravado na memória.

- Tem certeza que é por aqui? - Johá já tinha perdido a conta das vezes que Lara tinha feito aquela pergunta. Durante aquele último mês, ele já tinha dado muitas provas de que sua memória é perfeita. Havia decorado de cor milhares de palavras de ordem em pouquíssimo tempo. Mesmo assim Lara parecia duvidar que qualquer um fosse capaz de se guiar por ali.

- Tenho - ele respondeu atento ao caminho. - Lembro perfeitamente. Estamos perto.

- Parecem tudo igual para mim.

- Acredite, eu não vou me perder - apesar de confiante, Johá, constantemente olhava por cima do ombro.

- Ah é? - Lara duvidou. - Então por que você está agindo como se alguma coisa fosse saltar sobre nós a qualquer momento?

Ele arregalou os olhos, ignorando o tom irônico da Nahin.

- Por que é exatamente disso que tenho medo. Eu te contei sobre o ataque dos gravitadores, não foi? Teria sido melhor trazer Allan também. Ele seria muito útil aqui com todas essas árvores.

- Na verdade, nem tanto - ela deu de ombros. - Allan é ótimo em manipular rochas sólidas, mas suas habilidades com a flora não são tão apuradas.

- Ué, achei que todo Nahin da terra pudesse manipular plantas.

- Podem. Só que o treinamento Áureo é algo que leva tempo. Geralmente escolhemos apenas uma ou duas áreas para nos especializarmos. Principalmente os Nahin. A aura verde é muito vasta. Helena, por exemplo, é uma escultora impecável, consegue moldar o gelo com facilidade. Mas tem dificuldades em manipular água em estado gasoso.

Johá sorriu para si mesmo. Helena nunca tinha falado sobre isso com ele. Ela era vaidosa demais para dizer que não era boa em algo, principalmente se tivesse a ver com água.

- E você? - ele indagou, curioso. - Como você foi capaz de ser tão boa com dois elementos?

Ela parou para pensar de quando chegou no Palácio da Luz e fez seu teste de afinidade. Mal havia chegado perto da mesa o prato com fogo explodiu, enquanto o cata-vento rodou tanto a ponto de se desprender do eixo.

- Fogo sempre foi fácil pra mim. No começo ele vinha até mesmo quando eu não queria. Queimei muitos uniformes no começo do treinamento. Depois descobri que o ar também me obedecia. Na verdade, foi um acidente. Eu caí de uma plataforma durante o treinamento, teria me espatifado no chão se uma corrente de ar não tivesse amortecido minha queda.

- Puxa! Essa escola de Áureos não me parece nada fácil.

- Com certeza, não. - Ela sorriu quando falou, um sorriso amargo. - Enfim, nem eu tenho resposta para sua pergunta. Não sei como ou por que sou a única Nahin que manipula dois elementos. Os Soma de Yvrim disseram que minha personalidade centrada me permitiu ver a essência do fogo e do ar. Mas eu acho que isso tem mais a ver com esses dois elementos serem muito próximos. O fogo se alimenta do ar. Eles coexistem.

𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒂 𝑮𝒖𝒆𝒓𝒓𝒂Where stories live. Discover now