Capítulo 34

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O ginásio poliesportivo onde são realizadas as atividades físicas dos alunos está todo decorado com arranjos de flores margaridas, as preferidas da Tamara.

Três fileiras de bancos de madeira estão postos no centro em frente a um pequeno palco montado. No palco tem uma pequena bancada, também de madeira, com um microfone em cima e de um lado um cavalete, igual ao que se usa nas aulas de desenho de modelo vivo nas escolas de arte, com um quadro coberto por um pano de seda dourado, e do outro mais arranjos de flores margaridas dentro de jarros de cristais.

Aproveito enquanto minha mãe se afasta para ir falar com alguns conhecidos e inspeciono o lugar minuciosamente pra ver se não tem uma bomba escondida em algum canto, por que em se tratando do lobo-cão posso esperar de tudo.

Caminho sorrateiramente olhando ao redor e embaixo das arquibancadas. Não encontro nada e então retorno pro mesmo lugar.

—Tá procurando alguma coisa? –mamãe pergunta quando volta.

Faço que não com a cabeça e ela enlaça o braço no meu e me conduz até uma ruiva muito elegante, vestindo um tailleur preto.

—Verônica. –ela chama quando nos aproximamos.

A mulher se vira para nós e o meu queixo cai. Ela só pode ser a mãe da Tamara, pois é a copia fiel dela.

Tem o mesmo corte de cabelo; em camadas abaixo dos ombros. O mesmo formato de rosto; comprido. O mesmo nariz; pequeno e afinado. A mesma cor dos olhos; avelã.

—Rose! –ela exclama ao ver minha mãe. As duas se abraçam e ambas começam a chorar.

Fico imóvel fitando-as sem saber o que fazer. Tá na cara que elas foram grande amigas antes da minha mãe ir embora pra capital comigo. Só não entendo por que minha mãe não manteve contato com ela depois disso.

As duas se afastam enxugando as lágrimas que molharam seus rostos e mamãe nos apresenta. A mulher sorri e me puxa para um abraço apertado, beija o topo da minha cabeça e me elogia dizendo que me tornei uma linda jovem. Fico me perguntando se ela sabe que fui eu que mandei a filha dela pro hospital. Talvez saiba. É que quando se está diante de uma grande perda, o que ficou para trás se torna pequeno.

***
Pouco a pouco o ginásio vai ficando lotado de pais, alunos, professores.

Mamãe e eu sentamos nos bancos da segunda fileira.

O memorial começa com o xerife lamentando a morte da Tamara e concluindo que a partir de segunda feira vai começar a interrogar todos os estudantes da escola.

O xerife Gibson é um homem alto, corpulento e totalmente careca. Está usando um uniforme cinza com alguns detalhes pretos.

Dante, Conrado, e Ruby se juntam a nós. Desde do que aconteceu ontem Conrado ainda não veio me pedir desculpas. Lanço um olhar afiado na direção dele, mas ele me ignora.
Ruby senta ao meu lado e aperta minha mão, seu semblante é triste, aperto seus dedos dando um meio sorriso.

No palco estão todos os professores, o diretor Cooper, o prefeito com a primeira dama, e um rapaz que não sei quem, mas que não para de olhar pra cá.

O xerife termina o pequeno discurso dizendo que o assassinato da Tamara não ficará impune e que não vai descansar até pegar seu assassino.

Me inclino para o lado e cochicho no ouvido da Ruby.

—Quem é aquele? –a ponto com o queixo.

Ela segue meu olhar.

—É o Trent, irmão mais velho da Tamara. Ele cursa engenharia eletrônica em uma faculdade em Boston.

—Humm. –murmuro.

Ele tem o cabelo castanho igual ao do prefeito e os olhos cor de avelã, iguais os da Verônica. Usa um blazer preto com uma calça cáqui marrom e uma camisa branca. Ele está abatido como todo o resto da família.

O prefeito se posiciona em frente a bancada. Pigarreia, respira fundo e então começa a falar da filha. Dá pra perceber que faz um grande esforço para não chorar. Sua expressão é rígida e seus grande olhos azuis varrem o ginásio como se isso pudesse identificar o assassino.

Enquanto ele fala um silêncio paira no ar. Todos estão ouvindo-o com muita atenção e com muita emoção também.

Discretamente dou uma olhada ao redor. Atrás sentadas nas arquibancada vejo Samantha e Hannah. Depois Toby com a Diana.

Lucy está sentada na nossa frente com o Lucca e uma mulher morena de cabelos negros, que suponho que seja a mãe dela.

Todas as arquibancadas estão lotadas e muitas pessoas estão em pé escoradas nas paredes do ginásio. Parece que toda cidade veio ao memorial.

Na media que o tempo vai passando, mais tensa eu vou ficando. O lobo-cão disse que era pra eu vir que tinha uma surpresa pra mim, mas até agora nada. O que será que ele vai fazer? Seguro meu pendante com força em meu pescoço.

Pelo canto esquerdo do meu olho vejo uma pequena movimentação. Giro a cabeça para o lado e meus olhos cruzam com o Dominic e outros mais 5 caras que chegam com ele, entre eles está o Noah, o cara que a Ruby gosta. Sinto uma fisgada no coração. E ao vê-lo agora, tenho a certeza de que o amo e que preciso dele como um coração precisa bater para manter uma pessoa viva.

Dominic fixa o olhar no meu. E me lembro dos nossos breves momentos juntos. Dele me beijando de surpresa no estacionamento da escola, depois de me tirar de cima da Tamara. Nós comendo no alto do penhasco que ser ergue sobre a cidade. Dos nossos beijos quentes e doce.
Sei que parece egoísmo meu pensar nisso no memorial de uma pessoa que acabou de morrer, mas não posso tirar esse sentimento de dentro de mim.

Com semblante impassível, ele desviar o olhar, cruza os braços sobre o tórax e fica olhando pra frente. Uma lágrima escorre do meu olho e eu a limpo rapidamente para que minha mãe não note.

—É com esse sorriso que eu quero que vocês lembrem da minha filha. –o prefeito diz e então puxa o pano de seda que está sobre o quadro com intensão de revelar a foto da Tamara, mas a foto não é a da ruiva e sim a do cara que o lobo-cão mandou que eu roubasse os documentos dele da escola, alguns dias atrás.

—Mas que palhaçada essa? –o prefeito vocifera. —Quem é esse e cadê a foto da minha filha?

Um burburinho começa no ginásio.

Mamãe fica branca feito papel e encara a foto de olhos arregalados. Seus lábios tremem, assim como suas mãos.

Ela troca olhares com a mãe da Tamara, como se as duas compartilhassem algum segredo.

—Mãe, você conhece ele?

Ela balança a cabeça freneticamente de olhos fechados como se quisesse acordar de um terrível pesadelo e em seguida se levanta e sai apressada esbarrando nas pessoas.

—Mãe! –chamo-a.

Uma mão pousa em meu ombro.

—Fique calma, eu vou falar com ela. –o Dante diz calmamente e vai atrás dela.

A supresa que lobo-cão fez não era pra mim e sim para minha mãe. É ela a quem ele quer atingir. Mas a pergunta é por quê?

Continua!!!
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Lua Negra (Editando)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora