A Primeira Vista

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Depois de fazer um pequeno tour pelo centro e tirar algumas fotos, vou procurar um lugar para lanchar.

Deixo a caminhonete prata estacionada ao lado da Igreja e atravesso a rua, subindo o zíper do meu casaco vermelho com capuz até na altura dos seios. A tarde esfriou muito com pesadas nuvens escuras se formando sobre a cidade; Parece que vem vindo um temporal por aí.
Sigo em direção a um bar chamado "Diana's Bar & Grill;" Um estabelecimento de tijolos amarelos com uma placa simples em forma de guitarra, piscando acima da entrada. Nesta cidade, a maioria de suas construções são antigas.

Hesito com a mão na maçaneta, cogitando se devo mesmo comer aí ou ir procurar um outro lugar. Minha mãe, com certeza, vai ter um ataque se descobrir que entrei num bar, mas por outro lado, ela só vai saber se eu contar, então...

Um pequeno sino balança acima da minha cabeça quando empurro a porta e entro. Alguns pares de olhos curiosos se voltam em minha direção enquanto sigo serpenteando por entre as mesas, a maioria delas ocupadas por duas ou três pessoas.
Dois Senhores de meia idade param de jogar sinuca e ficam olhando para mim como se eu fosse uma aparição, mas assim que viro as costas ouço o barulho das bolas voltando a se chocar quando eles retornam ao jogo.

Minha mãe é superprotetora e controladora. Portanto, nunca entrei em um bar antes. Não sei que gosto tem cerveja e nunca fui a uma balada, apesar de Sacramento ser cheia de casas noturnas, algumas delas sem restrições de idade. Por isso, resolvi contrariar uma de suas ordens principais e entrar nesse aqui só para ver como é por dentro. É quase patético que uma garota de 17 anos, como eu, não conheça o interior de um bar pessoalmente, mas essa é a minha realidade. Sou privada pela minha mãe de fazer tudo o que uma garota da minha idade faz.

Jess me apelidou de puritana nerd por eu nunca ter beijado, e só fazer estudar. Ela diz que 17 anos é a idade de descobrir e experimentar coisas novas, de errar e acertar, de quebrar a cara e seguir em frente, porque só se é jovem uma vez e é nosso dever aproveitar o máximo antes da vida adulta chegar e estragar tudo.

Sento numa banqueta de madeira, coloco minha câmera sobre o balcão polido e fico esperando alguém vir me atender.

O lugar é limpinho, organizado e tem um cheiro agradável, ao contrário do que minha mãe sempre diz: que todo bar é sujo, fedorento e uma fábrica de doenças imagináveis.
Mas, esse é diferente. Cada espaço é bem aproveitado com duas mesas de sinuca, um pequeno palco, um jukebox, uma TV de led. Luminárias verdes pendem do teto, lançando uma luz esverdeada sobre cada uma das mesas quadradas com cadeiras de mogno. As paredes são cobertas de cartazes de propagandas de marcas de cerveja, cigarros, bandas de rock e um quadro de avisos que diz: "Música ao vivo aos sábados e domingos. Competição de Karaokê às quarta-feiras."

Depois de incontáveis minutos esperando, foi que vi uma campainha presa a parede do meu lado esquerdo com a palavra "aperte" escrita embaixo.

-Nossa, como sou lesada. -apoio o dedo no botãozinho e aperto. Em menos de minutos, uma mulher que parece ter uns 40 anos de idade, sai de detrás de uma porta com um círculo de vidro no centro, enxugando as mãos com um pano de prato.

-Sim, querida? -para diante de mim com um sorriso caloroso, formando pequenas linhas de expressão nos cantos dos olhos castanhos.

-Eu gostaria de saber o que tem para comer aqui.

-Só um minuto. -ela se vira, abre uma gaveta, tira um cardápio bem gasto de dentro e me entrega.

Agradeço e volto minha atenção inteiramente para a lista de opções nas minhas mãos com meu estômago quase urrando de fome, quando sinto seus olhos inquietos grudados em mim.

Lua Negra (Editando)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora