𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒂 𝑮𝒖𝒆𝒓𝒓𝒂

{54} O CÉU SE MOVE SOBRE UM SACRIFÍCIO

Barton esperou que Nayrú fosse quebrar a corrente a qualquer momento, mas ele não o fez. Parecia ter extrema dificuldade com o metal tocando sua pele, pulsando com seu poder. Então Barton percebeu de onde Lia tinha tirado aquela corrente, era o mesmo metal enfeitiçado que Kraj usara para aprisionar Dim, um artefato pensado especialmente para conter a aura branca dos Arcanos. Era isso que ela buscava entre os restos da prisão destruída.

- Que atrevimento é esse, Elenor? - ralhou Nayrú. - Solte-me!

- Eu nunca obedeci suas ordens antes, por que obedeceria agora? - Lia puxou com mais força e o braço com a lança afastou-se da cabeça de Barton. Os elos de metal mágico estalavam com a tensão.

Porém, Nayrú ainda tinha uma mão livre. Largou a lança no chão sabendo que não poderia ser usada contra ele e segurou a corrente, medindo forças com a Niffj. Seu poder enfraquecido pela magia ainda era grande, usou todo ele para fazer o ar sob os pés de Lia girar em um ciclone cada vez mais forte. Os cabelos loiros esvoaçavam em seu rosto e ela começava a deixar o chão, erguida pela força do ar.

- Solte-a! - Barton ignorou a dor que havia retornado com tudo e ficou de pé. Cravou o que restava da espada negra no ombro do Arcano, afundando-a em sua carne até o cabo.

Nayrú grunhiu de dor e o empurrou o rapaz com uma força invisível que até agora tinha usado, um po
der tão agressivo que Barton perdeu o ar dos pulmões e caiu a metros de distância, ouviu um estalo ao chocar-se contra o chão e uma dor nova viajou por seu braço, fazendo-o ver estrelas.

Nayrú voltou sua atenção à Niffj. O ar rugiu ao erguer a garota a cinco metros de altura para depois outra corrente devolvê-la ao chão com violência. O solo tremeu ao receber o corpo de Lia. Ela não soltou a corrente. Subiu novamente, dessa vez mais alto e de novo deixou-a cair. Aquilo se repetiu várias vezes, com Lia soltando gemidos cada vez mais fracos, porém, sem soltar a corrente, tinha dar tempo a Kraj. Até que seu corpo parou de se mexer sobre as pedras rachadas pelos golpes.

- Ah, Elenor, você e sua irmã sempre foram grandes tesouros. - Nayrú caminhou até ela. Arrancou o pedaço do espada do ombro e o jogou longe coberto de sangue. - O sangue da sua família é forte. Se você tivesse sido dedicada como Lara, poderia estar a meu lado no novo mundo que vou criar sobre as cinzas dessa imundice. Mas não, sua teimosia cega fez você jogar todo seu potencial fora. Por quê?

O corpo da Niffj ganhou vida novamente, dando um pulo sobre a cabeça de Nayrú e passando a corrente envolta do pescoço dele. Ela pousou atrás do Arcano, seu rosto coberto de arranhões, o lábio cortado pingando sangue em seu queixo. Com o esforço gigantesco ela deu uma última volta pelos braços do Arcano e limitou seus movimentos com a corrente.

- Você sempre falou demais - disse ela arfando de dor.

Nayrú gritava irado, debatendo-se para se desvencilhar das amarras mágicas. Lia estava sendo arrastada com ele, mas não largaria a corrente não importava o que acontecesse.

Barton ficou de pé ao ver a situação complicada. Mantinha o braço esquerdo junto ao peito, estava quebrado, inutilizado. Mesmo assim cambaleou para ajudá-la a segurar o monstro Arcano.

- Fique aí! - Lia berrou para ele, todos os músculos tensos. - Não pode tocar as correntes ou ficará ainda mais fraco.

Ele parou. Ela tinha razão, a magia das correntes tinha o efeito de enfraquecer a aura branca. Mas e quanto a Nayrú? Seu poder não tinha limites? Seria mesmo a aura dos Arcanos infinita? Talvez não pudessem vencer, afinal. Talvez o Véu tivesse cometido um erro com os yomeis.

Então a sombra negra de Kraj tomou forma diante de Nayrú. O meio-Espectro havia se livrado da camisa preta, deixando apenas o amuleto de cabeça de touro em seu pescoço com o par de olhos de pedras azuis brilhando. Os olhos de Kraj, no entanto, estavam completamente tomados pela escuridão de sua aura que vibrava pulsante com o amplificador. Barton podia sentir a energia do ambiente convergir para ele.