Capítulo 60:

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— Esta é a minha história... Aquela que nunca partilhei com ninguém...

Estava a tremer muito, esforçando-me para conter o choro.

Ergui a cabeça e encarei o Tiago, cujos olhos estavam cobertos de lágrimas, enquanto me ouvia.

(Contei-lhe toda a verdade... porém, enquanto falava, ocultei um pequeno detalhe, que recordei apenas no meu pensamento... As agressões físicas... Temia que ele chamasse a polícia ou fosse atrás do Stefan para confrontá-lo... Achei melhor omitir esse detalhe, afinal, já passou...)

— Clara, não tinha ideia de que tinhas passado por tudo isso... — disse ele, lutando contra a enorme vontade de chorar.

— Eu sei que tenho andado estranha...

— Eu compreendo... Se sempre te comportaste assim perto dele, entendo que não consigas ser tu mesma quando ele está presente.

— Sinto-me tão mal comigo mesma... Tantos meses a desenvolver a minha personalidade... mas, quando ele aparece, tudo se desfaz... — expliquei — Perto dele, continuo sem conseguir ser eu mesma, continuo sem coragem de dizer "não"... mas, ele parece tão diferente agora... será que as coisas poderiam ser diferentes, desta vez? Será que, com o tempo, perderia o medo de dizer "não", e as coisas finalmente poderiam resultar? Deveria dar-lhe outra oportunidade?

— Ainda o amas?

— Eu... não sei... Agora que voltou, sinto uma sensação estranha... Tenho receio de perdê-lo para sempre, se não aproveitar agora que ele voltou...

— Tens receio de perdê-lo, ou receio de te perderes a ti mesma para sempre?

Levantei a cabeça ao ouvir as palavras do Tiago.

Ele continuou:

— O que sentes é amor, ou será medo? Medo do que poderá acontecer, se o rejeitares... Medo do que ele te possa fazer...

— Ele agora está diferente! Pediu-me desculpa por tudo e não fez mais críticas... Até me ofereceu uma foto nossa, que mantinha guardada. Era uma recordação que tinha sempre consigo, provando que nunca parou de pensar em mim.

Fui à gaveta buscar a tal foto, onde estávamos juntos, no tempo em que namorávamos. O Stefan guardou-a como lembrança, e agora deu-ma, escrevendo na parte de trás a sua morada, para que eu nunca mais me perdesse, sabendo sempre o caminho de volta para ele.

Mostrei a foto ao Tiago e continuei a explicar:

— Tirámos esta foto em frente à casa dele, no dia em que fomos morar juntos. Ele mudou...

— Será que mudou mesmo? Já lhe disseste "não" mais alguma vez?

— Bem... ainda não tive oportunidade de dizer...

— Clara, se for esse o caminho que queres, eu irei respeitar... Só tenho medo de que ele...

Ergui a cabeça novamente e interrompi-o:

— Eu... não sei se é o que quero... Apesar de parecer diferente... não sei se realmente quero voltar, mas... tenho medo de confrontá-lo...

— Se precisares de ajuda, eu posso tentar falar com ele...

— Não... Preciso de fazer isto sozinha... Ele convidou-me para jantar em casa dele amanhã, e eu irei erguer coragem para confrontá-lo e explicar o que sinto... Preciso de olhá-lo nos olhos... Só aí irei entender o que sinto realmente...

— Seja qual for a tua decisão, eu irei respeitar... Mas, e se ele fizer algo? E se ele te tratar mal e te fizer chorar novamente?

(Ele já fez bem mais que isso no passado, mas preferi continuar omitindo esse detalhe, senão o Tiago não me deixaria ir sozinha.)

— Não te preocupes... Se ele realmente está diferente, como tem demonstrado, não fará nada de mal... — respondi.

— Ok, mas, se algo acontecer, promete que me ligas! Eu vou ficar aqui, à tua espera.

— Obrigado, Tiago. — respondi, com um leve sorriso.

Levantei-me e caminhei até à janela que estava aberta, sentindo o vento entrar, acariciando os meus cabelos e o meu rosto.

Olhei para o céu, observei a lua e pensei em voz alta:

— Sabes... todos estes anos, fizeste de tudo para aparentares ser um homem de verdade, assim como muitos tipos que conheci... Mas, é em momentos como este, que vejo como és diferente!...

— Eu sei... Tento fazer-me de macho, mas na verdade, sou fraco, um covarde... — respondeu, baixando a cabeça.

— Não... — interrompi.

Parei de contemplar a lua e dirigi o meu olhar diretamente para o Tiago, encarando-o com ternura, e falando honestamente:

— Na verdade, a coragem para demonstrares as tuas vulnerabilidades é o que faz de ti um homem de verdade!... Um homem que me orgulho muito de ter conhecido, e... (não sei o que iria dizer a seguir, pois distraí-me com o seu olhar meigo, penetrando o meu, enquanto sorria, cheia de orgulho, empatia e carinho).

O Tiago não aguentou mais a emoção e começou a chorar, ajoelhando-se, mesmo à minha frente.

Fiquei profundamente comovida por ver a sua verdadeira essência...

Aproximei-me...

Segurei as suas mãos entre as minhas, apertando-as carinhosamente. Sorri novamente e abracei-o com ternura.

Ele abraçou-me com muita força, como se deitasse para fora todo o sofrimento oprimido.

Depois de um abraço cheio de empatia, aproximando os nossos corações mais do que nunca, afastei-me, encarei-o novamente, e pintei-lhe o nariz com as minhas tintas, que estavam mesmo ao nosso lado, tentando aliviar o clima.

Ele soltou uma risada e fez o mesmo comigo! 

CLÍMAX - vem(-te) comigoWhere stories live. Discover now