Capítulo 64:

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Naquele momento, o Tiago estava em minha casa, ansioso pela minha chegada. Observava o meu quarto, relembrando os momentos que ali compartilhámos. A sua atenção foi atraída pela foto minha e do Stefan, deixada na mesa de cabeceira. Os seus olhos fixaram-se na imagem do meu passado, ao lado do Stefan, observando como o meu olhar era diferente naquela época... Um olhar sem profundidade, sem brilho, sem vida...

Tranquilamente, dirigiu-se à sala, carregando a foto consigo.

Subitamente, algo inesperado ocorreu... O Tiago recebeu uma mensagem minha, dizendo "Vou casar-me com o Stefan. É o meu sonho! Eu amo-o. Desculpa. Adeus."

Ao ler a mensagem, ele relutava em acreditar, mas antes que pudesse responder, alguém bateu à porta...

Ao abri-la, deparou-se com os mesmos três homens que me atacaram na outra noite!

Invadiram a casa e agrediram o Tiago, que mal teve tempo de reagir. Um deles segurava uma faca, desferindo um golpe na sua barriga, deixando-o no chão, contorcendo-se de dor.

Satisfeitos com a violência executada, os três agressores retiraram-se.

Apressado, o Tiago tentou alcançar a porta, trancando-a, com receio de que retornassem.

Tentando manter o equilíbrio, esforçou-se para chegar à sala, mas acabou por cair novamente. Rastejou até à mesa que estava junto ao sofá, onde havia deixado a foto e o telemóvel. Agarrou o aparelho e ligou para os serviços de emergência, pedindo ajuda com urgência:

— Por favor, preciso denunciar uma agressão! A morada é... é... — ele encarava a minha foto, tentando manter-se consciente, lutando para comunicar a morada, antes de perder os sentidos...

Ainda na casa do Stefan, eu estava caída, junto ao sofá, com uma nítida marca vermelha no meu rosto, decorrente do estalo que ele me deu... (Pois... eu disse "não" ao seu pedido ... e este foi o resultado... Ele bateu-me... novamente...)

Fiquei sem reação! Permaneci ali, atordoada, paralisada, enquanto ele se erguia diante de mim, aproximando-se.

— Clara, eu amo-te!...

Ele tentava justificar-se. Eu, porém, tentava recompor-me, mantendo a cabeça baixa, sem coragem de encará-lo diretamente.

— Tu? Tu nunca me amaste!... O que tu amavas era a regalia de ter uma mulher só tua!... E eu... eu também nunca te amei... Apenas não sabia distinguir amor de dependência emocional...

Mesmo com medo, tentei encará-lo levemente, tentando confrontá-lo:

— Mais do que não te amar, eu não me amava a mim mesma... Não amava a pessoa que era perto de ti... e é por me amar hoje, que preciso de fazer o melhor para mim, mesmo que isso implique afastar-me de ti para sempre!

— Clara, desculpa, eu só fiz o que fiz porque tenho medo de te perder...

— Já me perdeste há muito tempo!

Encarei-o, com um olhar de repulsa e desprezo (o mesmo olhar que ele me lançou quando me abandonou na rua, naquela noite chuvosa).

Indignado, o Stefan virou-me as costas e subiu as escadas. Chegando ao andar de cima, entrou no escritório, nitidamente tenso e agitado. Abriu a gaveta da secretária, porém, para sua surpresa, estava vazia...

Aquilo que ele procurava, estava nas minhas mãos, e ele percebeu isso quando ouviu, mesmo atrás da sua nuca, o som do gatilho...

Virou-se lentamente, ficando cara a cara comigo. O meu rosto foi iluminado pelos relâmpagos, enquanto lhe apontava a sua própria pistola.

Atrás da arma, eu olhava-o nos olhos, derramada em lágrimas, porém, com um olhar bem sério.

Respirei fundo, e afirmei aquilo que ele temia que eu descobrisse:

— Foste tu...

O ambiente estava carregado de tensão. Todo o meu corpo tremia, mas continuava a pontar a arma, firmemente, enquanto a luz dos relâmpagos iluminava a minha raiva.

O Stefan permanecia em silêncio, mas eu conseguia ler os seus olhos.

Lentamente, levantei a outra mão e abri-a, revelando a bala que tinha comigo (a mesma bala que havia desaparecido no hospital). Os seus olhos reconheceram-na.

Ainda com a arma apontada à sua testa, quebrei novamente o silêncio, respondendo às perguntas que estavam na sua mente:

— A bala esteve comigo, este tempo todo. — afirmei.

Ele permaneceu em silêncio, enquanto eu revelava o que aconteceu desde aquele dia no hospital:

— Estava determinada a descobrir quem me atacou naquela noite, então, eu mesma guardei a bala. Tentei de todas as maneiras descobrir a que tipo de arma pertencia. Revirei a minha memória, procurando detalhes sobre aquela noite, tentando lembrar-me de algum pormenor que me ajudasse a descobrir quem era o responsável por aquele assalto. Consegui recordar alguns detalhes do casaco que o tal sujeito vestia, e também dos seus sapatos. Quando visitei novamente a minha amiga, para ir buscar o vestido que lá deixei, ela comentou sobre um quarto homem, que seguiu os outros três, caminhando em passo acelerado. Quando ela descreveu as roupas, percebi que era o mesmo sujeito que atirou em mim, mas... quando ela descreveu a sua aparência, parecia estar a descrever-te a ti...

Respirei fundo, observando o nervosismo silencioso do Stefan, e continuei:

— Durante este jantar, quando fui à casa de banho, passei pelo teu quarto. Ao abrir o teu guarda-roupa, encontrei o casaco. Por baixo, estavam também os sapatos. Vim ao escritório, tentando encontrar mais alguma prova. Foi aí que encontrei a arma, dentro da gaveta. A arma correspondia à bala. Eu tirei-a da gaveta e escondi-a por baixo do vestido, até reunir coragem para confrontar-te com a verdade...

— Clara...

— Foste tu... Tu salvaste-me de algo que tu mesmo provocaste... Tu és louco!

— Eu sou louco por ti, Clara!... E, se não posso viver contigo, prefiro não viver... — ele aproximou-se, encostando a arma à sua testa — Vá, força... Vai em frente... Dispara!... 

CLÍMAX - vem(-te) comigoWhere stories live. Discover now