Minha irmã Coral segurou a minha mão enquanto todos nós da família Parker caminhávamos em direção ao quarto da vovó. Somos em 9, então fazemos volume pelos corredores do hospital pequeno e simples, tudo que nosso pouco dinheiro e condição financeira puderam cobrir.

Minha mãe já não chora mais e parece se preparar para entrar no quarto e olhar pelos últimos minutos a mulher que lhe deu à luz.

Astrid Parker sempre foi uma mulher muito durona no meu ponto de vista, nunca a vi chorar antes, sempre seria e às vezes mal humorada, mas tentamos todos entender, mãe de 7 filhos e dona de casa, deve ser uma carga de pressão alta, então quando há broncas, todos conseguem entender ao invés de apenas a chamar de "péssima mãe".

Não podemos negar que ela se esforçar, mesmo não sendo muito carinhosa, mãe é mãe e eu a amo, assim como todos os meus irmãos.

Suspirando por uma última vez, mamãe abriu a porta do quarto e passou por ele, sendo seguida por meu pai, me apressei para entrar logo após dele, puxando a Coral pela minha mão e sendo seguida pelos outros.

O quarto branco e super iluminado deixa o clima pior do que poderia estar, e a vovó no centro dele em uma cama, faz meu coração se apertar como se fosse sair do meu peito.

Nunca se sabe o que dizer em um momento como esse, o luto já está em todos nós e ela nem ao menos se foi ainda, mas sabemos que irá em breve. Ao mesmo tempo que não queremos parecer triste e a deixar triste, não podemos controlar esse sentimento, ainda mais os pequenos que pouco conseguem entender sobre isso.

— Oi. — Minha avó disse com a voz fraca e dei um meio sorriso para ela, enquanto aceno com a mão de leve. Da para ver o quanto Dona Ursula está debilitad pela fase final da doença, mas tento não me abalar com isso.

— Como você está mãe? — Astrid perguntou parando do lado direito dela que assentiu, enquanto dava uma risada leve.

— Estou bem Astrid, com câncer mas em paz, não precisa se preocupar, se é que se preocupa. — Soltou sem nenhum filtro, fazendo meu queixo cair um pouco, mas logo fechei minha boca quando papai nos olhos brevemente, querendo diminuir nossas reações espantosas.

— Mamãe, eu me preocupo, cuidei de você esses anos todos é claro que me preocupo! — Exclamou se sentindo ofendida e vovó mexeu a cabeça lentamente para olhá-la.

— Porque sou sua mãe, assim como cuida dos seus filhos apenas porque são seus, caso ao contrario não faria. — Mesmo fraca, disse a frase com perfeita clareza. — Aliás, você dizia querer ser médica mas não tem paciência nem com os seus, talvez seja pela dinheiro fácil. Ah... como você amava dinheiro fácil....

Ninguém se mexeu, nenhum som foi feito, mesmo que a vovó já tenha feito comentários desses algumas vezes, bastava um olhar sério da mamãe e ela logo dizia ser brincadeira. Apesar de a vovó ser sempre uma mulher bem humorada, não acho que esteja brincando agora.

— Me surpreende continuar casada com o Oliver, um homem tão bom, honesto e trabalhador, mas jamais pode te da a vida que quis, por isso sempre foi tão, ranzinza. — Acrescentou calmamente como uma confissão, olhei para a mamãe que estava seria e com o semblante fechado em uma cara de poucos amigos.

A vovó está pegando pesado, ou apenas sendo sincera?

— A doença está te deixando louca é? — Mamãe disparou sem pudor e meu pai deu um passo para perto dela. — Sempre arranjou um jeito de me atacar, mas agora eu não fiz nada! — Aumentou a voz e papai colocou a mão em seu ombro, tentando evitar uma discussão.

Mamãe e vovó sempre discutiram, nunca de fato eu soube o motivo, mas era a mesma coisa a cada vez, vovó falava, mãe se irritava e as duas fingiam que nada havia acontecido quando nos aproximávamos.

The FamilyWhere stories live. Discover now