Capítulo 18

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Esse não é bem o legado de família que uma pessoa normal poderia querer, mas fazer o quê, família é família em qualquer circunstância.

De barriga cheia, ponho a bandeja para o lado e observo minha mãe. Ela está um pouco agitada, fica andando pelo quarto sem me olhar direito nos olhos.

-Mãe?

Ela se vira segurando um peso de papel em formato de coração com uma flecha.

-Oi?

Seu semblante parece exausto e seus olhos ansiosos.

-Se tudo que está escrito nesse livro é verdade, então acho que temos muito o que conversar.

Ela assente e se senta na ponta da cama.

Sei que tenho que ter cautela em minhas perguntas, não quero estressa-la. Agora que sei o pôr quê da minha mãe ter me deixado longe de Havenwood Falls todos esses anos.

Me sento ao seu lado segurando suas mãos. Ela dá um sorriso triste e seus olhos ficam marejados. Não entendo essa tristeza no fundo de seus olhos. Parece que alguma desgraça aconteceu em sua vida.

-Mãe, sabe que para eu entender tudo isso. -aponto para o livro. -tenho que lhe fazer algumas perguntas, não sabe?

Ela enxuga uma lágrima que escorre em seu rosto.

-Passei tantos anos tentando evitar esse momento, mas lá no fundo eu sabia que esse dia ia chegar.

Beijo a ponta de seus dedos quando sinto suas mãos trêmulas.

Penso por onde começar. São tantas coisas que minha cabeça parece que vai dar um nó.

Lembro do primeiro dia que viemos para essa cidade, quando minha mãe veio pra falar com o advogado.
Ondas de arrepios tomam conta do meu corpo quando me recordo do grito da garota sendo assassinada. Estremeço.

-Você tá bem? -mamãe pergunta, levemente preocupada.

Levanto a cabeça.

-Sim.

Endireito a postura e cruzo as pernas. Encaro mamãe
nos olhos estudando-a. Não quero que minta para mim de novo, não quero que me esconda nada, nem que seja para a minha proteção.

Minha mãe limpa a garganta e diz:

-Pode perguntar o que quiser, querida... É um direto seu saber tudo sobre a sua família.

Me inclino para o lado, pego o livro e o coloco nas minhas pernas.

-Aquela garota... A que foi assassinada aqui dentro da propriedade... Foi um lobo-cão que fez aquilo com ela, não foi?

"Por favor, não minta pra mim.. Não minta pra mim."-Digo mentalmente.

Ela suspira prendendo uma mecha do seu cabelo loiro atrás da orelha.
Não canso de admirar a beleza da mulher que me trouxe ao mundo.
Ela tem um rosto tão belo, tão perfeito que não é de se admirar que meu pai a tenha amado desde a primeira vez em que a viu.
Mamãe tem quase 40 anos, mas parece dez anos mais nova.

Lua Negra (Editando)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora