{15} REI CONDENADO

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- As lendas contam que você usou magias poderosas para mergulhar fundo no Mundo dos Espíritos para beijar o rosto da divindade do Véu e conseguir parte de seu poder ilimitado.

Kraj se sentia um pouco ridículo por estar falando de mitos infantis com tanta seriedade. Não sabia ao certo se a divindade do Véu ainda existia ou se sequer existiu algum dia. Seria Menael um prova bizarra de que tal entidade ainda era, de fato, real?

- As lendas têm várias versões, em vários lugares. - O rei apoiou seu machado de guerra no chão entre seus pés e descansou o peso do corpo sobre ele. - Entretanto, nenhuma delas se aproxima da minha realidade horrível. Sim, eu usei magia e viajei fundo na morada dos espíritos. Mas, em vez de encontrar a deusa branca, deparei-me com algo maligno e tão antigo quanto ela. Um besta feita de escuridão densa que exalava morte. Uma criatura abissal aprisionada como eu estou agora.

"Ele me ofereceu o poder que tanto ansiava e mais: me prometeu que todas dimensões seriam minhas se eu fosse seu servo. Inebriado pelo poder diante de mim, eu aceitei. Voltei para o a guerra derrotei meus inimigos com brutalidade nunca vista antes. Eu era imortal."

Menael ergueu os braços largos, deixando visíveis as marcas por todo seu corpo. Agora Kraj podia ver claramente que era cicatrizes feitas por algo afiado... Como uma garra. Ele conhecia o resto da história. Todos conheciam. Deixou que o Rei Condenado terminasse de falar.

- Quando o Arcano de Yvrim soube da minha transgressão, moveu suas tropas para aniquilar meus exércitos, mas nem mesmo os Áureos puderam tirar minha vida. Então o próprio Nayrú desceu de seu palácio de luz para me castigar. Ele evocou seus dois irmãos em mundos distantes para se unirem em minha punição. Para nunca mais ler magia novamente, fui vendado pelo tecido mágico feito pelas mãos de Sauly. - Ele tocou a venda dourada que lhe cobria os olhos. - Dim me lançou nessas profundezas sem vida e Nayrú forjou correntes inquebráveis para me prender ao o trono que tanto protegi. Foi decretado que eu passaria a eternidade guardando a entrada para prisão da besta abissal, para que nenhum outro mortal, Áureo ou Espectro cometesse o mesmo erro de ouvir as promessas do mal vivo.

As correntes de Nayrú, o fosso de Dim e a venda de ouro de Sauly. Artefatos que Kraj só tinha visto em livros infantis e histórias de fantasia. Mas que agora estavam bem diante de seus olhos. Menael, o Rei Condenado. Sua imortalidade, usada como punição eterna. Se era tudo verdade mesmo, então o túnel que ele guardava levaria para a camada onde uma das feras abissais fora presa pelos Arcanos antes das dimensões se dividirem. Essas, sim, Kraj não ousava duvidar da existência. Não há portador de aura que desconheça a destruição que as três bestas antigas espalharam pelo cosmo.

Mesmo com tudo isso Kraj não retrocederia. Seu amuleto indicava aquele caminho como a única passagem para atravessar o Mundo Não Físico, e com ou sem criaturas antigas, ele completaria a viajem.

- Não me interessa o poder - ele garantiu ao rei. - Quero apenas ir além do mundo dos espíritos. Chegar a terceira dimensão.

- A terceira dimensão está selada há muito tempo. Nem mesmo os irmãos de Sauly podem alcançá-la. E com certeza você não a alcançará, pois eu não deixarei que passe.

Dessa vez foi Menael quem atacou, brandindo seu poderoso machado com as duas mãos. Kraj abaixou-se e deixou a lâmina enferrujada da arma passar a centímetros de sua cabeça. Contra-atacou com Mahiban, mirando a perna do condenado. Foi surpreendido com a pegada forte da mão marcada de Menael, que apertou forte seu braço e o lançou sobre ele. Kraj caiu de costas no chão rochoso a metros de distância. Ele era forte.
O yomei levantou-se com um salto, momentos antes da corrente mágica atingir o local onde ele estivera caído. Menael a havia usado como um chicote de aço. Os elos metálicos, Kraj percebeu, sumiam e desapareciam no ar como se não tivessem fim ou começo, tilintando alto.

𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑺𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒂 𝑮𝒖𝒆𝒓𝒓𝒂Where stories live. Discover now