{54} O CÉU SE MOVE SOBRE UM SACRIFÍCIO

Start from the beginning
                                    

O yomei negro caminhou até o Arcano enfurecido e o segurou pelos braços, prendeu-o como os dois pilares que aprisionavam Dim. Ele havia usado a mesma magia para drenar o poder Arcano, um processo arriscado que fazia com o máximo de cautela. Mas a situação ali era diferente, desesperadora e não havia mais nada a temer. Talvez a morte fosse o único remédio para seu coração negro. Ele concentrou todo seu poder para roubar a energia de Nayrú, sugando-a para seu amuleto. A aura branca vibrava insistentemente e o processo era doloroso, não sabia se seu corpo - ainda enfraquecido pela viajem até Shinê - aguentaria aquilo.

Ele olhou para o alto, para a abertura no céu que agora se mostrava duas vezes maior que antes. Não havia parado de aumentar mesmo com a morte de Dim e Sauly. Kraj sabia porquê.

- Barton! - chamou ele, contendo o Arcano que ainda resistia. - Ouça-me bem. O rasgo no Véu não vai parar. Somos nós que estamos causando o desequilíbrio agora. Temos que ficar longe um do outro.

O quão longe Barton sabia. Sauly tinha razão quando falou que os yomeis substituiriam os Arcanos. E eles dois teriam que obedecer as mesmas regras que seus antecedentes: não poderiam habitar a mesma dimensão.

- Se não acabarmos com isso agora seremos nós a terminar o que Nayrú começou - Kraj continuou. - Espero que saiba usar suas habilidades Soma.

Nayrú gargalhou, sua aura descontrolada buscando liberdade.

- Nunca permitirei que saiam daqui com vida, nem que para isso eu tenha que despedaçar o Véu inteiro. Não vão fugir!

- Não vou fugir. - Kraj o encarou no fundo dos olhos. Ergueu um dos braços, fazendo um gesto com a mão. Nayrú não entendeu, mas pela primeira vez em sua longa existência, sentiu medo.

- Erik, o que vai fazer? - Lia indagou, desesperada.

- Ao meu sinal quero que jogue a corrente para o alto - pediu ele. - Eu sinto muito, Liana. - Seu tom de voz ficou mais suave. - Depois de tudo o que fiz, das vidas que destruí, eu fico feliz que termine aqui. Eu estou cansado de mortes, quem sabe a minha corte esse ciclo eterno de guerra e destruição.

- Erik... - Ela deu um passo a frente, mas Nayrú ainda se debatia para fugir. Se largasse a corrente ele mataria Kraj, depois mataria Barton e não pararia até que Híon se desmanchasse com seu poder.

- É o único jeito, Liana. Me desculpe. Sei o que está pensando, poderia ser diferente. Eu gostaria de ter tido uma segunda chance.

Ele pedia desculpas não apenas pelo momento, mas pelo passado, pelo o que fez Lia passar e por todas as escolhas erradas que fizera. Sacrificara muito por seus ideais e acabou por enterrar a honra que seu pai tinha lhe ensinado a ter. Era hora de recuperá-la.

Umbra surgiu atrás de uma das torres negras, gritando em resposta ao sinal de chamado de seu mestre. As garras poderosas e afiadas já tinham um alvo. A quimera mergulhou do céu para a esplanada.

- Está ouvindo? - indagou Kraj. - A divindade do Véu está chamando seu último filho para voltar para sua origem. Vou ajudar você a chegar lá. - Nayrú arregalou os olhos quando finalmente entendeu qual era intenção do yomei. Começou a se debater com mais força, era tarde, seu poder estava muito enfraquecido. - Liana, agora!

Lia hesitou apenas por um segundo. Um segundo em que olhou além dos olhos escuros de Kraj e viu o Erik que amou um dia. Mas não tiraria aquele momento dele. Não recusaria a escolha que ele fez para se redimir. Ergueu os braços e lançou a corrente com toda força acima da cabeça.

Umbra passou em uma rasante e apanhou a corrente entre suas patas dianteiras, sem dar tempo de afrouxar o laço que prendia Nayrú. Kraj se agarrou ao Arcano, sabia que só teria uma chance e não deixaria que escapasse.

𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒂 𝑮𝒖𝒆𝒓𝒓𝒂Where stories live. Discover now