Capítulo 8

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Despertei na manhã seguinte, meio atordoado, mas pronto para me esgueirar antes que ela despertasse.

Mas, onde é que ela estava? Sentei-me na cama, perplexo. Olhei ao meu redor, mas, sem sinal dela.

Tentei recordar o que aconteceu na noite anterior. Surgiram alguns flashes de nós dois, envolvidos em puro sexo selvagem! Imagens de mim, amarrado a maior parte do tempo, enquanto ela assumia o controle! Ela dominou-me completamente! O seu talento em provocar-me arrepios com os seus lábios era notável! O eco dos gemidos dela ainda reverberava nos meus ouvidos...

Mas, o que estava eu a imaginar? Aquela jovem simples, sem um pingo de sensualidade ou experiência, não poderia ter protagonizado tal proeza... Tem de haver outra explicação!

Ao lançar o olhar para a mesa de cabeceira, a explicação revelou-se: a garrafa de álcool. (Certamente, foi isso!)

Provavelmente, depois de alguns amassos, ela foi embora (talvez receosa de prosseguir até o final), e eu fiquei sozinho no quarto a beber, transtornado. É a única explicação lógica!

Agarrei a garrafa e ri de mim mesmo, percebendo que aqueles flashes não passavam de um devaneio.

Virei-me na cama para me levantar, mas... ao pousar os pés no chão e olhar em frente... deparei-me com vários e vários preservativos espalhados pelo chão...

Observei-os, bem à frente dos meus pés, espalhados por todo o quarto.

Ergui a cabeça, e somente uma palavra expressava o que sentia naquele momento:

"Foda-se!..."

Os meus manos apareceram lá no bar, ansiosos para saber como se desenrolou a noite. Não paravam de fazer perguntas, mas eu mal lhes prestava atenção. Ainda estava a tentar processar tudo o que aconteceu, sem conseguir pronunciar uma palavra sequer. Limitava-me a olhar para o nada, enquanto tentava recuperar mais detalhes daquela noite.

— Então, como é que terminou? Desfloraste-a e desapareceste antes dela acordar?

— E como foi? Era muito inexperiente? E o corpo dela, como era? Usava aquelas roupas interiores de velha? Ou era daquelas que usa cuecas com padrões florais? Havia algo cativante nela? Vamos, Tiago! Conta tudo! Diz alguma coisa!

Eu permanecia com o olhar perdido no vazio.

Tentei resumir aquela noite numa única frase, e a única coisa que me saiu foi:

— ... Acho que ela não era virgem...

Os olhares incrédulos do David e do Romeu fixavam-se em mim, incrédulos com o que acabara de dizer... Nem eu mesmo acreditava! A Clara aparentava ser uma completa santa! Como é que, de repente, ela estava com uma lingerie provocante, e eu estava amarrado à cama, com ela em cima de mim? E o pior... não me lembro de quase nada! No entanto, as sensações vibrantes persistiam, reverberando pelo meu corpo.

Teria aquilo realmente acontecido? Ou existiria outra explicação?Bem, só havia uma maneira de descobrir: tenho que encontrá-la novamente!

Vasculhei todos os recantos, e nada. Perguntei ao Bernardo se ela estava na sua suite, mas ele afirmou que já não estava lá.

Fiquei transtornado! Quer dizer que, supostamente, tive uma das melhores noites da minha vida, e nem vou poder reavivar a memória?

— Ela não está aqui agora. Vi-a sair bem cedo. No entanto, ainda não fez o check-out, e as suas coisas permanecem na suíte. Talvez pretenda ficar mais uns dias. — explicou o Bernardo, deixando-me mais aliviado. (Porque é que ele não explicou logo isso?)

Continuei a procurá-la, mas sem sucesso. Nesse momento, a entrada do hotel fervilhava de pessoas.

Era fim-de-semana, e o movimento era intenso. Não iria conseguir encontrá-la no meio desta multidão.

Decidi regressar ao bar, onde os meus manos ainda estavam. Bebi um pouco para aliviar o estresse (e talvez para afogar as mágoas)...

Espera... O que é que eu estou para aqui a lamentar? Se não a reencontrar, que diferença faz? Há uma infinidade de beldades a entrar no hotel neste momento, e eu aqui a perder tempo com uma que, talvez, nem tenha sido tão incrível como pareceu!

Pela janela, observei a agitação na entrada. Contemplei as beldades que entravam, muitas delas, sozinhas ou com amigas (outras, com os maridos ou namorados, mas não tem problema, não sou ciumento).

Observei uma morena, com um vestido decotado; depois, reparei numa ruiva, com uns calções bem curtos; depois, avistei uma loira, de casaco até aos joelhos... espera! É ela!

Levantei-me rapidamente aproximei-me. Parecia estar a namoriscar com um sujeito qualquer.

Chamei-a à distância. Ela ouviu, mas pareceu surpresa! Virou-me imediatamente as costas e enfiou-se na multidão (deixando até o outro tipo plantado).

— Ei, espera! — apressei o passo, mas a Clara parecia determinada a despistar-me.

Quando finalmente a alcancei, ela fez-se de surpreendida.

— Oh, és tu! Outra vez... Que surpresa! Desculpa, mas, agora não posso falar. Estou com muita pressa! — afirmou ela, tentando virar-me as costas.

— Espera! — insisti.

Ela parou, justificando-se:

— Olha, sobre esta manhã, desculpa, mas tinha de me levantar cedo. Além disso, estavas tão fofo a dormir, que não quis acordar-te!

(Não sei porquê, mas essa desculpa parecia um tanto esfarrapada.)

— E agora, porque é que fugiste?

— Já disse, estou com pressa!

— Entendo. E mais tarde, podemos conversar?

— Desculpa, não vai dar. Não me interpretes mal! Não és tu, sou eu! Eu sou uma loba solitária e iria fazer-te sofrer! Tu mereces alguém melhor!...

(Por algum motivo, estes argumentos soaram-me familiares...)

— Então, e o segundo encontro de que falámos?

— Sejamos honestos, nem tu tinhas intenção de ter um segundo encontro! — respondeu ela.

Bem, parece que, desde o início, a Clara sabia exatamente o que eu estava a fazer e quais eram as minhas reais intenções...

— Só queria entender o que aconteceu ontem! Nós estávamos no quarto, tu estavas tão tímida e reservada... e, de repente, eu estava amarrado à cama, e tu estavas em cima de mim! Custa-me acreditar que tenha sido real. Não parecias mesmo ser esse tipo de mulher! Ou, talvez tenha sido apenas uma ilusão minha... eu não sei!

— Vou deixar na tua imaginação... — respondeu novamente. Virou-me as costas e seguiu caminho.

Decidi não insistir mais...

Não iria rebaixar-me, correndo atrás de uma mulher qualquer. Precisava de arquitetar um plano para ser ela a vir atrás de mim! 

CLÍMAX - vem(-te) comigoOnde histórias criam vida. Descubra agora