Capítulo 52

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O domingo passa se arrastando, mas finalmente a noite chega. Estou sentada no sofá com as pernas cruzadas comendo sorvete no potinho, assistindo a um programa na TV enquanto espero dar a hora de ir me arrumar. Zoe me enviou uma mensagem me convidando pra ir assistir o novo filme da mulher maravilha que estréia hoje no cinema de Havenwood Falls, e é claro que eu aceitei.

Não falei mais com o Dom desde ontem. Não liguei e nem enviei mensagens. Ele se quiser que ligue, ainda estou muito brava pela maneira como me tratou e não sou eu quem vai dar o primeiro passo.

Mamãe senta no sofá a minha frente esfregando as têmporas, parecendo exausta.

Desço as pernas do sofá, coloco o pote em cima da mesinha de centro e vou até ela.

-Mãe, o que foi? -pergunto, ficando de joelhos, apoiando os braços e o queixo nas pernas dela.

Ela afaga minha cabeça, passando os dedos em meu cabelo.

Suspira.

-A verdade é que não sei mais o que fazer, meu amor. A impressão que tenho é que estou andando em círculos.

-A quê a senhora está se referindo?

Ela fecha os olhos.

-Ao lobo-cão. -responde voltando a me encarar. -Ele parece uma sombra pairando sobre nós. A Lua Negra investigou a vida de todas as pessoas que vieram morar nessa cidade desde o final do ano passado até hoje e não tem nada de errado ou de suspeito com elas. Somos os melhores caçadores de bestas que existe no mundo, mas o lobo-cão está nos dando muito trabalho. Já vasculhamos todas as cavernas, casas abandonadas, a floresta de uma ponta a outra e nada. É como se ele não existisse.

É de cortar o coração vê minha mãe se sentindo tão derrotada desse jeito, mas não posso contar que o lobo-cão se comunica comigo. Ele ameaçou a Zoe e não posso deixar que aconteça nenhum mal a ela.

Meus olhos ficam marejados e tento disfarçar desviando o olhar.

-E você, mocinha, não tem um filme pra ir assistir? -ela muda de assunto.

Assinto.

-Mas acho que vou desmarcar com a Zoe, quero ficar com você.

Mamãe põe uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.

-Não vai desmarcar nada. Sei que não quer mais ir, achando que vou ficar sozinha, mas não vou. Daqui a pouco Dante e o meu outro primo Charlie estão chegando para revisarmos os detalhes da nossa última caçada e ver onde nós erramos e o que deixamos passar.

-Obrigada. -Agradeço-lhe.

-Pelo o quê?

-Por ser essa mãe incrível que é.

Acaricio sua mão, beijando o nó do seus dedos. Olho pra suas unhas e lembro de quando elas rasgaram a manga do meu moletom.

-Mãe, essas suas unhas são tão estranhas. -comento, observando-as.

Ela baixa a cabeça, acompanhando meu olhar.

-É que são unhas postiças feitas de prata. São muito úteis em um combate contra um lobo, lobisomem ou lobo-cão.

-Humm. Adorei, posso usar também?

Ela fica pensativa.

-Não, só caçadores é que podem usar e no que depender de mim, você não vai ser uma caçadora. O acordo que fiz com a Lua Negra ainda está de pé. Assim que pegarmos o lobo-cão, você e eu vamos embora daqui e você terá uma vida bem diferente dessa aqui.

Lua Negra (Editando)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora