Capítulo 39

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A porta da frente abre. E eu me levanto do sofá num pulo com o coração martelando em meus ouvidos. Minha mãe entra carregando dois cafés e uma caixa com meia dúzia de rosquinhas dentro.

-Passou a madrugada aqui? -ela pergunta ao me ver.

Apanho meu cobertor do chão.

-Quando você saiu, eu não consegui mais dormir, então vim assistir televisão.

-Hum. -mamãe sorri. -Vá escovar os dentes e trocar de roupas para tomarmos café juntas. -balança a caixa. -eu trouxe rosquinhas do Rufus's.

Observo-a ir em direção a cozinha toda despreocupada.

É sério isso? Será que ela está zen mesmo ou é só fingimento?

***
O café está fumegante quando retiro a tampa. Esfrio um pouco e bebo um gole, me sentando a mesa.

-Como foi a caçada? -pergunto pegando uma rosquinha. Dou uma mordida e.... Hummm... Rosquinhas com chocolate são as minhas preferidas... Aliás, tudo que tem chocolate se torna automaticamente preferido por mim.

Mamãe cruza as pernas com ar decepcionado.

-Um fracasso. Esse lobo-cão é muito inteligente. Sabe cobrir os seus rastros perfeitamente.

Engulo o pedaço da rosquinha.

-É claro que é, afinal ele também tem sangue de caçador correndo em suas veias.

Ela suspira.

-Com certeza esse deve ser o grande problema. Ele pensa e age como nós porque sabe exatamente o que faríamos em uma caçada.

Terminamos o nosso café em silêncio. Minha língua coça para fazer a pergunta que tanto quero fazer, mas deixo pra lá, pois não quero que ela fique triste novamente e comece a chorar.

-Vou terminar os esboços da próxima coleção de jóias. -ela levanta, beija minha testa e sai da cozinha.

Junto tudo. Jogo os copos vazios no lixo e guardo o restante das rosquinhas no armário.

Fico pensando no que vou fazer no meu tempo livre, já que não tenho aulas.

Se Tamara não tivesse sido assassinada, hoje eu estaria entregando meu trabalho de literatura.

***
Ponho meu casaco vermelho, subo o capuz sobre a cabeça e saio para fotografar. Tá fazendo um dia lindo de sol e faz muito tempo que não fotografo.

Entro no floresta procurando caminhar mais entre as clareiras porque tem lugares que são muito escuros para se tirar uma boa foto.

A minha primeira foto é de alguns raios de sol que atravessam as brechas das árvores formando um lindo jogo de luz. É interessante como as coisas simples são as mais belas, só basta a gente prestar atenção nos pequenos detalhes que a mágica acontece.

A segunda é uma nuvem de borboletas enormes voando para cima. Não sabia que aqui tinha delas. Elas são muito raras e só aparecem uma vez no ano. Que sorte a minha poder registrar esse momento.

Quanto mais tiro fotos mais me embrenho na floresta. Tô me sentindo como uma criança em um Parque de diversão. Me deparo com cada coisa linda.

Dou com uma ponte de madeira que cruza o rio. Penduro a alça da câmera no meu pescoço e descanso por alguns minutos observando a água correr por baixo.

Ouço uma voz.

-Essa caça é minha!

Cruzo a ponte indo para o outro lado do rio.

Caminho por pequena estrada de cascalho e me deparo com dois lobos. Um é menor, tem o pêlo cinza- claro. O outro é maior e tem a pelagem cinza-escuro. Eles estão discutindo por um veado morto no chão.

Me escondo atrás de um arbusto antes que eles me vejam.

-Não é não, seu pirralho!. -o maior esbraveja.

-Mas fui eu que o matei! -rebate o menor.

Os dois andam em círculos ao redor do animal morto, rosnando um para o outro.

Posso ouvir suas vozes na minha mente perfeitamente. E também posso sentir suas emoções e o de pêlo cinza-claro está falando a verdade. Foi ele que caçou e matou o veado para se alimentar.

-Mas você vai dá ele pra mim, se não quiser que eu te jogue dentro do rio de novo. -zomba o mais velho.

Tenho vontade de ir lá e dá uma surra nele.

-Ora, ora... O temos aqui.

Um bafo quente toca a minha nuca. Fico em pé e me viro lentamente. Uma loba branca com preto me encara. Seguro a câmera contra o meu peito, paralisada, pois ela está a poucos centímetros de mim.

-Ei, meninos! Olha o que eu achei escondida atrás dos arbustos.

Os lobos deixam de lado a presa e vêm ao encontro da loba. Agora os três ficam olhando para mim como se eu é que fosse a estranha aqui.

Tento me afastar para trás, mas não adianta. Estou encurralada.

-Uma caçadora aqui, no nosso território...? - berra o mais velho.

Tenho vontade de me encolher.

Abro a boca pra dizer que não estou aqui pra caçar nada, apenas para tirar algumas fotos, mas antes que as palavras saiam sou interrompida pela loba.

-O que acha que devemos fazer com ela? Afinal foi ela que invadiu o nosso território.

-Vamos jogá-la no rio. -propõe o lobo valentão.

A loba dá risada.

-Jogá-la no rio? -questiona o mais novo. -Mas isso vai matá-la. O rio é traiçoeiro e é cheio de pequenos redemoinhos de água que vão arrasta-la para o fundo.

O lobo raivoso se vira para ele.

-Essa é a intensão, seu idiota. Já que não podemos matá-la com as nossas próprias presas por causa do tal acordo de paz...

-Eu não quero fazer parte disso. -diz o mais novo se virando. Ele sai correndo deixando para trás o veado morto.

Olho ao redor procurando se há alguma possibilidade
de eu sair dessa com vida, mas a verdade é que eles são dois, são mais rápidos e mais fortes do que eu, apesar de eu ter o faro e a força dos lobos, não posso lutar contra eles, então minhas chances são nulas.

-Sabe que ele foi avisar lá na colônia, não sabe? -indaga a loba.

-Sei, e por isso temos pouco tempo.

Os dois me fazem voltar para a ponte e quando chegamos mandam que eu pule no rio. A correnteza é forte. Aperto a alça da minha câmera. Tento argumentar para fazê-los mudar de ideia, mas não tem jeito e acabo me jogando.

Continua amanhã!
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Lua Negra (Editando)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora