Capítulo 65:

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Encarei-o, repleta de ódio, sentindo um tremor percorrer todo o meu corpo. Ele esboçou um sorriso sutil, percebendo que eu não teria coragem de puxar o gatilho.

— Não és capaz, pois não? Tu serias incapaz de magoar... Apesar de não o admitires, no fundo, sabes que me amas...

— Tens razão... Eu não sou capaz de te magoar... mas, não é por te amar... é por te temer!... É por me tornares fraca...

— Eu tornei-te uma mulher decente, uma mulher de verdade! — ele aproximou-se, aumentando o tom de voz.

O seu sorriso cresceu, ganhando um tom mais sinistro.

Aproximou-se mais, e eu comecei a tremer mais ainda.

— Eu fiz tudo por ti! Ensinei-te qual é o teu lugar... mas, parece que ainda tenho de te dar uma lição!...

Num gesto rápido, entre os clarões dos trovões, o Stefan empurrou-me com enorme agressividade, retirando-me a arma da mão e fazendo-me cair pelas escadas.

Rebolei pelos degraus até ao andar de baixo.

Quando tentei mover-me, olhei para cima, e lá estava ele, descendo as escadas, com um olhar cada vez mais sinistro.

O meu corpo estava todo dorido e não conseguia levantar-me.

Indignado com a minha decisão sobre nós, aproximou-se, segurando firmemente a arma e falando num tom ainda mais agressivo:

— Foi o outro, não foi? Aquele otário fez-te a cabeça! Tu és tão ingénua... Deixas-te levar por qualquer tipo!
— A minha decisão não foi influenciada por ninguém. Eu tomo as minhas próprias decisões! Não preciso de um homem para escolher o rumo da minha vida! — respondi, ainda deitada no chão, sem me deixar intimidar.

— Se não podes ser minha, então, não serás de mais ninguém!... Ainda estás a tempo de fazer a escolha certa sobre nós. Só precisas de obedecer e dizer "sim"!...

Com a arma entre nós, apontada diretamente à minha cabeça, encarei-o com um olhar decidido e respondi:

— Não.

Os seus olhos transbordavam desilusão. Indignado, com a arma direcionada a mim, premiu o gatilho...

Para sua surpresa, nada aconteceu.

Sorri-lhe de forma desprezível, exibindo as balas que havia removido da arma, quando a tirei da gaveta.

— Tens razão... eu não seria capaz de disparar... mas tu sim...

Enfurecido, o Stefan desferiu um chute forte na minha coxa, acertando exatamente na zona em que a bala me havia atingido. Gritei de dor e arremessei as balas na sua cara, fazendo-o deixar cair a pistola, enquanto me levantava para fugir.

Em vez de agarrar a arma novamente, o Stefan correu na minha direção, como se quisesse matar-me com as próprias mãos! Agarrou-me pelo pescoço e arrastou-me até à parede, segurando as minhas mãos firmemente sobre a minha cabeça e pressionando seu corpo contra o meu.

Estava completamente imóvel. Não conseguia mexer as mãos, nem as pernas, e sentia todo o peso desconfortável dele sobre mim.

Ele sustentou o meu olhar com o dele, forçando-me a encará-lo. Com uma mão, segurou meu maxilar com firmeza, enquanto a outra mantinha os meus pulsos imobilizados.

— Clara, olha para mim... Diz que me amas!...

Respondi somente com um olhar de desprezo.

Com a raiva crescendo cada vez mais, o Stefan deu-me um soco no rosto! (Senti o sangue escorrer pelo canto da minha boca, assim como a dor insuportável do dente que há dias me doía, e que parece ter cedido ao golpe que ele me deu.)

— Clara, não me forces a ser duro contigo! Diz que és minha e fica tudo resolvido. Só precisas de dizê-lo!

Ergui a minha cabeça, encarando-o mais uma vez. Olhei-o nos olhos e cuspi-lhe o dente na cara!

Ele observou-o, caído no chão, banhado em sangue. Encarou-me novamente, com uma raiva que não me assombrava há muito tempo. Respirou fundo e falou novamente, em tom de autoridade e ameaça mortal:

— Vais arrepender-te de teres feito isso... É a última oportunidade que te dou para acabar com esta parvoíce! Aquele idiota não te pode dar a vida que eu posso. Escolhe, Clara! Ou eu, ou ele!

Ele mantinha os meus pulsos firmemente presos à parede, exercendo pressão com a mão, apertando o meu maxilar com a outra e encostando ainda mais o seu corpo contra o meu.

Baixei a cabeça novamente, fechando os olhos por um momento, refletindo sobre mim mesma e sobre todo o rumo que a minha vida tinha levado.

Não sabia o que fazer naquele momento...

Vieram à minha mente memórias das aulas de defesa pessoal. O meu treinador sabia da minha história, e tentava utilizar os meus traumas como forma de incentivo para que eu não tivesse medo de lutar por mim mesma.

Lembrei-me das palavras que ele me dizia nos momentos de treino mais difíceis: "Força, Clara! És tu, ou ele! Não podes permitir que ele vença!"

Um episódio em particular veio à minha mente: um dia em que as suas palavras me levaram às lágrimas...

Enquanto tentava executar os golpes, a imagem do Stefan sobrepunha-se constantemente à do meu treinador. A frustração atingiu-me em cheio e ajoelhei-me, chorando diante dele, como se estivesse a curvar-me perante o próprio Stefan...

Naquele momento, ele interrompeu o treino, envolvendo-me num abraço, tentando acalmar-me: "Clara, não te ajoelhes perante o medo! Tens de decidir quem irá comandar tua vida: ou tu, ou ele..."

Aquelas palavras ecoaram na minha mente, fazendo-me voltar à realidade, ouvindo novamente a voz do Stefan, que ainda me mantinha presa contra a parede.

— Clara, escolhe! Ou eu, ou ele! — insistiu, tentando intimidar-me.

Lentamente, ergui a cabeça, olhando-o nos olhos, e declarei com firmeza:

— Eu!...

(Nem um, nem outro, nem ninguém... eu escolho-me a mim!) 

CLÍMAX - vem(-te) comigoWhere stories live. Discover now