Capítulo 32

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Quando a dança terminou, despedi-me da jovem com quem dancei e fui ter novamente com a Clara.

— Estás bem? — perguntei, um pouco preocupado.

— Claro! Porque não haveria de estar?

A sua forma de falar estava um pouco estranha, e parecia nem conseguir equilibrar-se bem no chão.

Ao olhar para o seu copo, percebi que a cor da sua bebida estava ligeiramente diferente. Pedi para beber um gole, mas a Clara não deixou. Contudo, o aroma confirmou as minhas suspeitas: cheiro de álcool!

A Clara não bebia álcool, e pela forma como estava a esvaziar um copo atrás do outro, pareceu nem se aperceber do que estava a consumir (no entanto, eu percebi que ela já estava um pouco alterada).

Ela continuava a tentar disfarçar e o David comentou o seu estado:

— Olha que é feio uma mulher beber!

A Clara encarou-o, bem séria, e respondeu:

— ... Feio és tu quando eu não bebo!

Virou-nos as costas e foi para a casa de banho, tentando não tropeçar nos seus próprios pés.

Momentos depois, reapareceu no palco, ao lado do DJ, vestindo apenas o body (a saia havia desaparecido), dançando euforicamente com outra rapariga.

O que aconteceu foi o seguinte: A Clara entrou na casa de banho, onde encontrou outra jovem em estado de desespero. A saia do seu fato tinha-se rasgado, e ela hesitava em sair naquelas condições, especialmente por expor as suas coxas adornadas por algumas estrias.

A Clara, ao testemunhar a situação, decidiu ajudar. Agarrou um pincel de glitter que trazia na bolsa e cobriu as estrias da jovem com linhas brilhantes, conferindo-lhes a aparência de fissuras cósmicas de uma galáxia, ou o brilho das escamas ocultas de uma sereia.

Esse gesto singelo de afeto proporcionou à jovem uma sensação renovada de confiança, embora ainda não se sentisse audaciosa o suficiente para deixar a casa de banho usando apenas o body.

A Clara prontamente respondeu "Oh, não seja por isso!..." e despiu também a sua saia, ficando também somente com o seu body.

Nesse momento, a rapariga reparou nas pernas da Clara (eu não mencionei antes, pois não achei relevante, mas os joelhos dela são ligeiramente tortos para dentro).

A Clara fixou o olhar nas suas pernas, mergulhando numa reflexão por um breve momento. Voltou a atenção para a porta, onde observou as pessoas a dançarem do lado de fora.

Sorriu, afirmando que a jovem iria exibir as suas lindas estrias, assim como ela também iria exibir as suas lindas pernas, porque também tinha direito a dançar (possivelmente, o álcool teve alguma influência nessa atitude).

Ambas saíram, somente de body, dirigindo-se ao palco...

O David alertou-me para o facto de que vários homens olhavam fixamente para a Clara (o que, estranhamente, me estava a provocar alguma sensação levemente semelhante a ciúmes).

Observar todos aqueles olhares perversos em cima dela estava a deixar-me tenso...

Enquanto dançava animadamente com a outra jovem, a Clara reparou em mim, percebendo que eu a observava, assim como todos os outros homens. Olhou diretamente para mim e piscou-me o olho, com um doce sorriso... Isso trouxe-me uma sensação reconfortante...

Eu sabia que eles apenas poderiam olhar e invejar, porque o único que ela queria que lhe tocasse, era eu!

Embora não tivéssemos um compromisso, naquele momento éramos exclusivos um do outro. Então, apenas confiei nela e respondi ao David:

— Deixa-os olhar! Deixa-os invejar!

A Clara dançava de forma eufórica, movida pela alegria (ou, possivelmente, pelo efeito do álcool).

Algum tempo depois, sugeri que fossemos embora, considerando que ela já estava bastante alterada, e seria prudente levá-la para casa para descansar.

Ela recusou sair sem antes tirar uma foto com o DJ, permitindo que ele publicasse nas suas redes sociais (o que era estranho, pois ela não costumava apreciar tal exposição).

A Clara tinha uma conta nas redes sociais, onde partilhava exclusivamente fotos suas de contexto artístico, como maquilhagem e cosplay, além de algumas fotos que tirava como modelo, evitando expor a sua vida pessoal. A sua exposição, pelo menos no âmbito corporal, ocorria numa conta privada, direcionada principalmente para o público adulto, que também lhe proporcionava uma fonte adicional de renda.

Quando ela me contou sobre esse perfil profissional, confesso que fiquei ligeiramente surpreendido, refletindo sobre como outros homens iriam interpretar essa situação. No entanto, não desejava seguir a mesma linha, pois não queria ser como os outros! Inclusive, até propus tornar-me o seu novo fotógrafo, uma vez que ela sempre assumiu todas as tarefas sozinha.

Ao aceitar conhecer esse seu "trabalho extra", pude perceber a verdadeira natureza profissional dela! A Clara não tinha nenhum tipo de envolvimento pessoal com os seus clientes, cultivando uma relação estritamente profissional, e não tolerava qualquer falta de respeito. Além disso, preferia publicar fotos seminua, em vez de nudez completa, pois a ideia era provocar a imaginação das pessoas, que era o tipo de sensualidade com que ela gostava de trabalhar.

Cheguei até a ficar curioso em criar um também!

Um detalhe que achei interessante, foi a escolha dela partilhar algumas fotos mais expostas utilizando uma máscara sensual, criando assim uma personagem sexy e misteriosa, enquanto preservava sua identidade. Compreendi essa decisão, ciente de que alguns poderiam vê-la como qualquer coisa, menos como uma profissional.

Ao começar a frequentar a casa dela, indaguei sobre a dinâmica da vizinhança, e ela explicou-me que as relações entre ela e os vizinhos eram um tanto conturbadas:

— Um vizinho, que pagava pelas minhas fotos sensuais, expôs-me perante todos. Atualmente, ninguém da vizinhança me cumprimenta... No entanto, o indivíduo indiscreto que desembolsava para me ver seminua e que me expôs sem motivo... esse recebe cumprimentos de todos com sorrisos no rosto.

A sociedade tem a tendência de julgar severamente as mulheres que produzem este conteúdo, mas não os homens que o consomem (aliás, esses próprios homens criticam-nas, mas pagam desesperadamente por mais conteúdo).

Ao observar esse fenômeno, percebi que não desejava ser identificado como esse tipo de homem, experimentando uma sensação de orgulho por começar a ver as mulheres de maneira diferente, com mais respeito e empatia.

Numa certa ocasião, movido pela curiosidade e preocupação, questionei-a sobre como seus futuros filhos poderiam reagir ao descobrirem o tipo de conteúdo que ela produzia.

A resposta foi interessante e fez-me refletir:

— Eu luto pela liberdade do meu corpo para que, um dia, os meus filhos possam desfrutar de mais liberdade também! A liberdade dos nossos filhos só existirá se lutarmos por ela agora, além disso, assim como hoje somos mais progressistas do que em tempos passados, os nossos filhos viverão num mundo ainda mais liberal, onde aquilo que faço hoje será normalizado para eles, e não irão ver qualquer maldade nisso, assim como antigamente uma mulher que mostrava as pernas era um escândalo, e hoje em dia é a coisa mais natural de se ver. 

CLÍMAX - vem(-te) comigoOnde histórias criam vida. Descubra agora