Capítulo 23

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Certo dia, tive curiosidade em conhecer o trabalho dela.

A Clara sabia que eu gerenciava o hotel, mas eu não sabia nada além dos seus trabalhos artísticos. Perguntei-lhe qual era o seu trabalho a tempo inteiro e ela optou por me levar até lá.

Pelo caminho, tentei imaginar que tipo de trabalho seria...

— Tiago, onde é que achas que eu trabalho?

— Talvez em algum cafezinho ou restaurante... Não, espera... para conseguires comprar um carro, imagino que trabalhes em alguma editora... Talvez também tenhas algum trabalho extra, além da arte... a fazer unhas, talvez... Acertei?

A Clara sorriu, saiu do carro e eu segui-a.

Olhei em frente e avistei um pequeno café (pois, era mais ou menos o que eu imaginava). Encaminhei-me naquela direção, mas, de repente, ela puxou-me para a oficina ao lado. (Fiquei confuso. Não íamos para o café?)

Dois rapazes estavam na oficina e perceberam a nossa presença.

— Clara! Não estavas de folga hoje? Ou apeteceu-te vir sujar as mãos? — comentou um deles, em tom de humor.

O outro desceu as escadas no fundo.

— Chegaste na hora certa! Tens ali um motor à tua espera! — disse o segundo, também com um tom provocador, atirando o pano que segurava para as mãos da Clara.

Ela riu-se e colocou o pano sobre a mesa ao nosso lado.

— Não, não, hoje é a minha folga! Vim apenas fazer uma visita e apresentar-vos o meu novo amigo, Tiago.

Eles aproximaram-se e a Clara apresentou-os:

— Estes são o Afonso e o Daniel, o casal com quem vivi por um tempo. São os meus melhores amigos!

Fiquei um tanto perplexo. Este era o trabalho dela? Uma oficina de carros? Certamente, não era o tipo de ocupação que eu associaria a uma mulher, ou a um casal gay!... Talvez tenha sido precipitado ao formar esse julgamento, mas a surpresa era genuína. Imaginava todos a trabalhar num cabeleireiro, ou em qualquer outro tipo de salão de beleza!...

Não irei ser preconceituoso, mas também não darei muita confiança. Nada contra, mas não quero que pensem que sou como eles. Eu sei do que gosto, e não quero que ninguém duvide disso.

— Olá, muito gosto! — respondi, cumprimentando cada um com um aperto de mão.

Por coincidência, nesse momento, os meus dois manos apareceram, acompanhados por duas beldades.

— Hei, desaparecido, que coincidência! — comentou o David — Ainda tas vivo?!

— E ainda com a mesma dama... — murmurou o Romeu.

A Clara ouviu o comentário, encarando-os com um olhar sério.

— Não nos interpretes mal, linda, não temos nada contra ti! O nosso problema é com esse palerma, que nos abandonou completamente! — acrescentou o David.

— Desculpem, manos, tenho tido dias muito agitados com a Clara... — expliquei.

— Pois, imagino... — respondeu o David, tentando conter o riso, dando-me um aperto de mão e um abraço amigável.

Eles não estavam chateados. Queriam apenas provocar-me um pouco, provavelmente para disfarçar os ciúmes. E enquanto isso, as duas damas que os acompanhavam não tiravam os olhos de mim (provavelmente tímidas para dizer alguma coisa).

— E então, o que fazes por estes lados? Vieste fazer a revisão do teu carro? — perguntou o Romeu.

— Na verdade, vim conhecer o trabalho da Clara!

Eles ficaram surpresos, sem resposta.

O David reparou num papel que estava no portão, onde estava escrito "Precisamos de funcionários", e comentou:

— Bem, parece que estão com falta de gente, para colocarem uma mulher a mexer em carros... — comentou, aproximando-se dos amigos da Clara — Eu percebo de mecânica, e estou à procura de trabalho! Se precisarem, posso dar uma mãozinha! — sugeriu.

— Queres trabalhar aqui? — perguntou a Clara.

— Relaxa, bebé, não pretendo roubar-te o lugar! Até posso ensinar-te algumas coisas! — respondeu novamente, sorrindo com ar de superioridade.

— Agora percebes porque é que nunca te levei a sair com eles? — murmurei aos ouvidos da Clara.

— Não, não! Não tem problema! — respondeu ela, com um grande sorriso — Até acho que deveríamos combinar uma noitada! No final do mês, haverá uma festa de máscaras, e podemos ir todos juntos!

— Claro! — exclamou o David — Mas, e em relação ao trabalho? Posso começar quando quiserem! E assim, Clara, posso dar-te umas dicas! Posso falar com o vosso chefe?

A Clara agarrou no papel e respondeu:

— Chefe? Estás a falar com ela! Podes começar amanhã às 8:00h! — ela bateu o papel contra o peito do David — Estava mesmo a precisar de alguém para as limpezas! — completou, dirigindo-se ao escritório da oficina.

Ficámos imóveis e boquiabertos! (Então, ela não só trabalha numa oficina, como também é quem manda... Ok, isto eu não esperava mesmo!) 

CLÍMAX - vem(-te) comigoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora