Capítulo 41:

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Dirigi-me ao hotel, onde encontrei David e Romeu. Compartilhei com eles os acontecimentos recentes, enquanto desfrutávamos de um copo juntos.

— Talvez ela ainda esteja em estado de choque com tudo o que aconteceu naquela noite. — ponderou o Romeu.

— Talvez aquele tipo seja um dos velhos "comes-comes" dela... — refletiu o David em voz alta, provocando um cutucão de cotovelo por parte do Romeu. Percebi que ele queria evitar tocar nesse assunto, mas a teoria do David talvez estivesse correta. Havia claramente algum histórico entre eles.

A Clara não gosta de relacionamentos, então, a ideia de ser um ex-namorado está descartada. Talvez fosse algum amigo colorido que se apaixonou por ela, e agora voltou para tentar reconquistá-la.

Horas depois, ao passar pela casa dela, deparei-me com a presença deles. O carro do Stefan estava estacionado à porta, e a Clara saiu, vestindo um traje semelhante ao que usava no dia em que nos conhecemos: simples, elegante e discreto.

Será que estava a fazer com ele a mesma brincadeira que fez comigo? Talvez aquele tipo ainda não tenha descoberto a verdadeira natureza dela (se for esse o caso, ele vai ter uma surpresa).

De certa forma, a situação mexeu comigo, causando um certo desconforto, afinal, havíamos concordado em ser exclusivos neste momento. Será que ela estava apenas a brincar com ele, ou pretendia envolver-se mesmo?

Tenho de respirar fundo e confiar nela. Se pretender envolver-se com ele, irá dizer-me primeiro, tenho a certeza!

O Stefan dirigiu-se a ela, beijou-lhe a mão e conduziu-a até ao carro, abrindo-lhe a porta do pendura. E lá foram eles.

Observando a cena, decidi dar uma volta a pé e entrei no primeiro café aberto que encontrei. Pedi um sumo refrescante e tentei clarear a mente.

Se ainda fosse o antigo Tiago, já teria desprezado completamente a Clara e estaria a afogar as mágoas em bebida e prostitutas. Porém, hoje não me orgulho desses comportamentos passados. Decidi tirar um tempo para refletir, optando por um sumo em vez de álcool, e ponderar sobre como abordar a Clara.

Queria expressar os meus sentimentos, mas não estava habituado a mostrar vulnerabilidade, tornando desafiador encontrar as palavras certas para abordar o assunto.

Dizem que sentimentos são coisas de mulheres, mas nós também sentimos, também sofremos, também temos medo... no entanto, aprendemos a menosprezar esses sentimentos e emoções.

Ao retornar ao carro, percebi que a Clara já estava em casa, e o carro do Stefan não estava presente.

Parecia estar sozinha.

Tenho de falar com ela. Preciso de saber se está bem!

Bati à porta. Ela abriu, mas parecia distante e silenciosa, talvez ainda a recuperar de tudo o que acontecera.

— Clara, como te sentes?

— Está tudo bem.

— Fiquei muito preocupado contigo! Bem... foi uma sorte o teu amigo estar lá para ajudar, imagino.

— Sim, pois... Se não fosse o Stefan, não sei o que me teria acontecido.

— E pelo que percebi, não foi a primeira vez... Vocês conhecem-se há muito tempo?

— Bem... não importa. Não quero falar sobre isso.

— Desculpa... Só queria entender que tipo de relação vocês têm. Confesso que, talvez tenha sentido um pouco de ciúmes. Ele parece ser simpático, um cavalheiro, bonitão... parece um príncipe encantado! E parece gostar muito de ti.

— Pois, ele tem uma grande afeição por mim. Sempre gostou de cuidar de mim e de me proteger.

— Bem... parece ser um velho amigo colorido, que sente a tua falta e voltou para te reconquistar.

— Tiago, desculpa, mas eu não quero mesmo falar sobre isto. Ainda estou muito abalada com tudo o que aconteceu.

— Tens a certeza de que é só isso? É que, algo em ti parece diferente... Olho para ti e não te reconheço! Não reconheço aquela euforia que sempre transborda de ti!

— Tiago, não quero falar, já disse.

Ela virou-me as costas. Tentei aproximar-me mais.

— Clara, por favor...

— Não! — Respondeu, de forma autoritária!

Parei imediatamente, afastei-me e não insisti mais.

— Está bem... desculpa.

A Clara encarou-me intrigada, aparentemente surpreendida por ter parado de insistir. Continuei num tom compreensivo:

— Entendo que precisas de espaço, e quero respeitar isso. Não sei o que aconteceu entre vocês, mas confio em ti! Se precisas de tempo, vou dar-te! — disse com um sorriso, sem qualquer ressentimento.

Não temos uma relação de verdade. Ela não me pertence, nem me deve justificações, e preciso de interiorizar isso.

Ela pareceu admirada com minha atitude.

Dirigiu-se às escadas, mas, antes de subir, olhou uma última vez para mim, agradecendo com uma voz serena:

— ... Obrigado... 

CLÍMAX - vem(-te) comigoOnde histórias criam vida. Descubra agora