Capítulo 56

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Deito-me encolhida e fico revivendo cada momento dessa noite. Toco meus lábios quando lembro que deixei Conrado me beijar.

O que foi que deu em mim?

Eu não sou assim. Não sou traíra. Não sou o tipo de garota que gosta de brincar com o sentimento alheio. E o Dom... Ele não merecia isso. Preciso concertar as coisas. Preciso reparar meu erro e o único jeito de fazer isso é contando pra ele que beijei outro, mesmo sabendo que com isso posso perdê-lo para sempre.

Abraço o travesseiro. Viro para um lado, viro para o outro. Fico de barriga pra cima. Fito o teto. Estou inquieta, sem conseguir dormir.

Rubi está no quarto ao lado. Ela não veio mais aqui depois que disse pra eu ficar longe do Conrado. Ela tem razão quando diz que ele já sofreu muito na vida, pois ver a mãe ser assassinada bem na sua frente não é pra qualquer um. Eu não sei o que faria se visse algo do tipo acontecer com a minha.

***

Sinto o cheiro de panquecas sendo preparadas daqui de cima.

Termino de me arrumar, pego minha bolsa com as coisas da escola e desço.

Mamãe está a beira do fogão fazendo panquecas.

Fito-a curiosa porque sempre que ela faz panquecas é para comemorar alguma coisa.

—Bom dia! –desejo.

Rubi está sentada encolhida em uma cadeira comendo e vira o rosto para o outro lado quando me vê.

Ignorando-a, deixo a bolsa no encosto da cadeira e vou até minha mãe.

—Panquecas é? –pergunto quando abraço-a. —Estamos comemorando algo?

Ela sorri e implanta um beijo terno em minha testa.

—Depois de tanto tempo, ontem conseguimos a primeira pista concreta sobre o lobo-cão.

Lhe envio um olhar de espanto.

—Oh! É mesmo? Que bom, mãe.

Ela abre um largo sorriso e manda eu sentar que vai servir o café.

Puxo uma cadeira e sento.

Rubi termina seu café e vai embora sem falar comigo. Ela não está arrumada pra ir à escola.
Fico me perguntando se realmente ela estuda porque foram poucas às vezes em que a vi por lá.

—Aconteceu alguma coisa?– mamãe pergunta. Vendo que Rubi saiu sem falar comigo.

—Ah, não. Não foi nada demais. –respondo pegando uma xícara de porcelana com detalhes indianos. Coloco café com leite dentro e bebo um gole.

—Hum, sei.

As panquecas com calda de chocolate estão uma delícia e repito o café da manhã duas vezes.

—Então, vai me contar que pista é essa que lhe deixou tão animada a ponto de fazer panquecas? –engulo um último pedaço.

Mamãe pousa a xícara no pires e levanta a cabeça. Sua expressão ainda é de quem está muito cansada, mas vejo um certo brilho em seu olhar.

—Lembra do primeiro dia que viemos aqui? –ela pergunta.

Assinto.

—Pois naquele dia estava acontecendo um festival de música em Wellows Falls, a cidade vizinha de Havenwood Falls.

Então foi por isso que quando cheguei no centro da cidade ela estava quase deserta. E eu fiquei me perguntando onde estavam os habitantes desse lugar.

Lua Negra (Editando)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora