Capítulo 43

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-Hã..?

Samantha toca o piercing da sobrancelha fingindo não entender o que eu disse.

Encaro-a balançando a cabeça negativamente.

Como não notei antes que ela estava usando o mesmo par de botas? Acho que por que eu tava tão atordoada com a maneira que meus colegas estavam me tratando essa manhã que nem me dei conta.

Ela segura um frasco branco de remédio pra anemia aberto e é dele que vem o cheiro que senti no quarto em que Tamara foi morta. O cheiro forte e acre que senti não era tinta de caneta era de Folifer, um remédio pra quem tem anemia em alto grau.

-Por quê? -pergunto com a voz embargada. -Por que matou Tamara e ainda por cima deixou que todos pensassem que fui eu!

Samantha mantém a expressão neutra. É uma boa atriz.

Ela se vira para o espelho e arruma o cabelo. Os fios bem pretos fazem um belo contraste contra algumas mechas azuis.

-Não faço a mínima idéia do que você tá falando. -diz sem me olhar nos olhos.

Sinto raiva.

Ponho as mãos em seus ombros, e viro-a de frente pra mim.

-Para de fingir, garota! Eu já sei que foi você.

Ela ri com escárnio e tenho vontade de socar sua cara.

-Sabe que ninguém vai acreditar em você, né? Todos vão achar que tá fazendo isso só pra tirar a culpa de cima de você, afinal não fui eu que dei uma surra na vadia ruiva na frente de todos e a mandei pro hospital.

Engulo em seco.

A porta de uma das cabines abre levemente e Lucy põe a cabeça para fora fazendo um gesto para eu não dizer que ela está ali e me mostra um aparelho celular em sua mão. Ela vai gravar a nossa conversa. Parece que quando Samantha entrou no banheiro não sabia que tinha gente dentro.

Desvio o olhar da cabine e volto a encarar Samantha.

-Isso é verdade. -concordo em um tom convincente. - Não tenho como provar por que todos os indícios aprontam pra mim, por causa do que fiz semana passada. Mas eu nunca tiraria a vida de uma pessoa, não propositalmente.

Ela coloca o frasco de remédio em cima da pia e mexe em algo dentro de sua bolsa, parece que vai pegar algo, mas então desiste e me estuda de cima a baixo com seus enormes olhos azuis.

-Eu também não...até Tamara fazer o que fez com o Samuel, meu irmão.
Sabe, dizem que quando alguém que amamos morre, uma parte nossa morre junto também. E isso é verdade, quando meu irmão se matou por causa da Tamara, uma parte minha morreu junto com ele e a única coisa que manteve a minha outra parte viva foi a vingança que alimentei durante esses dois anos.

Arregalo os olhos em surpresa, segurando a corrente do meu pendante com força.

-Seu irmão se matou por causa da Tamara?

Preciso fazer com que confesse. Preciso fazê-la dizer "É, fui eu que matei Tamara." Pra não deixar dúvidas e pra fazer com que ela fique presa muitos anos. Por isso vou fazer perguntas, fingir interesse, até ela falar a palavra chave.

Ela me rodeia, e não consigo tirar os olhos de suas botas. É preta, de couro, toda afivelada, igual de roqueiro, e elas me dão arrepios.

-Samuel e Tamara namoraram e ela o traiu... O traiu com seu melhor amigo. Meu irmão a amava, a venerava, tinha uma verdadeira adoração por ela e quando descobriu que ela o traiu com o Kevin, ele não aguentou a dupla traição e se suicidou... E sabe quem o encontrou? Fui eu. Eu o encontrei pendurado no ventilador de teto com uma corda envolta do pescoço e a foto dos dois juntos no piso abaixo dele.- seus ficam marejados.

Lua Negra (Editando)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora