Capítulo 56:

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Na manhã seguinte, despertei cedo, pronta para retribuir a hospitalidade com trabalho doméstico, mas eles insistiram que descansasse.

Afirmei que já não tinha mais sono, então o Afonso sugeriu que desse um passeio para desanuviar a mente. Contudo, a ideia de andar sozinha agora era aterradora. (Uma menina frágil como eu não duraria nem cinco minutos na rua sozinha, o Stefan bem me avisou disso...)

Foi então que Daniel propôs que os acompanhasse até à oficina deles. Aceitei a sugestão.

Passei o dia a limpar a oficina, algo que eu mesma implorei para fazer, já que era um dos meus poucos hobbies, além da arte (naquele local, no entanto, não havia nada para pintar).

Enquanto limpava, observava-os a trabalhar. Surgiu em mim uma certa curiosidade sobre como eles conseguiam dar vida àqueles motores.

O meu telemóvel continuava sem funcionar, e eu não tinha nem um tostão para o arranjar. Além disso, não sabia o número do Stefan de cor, então, não tinha como ligar de outro telemóvel. Tinha de arranjar forma de conseguir arranjá-lo!

Eles tentaram pagar-me pelas limpezas, mas recusei, visto que estavam a oferecer-me comida e abrigo, senti a necessidade de retribuir de alguma maneira. Precisava de arranjar trabalho para retribuir a hospitalidade e arranjar o telemóvel!

Nessa noite, durante o jantar, ouvia atentamente a conversa que eles tinham sobre os carros que iriam arranjar no dia seguinte. A conversa sobre motores despertou a minha curiosidade, embora não entendesse nada do assunto. A habilidade deles em dar vida a um amontoado de peças e metais era impressionante!

Além da oficina, o Afonso também nutria grande interesse por moda e estética. Sonhava em ter o seu próprio salão de beleza. Enquanto esse sonho não fosse realizado, ele trabalhava com o seu companheiro na oficina.

O Daniel, por sua vez, era o proprietário do espaço. A oficina era o seu segundo grande amor, depois do Afonso. No entanto, era difícil para ele gerenciar tudo sozinho.

Infelizmente, eu não entendia nada daquilo, então não conseguiria ajudar, mas prestava muita atenção às conversas.

No dia seguinte, estava determinada a arranjar o meu primeiro trabalho!

Dirigi-me a um restaurante que tinha um anúncio na porta a dizer "precisamos de empregado de mesa, com ou sem experiência".

Infelizmente, a resposta que levei do dono do espaço foi: — Desculpe, menina, neste restaurante apenas homens atendem os clientes. As mulheres são designadas para a cozinha e lavar a loiça.

Fiquei indignada por recusarem, apenas por ser mulher, considerando que se trata de uma função que qualquer pessoa pode desempenhar, independentemente do género. Pareceu-me absurdo que os homens fossem os únicos rostos visíveis do restaurante, enquanto as mulheres ficavam nos bastidores a cozinhar e a lavar pratos.

— É o estilo do nosso restaurante. Os homens atendem os clientes e as mulheres cozinham e lavam a loiça. Se quiser lavar pratos, poderei pensar no assunto.

Já estava farta de passar a vida a lavar loiças e a cozinhar! Recusei a oferta e fui pedir trabalho ao restaurante da frente, onde, mesmo não estando a precisar de ninguém, aceitaram-me como empregada de mesa em part-time!

Após as horas no restaurante, dirigia-me à oficina para ajudar nas limpezas, esforçando-me por absorver o máximo de conhecimento possível sobre o trabalho deles.

A minha curiosidade crescia, mesmo sabendo que raramente se via uma mulher nesta área, levando-me a questionar se seria capaz de acompanhar o ritmo.

O Daniel percebeu o meu interesse e partilhou comigo alguns dos seus antigos manuais de estudo. Ele mostrou-se disposto a ensinar-me tudo o que eu quisesse aprender!

Comecei a participar ainda mais ativamente nas tarefas da oficina, mantendo também o emprego a meio-tempo no restaurante, enquanto aguardava ansiosamente pelo meu primeiro salário no final do mês, e poder arranjar o telemóvel!

Na oficina, contribuía a hospitalidade, auxiliava no atendimento aos clientes e participava nos reparos dos carros.

O Daniel propôs que, se eu conseguisse resolver algum problema dos clientes por conta própria, poderia ficar com o dinheiro para mim, o que aumentou ainda mais a minha motivação!

Comecei a estudar bastante sobre a área, despertando cada vez mais fascínio pela mesma, além de outras áreas que fizeram desabrochar a minha curiosidade e paixão por aprender tudo o que ainda era desconhecido! Com isso, também descobri que tinha uma habilidade autodidata, dedicando semanalmente um pouco do meu tempo a explorar qualquer tópico que despertasse a minha curiosidade.

— Deverias pensar em tirar a carta! — sugeriu o Afonso.

— Não, isso já seria demasiado... O Stefan sempre afirmou que as mulheres são um perigo na estrada. — respondi.

— Sabes que os homens são responsáveis pela maioria dos acidentes? Gostam de acelerar, competir entre si, e gostam de exibir a potência das suas máquinas.

(Nunca tinha pensado nas coisas por esse lado...)

— Mesmo assim, não preciso. Para onde quer que vá, o Stefan virá comigo! Ele tem carro, então eu não preciso.

— Clara, não será que todo esse amor que nutres por ele, talvez seja na verdade uma certa dependência? — questionou o Afonso, e o Daniel completou:

— Imagina se descobrisses a tua própria independência... será que sentirias assim tanto a falta dele?

— Eu... não consigo imaginar a minha vida sem o Stefan... não sou nada sem ele... — refutei, firme com a minha posição.

— Pelo menos, podemos pedir-te um favor? Percebemos que estás muito empenhada na tua nova jornada, mas, sempre que paras, parece que o teu ânimo desaparece. Conhecemos um psicólogo, e queríamos pedir-te que conversasses com ele, pelo menos uma vez. Nós oferecemos-te a sessão.

— Não se preocupem, eu estou bem! Além disso, também tenho o outro trabalho, e não há tempo para tudo.

— Se mudares de ideias, a oferta ficará sempre de pé! E se aceitares, faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para te ajudar a voltar para o teu namorado, se ainda for o que realmente desejas. (Refleti e acabei por ceder.) 

CLÍMAX - vem(-te) comigoWhere stories live. Discover now