Capítulo 51:

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O tempo foi passando e continuávamos inseparáveis, namorando oficialmente e profundamente apaixonados.

O Stefan pediu-me em namoro numa clássica cena romântica, digna de um clássico filme romântico: flores, balões, um jantar requintado com música ao vivo e uma aliança de valor exorbitante.

Ao longo do tempo, o Stefan transformou-se num jovem empresário de sucesso, merecedor de todos os elogios por ter conquistado tudo por mérito próprio.

Rapidamente, investiu o suficiente para adquirir uma casa, onde iniciámos a nossa vida em conjunto. Os meus pais aprovaram, confiantes de que eu estaria entregue em boas mãos.

Ele levava-me a passear de barco e de helicóptero, e frequentávamos restaurantes elegantes e requintados. Comprava-me roupas caras e assegurava-se de que não me faltasse nada.

Eu não precisava de trabalhar. A minha única responsabilidade era cuidar da nossa casa e de mim mesma (ou melhor, da minha aparência), enquanto ele geria os negócios.

A minha mãe sentia-se muito orgulhosa, pois tornei-me a mulher dos sonhos dela (e dos sonhos do Stefan também). No entanto, quando me olhava ao espelho, não conseguia nutrir o mesmo orgulho por mim mesma...

Sentia-me uma boneca de porcelana, oca por dentro... Não me conhecia a mim mesma, não conhecia os meus próprios sonhos, paixões ou ambições. O único refúgio para escapar da realidade e conseguir sonhar era a arte. Projetava nas telas os meus sonhos e sentimentos profundos, que não conseguia exprimir de mais nenhuma maneira.

Apesar dos passeios semanais com o Stefan para lugares incríveis, sentia-me presa, como um pássaro enjaulado. Não podia passear sozinha e tinha de estar sempre acompanhada dele. Quando íamos à praia, usava um traje mais recatado para evitar olhares perversos.

Embora a praia fosse o lugar em que mais gostava de estar, não conseguia sentir-me tão livre como as pessoas que estavam à minha volta. Só entrava na água quando ele entrava comigo, pois ele temia pela minha segurança, já que eu não sabia nadar.

O Stefan tinha uma piscina em casa, mas eu não molhava muito mais do que os pés, muito menos sozinha, com receio de algo me acontecer.

Ele também comentava que eu ficaria mais bonita se estivesse mais bronzeada, então, dedicava mais tempo aos banhos de sol, apesar de não gostar muito da ideia de nem usar protetor (ele alegava que assim bronzeava mais depressa, mas eu sentia-me uma lagosta).

Todas as semanas, ele oferecia-me roupas novas, todas sempre muito comportadas e elegantes, sem decotes ou comprimentos exageradamente curtos. Na verdade, devido ao "defeito" das minhas pernas, o Stefan aconselhava-me sempre a usar saias compridas (ideia também reforçada pela minha mãe).

Apesar da curiosidade em mudar a minha aparência, o Stefan não aprovava a ideia, argumentando que deveria estar grata por todas as belas roupas que ele me oferecia e que, se não estivesse satisfeita, então deveria comprar eu mesma as minhas coisas. No entanto, como não trabalhava, não tinha dinheiro para nada... Tudo o que queria, tinha de lhe pedir.

Todos afirmavam que deveria estar muito feliz por ter um namorado que me sustentava, mas eu sentia-me dependente!

Houve uma altura em que tive curiosidade em cortar o cabelo, apenas para mudar um pouco o visual, mas tanto o Stefan como a minha mãe desaprovaram. Garantiram-me que ficaria horrível e que perderia todo o meu encanto. O cabelo de uma jovem é o seu maior charme. Aparentemente, o cabelo curto tornar-me-ia menos feminina.

A minha mãe, reforçando todos os argumentos estéticos, relembrava-me constantemente dos meus defeitos nas pernas, a minha ausência de curvas sensuais e a falta de bronzeado. Segundo ela, a minha salvação residia nos meus olhos e no meu cabelo, e não deveria correr o risco de perder uma das únicas fontes de beleza que tinha.

Isso mexeu tanto com o meu psicológico, que nunca me atrevi a cortar mais do que as pontas espigadas, com medo de não ser mais desejada pelo Stefan.

Em relação ao sexo, nem sei por onde começar...

Eu era virgem, e não tinha qualquer conhecimento sobre esse mundo. A minha mãe nunca me explicou nada. Na altura, nem sabia que a masturbação existia, muito menos um orgasmo!

A ideia era esperar até ao casamento, segundo a igreja. No entanto, o Stefan não queria esperar tanto, justificando que, se ficássemos juntos para sempre, não teria que temer arrependimentos.

Antes da nossa primeira vez, ele expressou preferência por mulheres lisinhas, sugerindo que eu fizesse a depilação antes, mas alertou-me para evitar as imperfeições deixadas pela lâmina, então, tive de fazer cera. (Não foi a primeira vez que o fiz, afinal, a minha mãe já me submetia a esse processo nas pernas, então, já tinha uma noção da dor infernal que iria sentir.)

Sonhava com a nossa primeira noite juntos, sendo uma clássica cena romântica, digna de um filme, com flores, velas, pétalas pelo quarto, ouvindo o Stefan dizer que me ama no momento em que me "tornaria mulher" (sua mulher)... Porém, a realidade foi ligeiramente diferente...

O cenário era romântico, tal como imaginei, mas a dor foi insuportável! O pior era que não sabia como pedir para parar, pois estava a doer muito, mas não queria atrapalhar o momento especial. Tive de aguentar, tentando focar-me no ambiente romântico com que sonhava.

Para piorar, supostamente teria que sangrar, o que não aconteceu...

Algumas mulheres não sangram na sua primeira vez, mas na altura eu não tinha esse conhecimento, e parece que o Stefan também não, porque desconfiou de mim e da minha pureza. Ficou bastante desiludido na altura, e foi a primeira vez que substituiu os apelidos carinhosos pela palavra "puta".

Com o tempo, esse assunto foi deixado de lado, porém, sentia que o Stefan ainda mantinha as suas suspeitas.

Para restaurar a sua confiança, partilhava com ele a senha do meu telemóvel. Além disso, evitava ao máximo ter contacto com outros homens, temendo ouvir novamente aquela palavra ofensiva.

Ao sair com ele, evitava decotes e minissaias que pudessem chamar a atenção de outros homens.

A minha autoestima era uma miséria! Além de não ter as mesmas curvas das mulheres que o Stefan observava nas redes sociais, receava qualquer defeito que pudesse aparecer no meu corpo.

Numa ocasião, após fazermos amor, ele sugeriu delicadamente que eu cuidasse mais de mim, pois havia notado algumas estrias.

Imediatamente, dirigi-me ao espelho da casa de banho.

A princípio, não consegui ver nenhuma estria, mas depois de observar atentamente, lá estavam umas duas ou três linhas pequeninas, bem discretas, porém, visíveis o suficiente para me deixar em pânico!

Ele tentou acalmar-me, aconselhando-me a praticar mais exercícios e a adotar uma dieta mais restrita (talvez até considerar algum jejum, para também evitar aumentar de peso).

Na altura, concordei e segui todo o tipo de dietas rigorosas para evitar ao máximo não passar dos 50kg (não queria que ele me achasse gorda demais para ele).

Algum tempo depois, um amigo dele comentou que eu estava magra demais, e que assim nunca iria desenvolver curvas atraentes.

O Stefan começou a observar-me de uma perspetiva diferente, aconselhando-me a rever a minha dieta.

O problema foi que, durante esse processo, descobri que tinha um metabolismo muito acelerado, e que dificilmente iria conseguir engordar. Isso desencadeou em mim um falso apetite compulsivo, pois tentava constantemente forçar-me a comer, na esperança de ganhar pelo menos um quilo a mais.

Massacrava-me tanto para manter-me magra, comia tão pouco, e afinal, tudo se resumia ao meu próprio metabolismo! Senti que passei tanta fome para nada... e depois, senti que havia algo de errado comigo, para comer tanto e não engordar...

Quando os amigos dele viam modelos nas redes sociais, elogiavam cada detalhe dos seus corpos... mas sobre mim, diziam que parecia estar doente de tão magrinha.  

Tentava incansavelmente estar perfeita por fora, mas estava cada vez mais desfeita por dentro...

CLÍMAX - vem(-te) comigoHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin