{26} OS TRÊS PRATOS DA BALANÇA

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Dimensão Híon
Em algum lugar da Região de Shans

- Trinca de cinco. - Allan mostrou as cartas com um gesto vitorioso. - Engole essa, mago.

Ele já ia puxando para si as peças de prata quando Johá deu sorriso arrogante e disse:

- Não tão rápido, meu amigo amante de pedras. - Enfileirou suas cartas sobre o tronco de árvore que usavam como mesa. - Quadra de um. Ganhei de novo!

O Nahin da terra deixou os ombros largos caírem enquanto assistia Johá contar as moedas e jogá-las dentro de um saco de couro. Aquele dinheiro não era de nenhum dos dois, na verdade, serviria para os custear algumas despesas que pudessem ter durante a viajem, mas isso não impedia que o apostassem entre si apenas por diversão, ainda mais para Johá que sempre vencia.

- Você deve estar trapaceando com magia - Allan acusou, como sempre fazia depois de perder a última moeda, e Johá sempre respondia do mesmo jeito:

- Até parece que eu preciso trapacear para vencer você.

Era noite. O grupo de rebeldes estava acampado na beira de uma estrada deserta, que esgueirava uma montanha. Eles rumavam para oeste, espalhando mensagens para todas as células rebeldes da região de Shans, convocando-os a se preparar para a batalha. Há um mês faziam isso e Lara, a Nahin que liderava a equipe, começava a perceber o quão enfraquecido o exército Áureo havia se tornado. Em cada vila que visitavam disfarçados de andarilhos, encontravam apenas uns poucos guerreiros ocultos entre os aldeões. Em muitas, Lara descobria com tristeza, que os rebeldes já haviam sido descobertos e mortos.

Despois do que aconteceu em Valindra, onde Cazin, um importante espião da resistência, havia sacrificado seu disfarce - e sua vida - para dar a chance para Lia fugir das garras de Shans, as coisas ficavam cada vez piores para a resistência.

O local onde estavam era alto e dali ela podia ver uma das estradas principais, sempre muito bem vigida pelos guardas do Imperador.

- Viu só, Don? É assim que se joga. Espero que esteja aprendendo - Johá vangloriava-se da vitória. - Mas é claro que jogar contra Allan deixa tudo mais fácil.

Allan reclamou novamente e o pequeno o Soma riu dos dois. O garotinho calvo era o único portador da aura amarela de que se tinha notícia em décadas. E mesmo sem o treinamento adequado, mostrava habilidade com seu dom, avisando o grupo sobre a movimentação de Espectros a quilômetros de distância. Era a pedra preciosa e frágil da equipe que deveria ser protegida a todo custo.

Enquanto Allan exigia uma revanche, Fábio o calado Niffj, sentava-se à beira da fogueira para relaxar, entalhando uma de suas esculturas em um pedaço de madeira; as lascas que sua faca tirava da peça caíam diretamente no fogo. Do outro lado do acampamento, encolhida em cobertas esticadas no chão, a Nahin da água, Helena, já dormia profundamente, com a as madeixas ruivas espalhadas pelo rosto. O ronco que ela deixava escapar cada vez que respirava, era abafado pela discussão de Allan e Johá. "Você é linda, mas, em noites frias, ronca feito um urso.", ele dizia quando ela acordava com a cara amassada.

Nessa noite em especial, Lara optara por ficar vigiando o horizonte, sem saber exatamente o que esperava. Talvez, aguardasse ver o brilho ofuscante de uma fenda que traria sua irmã de volta. No entanto havia algo mais, um pressentimento apertava-lhe o peito. E não era nada bom.

- Lara, quer jogar? - Johá chamou-a quando Allan desistiu de sua revanche. - Você joga bem melhor.

Como ela não se virou, ele saltou a fogueira e caminhou até a beira da estrada. Ficou ao lado da Nahin e chamou-a de novo:

𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒂 𝑮𝒖𝒆𝒓𝒓𝒂Where stories live. Discover now