Capítulo 4

60 15 0
                                    

Passámos o dia inteiro à procura da dita-cuja. E o dia seguinte também... Exploramos a extensão da praia, percorremos o bar de uma ponta à outra... e ficámos pelo bar mesmo, afinal, tanta procura deu muita sede!

Após alguns copos, levantei-me, já um pouco atordoado, mas determinado a continuar a busca.

— Melhor deixar isso para outro dia. — sugeriu o Romeu.

— Ou desistir de vez... — afirmou o David, já mais embriagado do que eu.

— Nem pensar! — respondi, determinado, tentando manter-me de pé — Eu não aceito ser rejeitado por nenhuma mulher! São elas que caem aos meus pés!...

Mal tive tempo de concluir a frase, pois perdi o equilíbrio e quase caí de costas no chão. Quase... Alguém me segurou a tempo!

Quando ergui o olhar, lá estava o rosto dela!

Ela segurou-me pelos ombros, mesmo junto aos seus pés.

O ambiente ao meu redor pareceu desvanecer. Nesse momento, o David já havia percebido a atmosfera romântica e discretamente colocou a música ambiente no telemóvel.

O rosto dela estava ligeiramente desfocado, mas irradiava uma luz angelical! Enquanto olhava para mim, observei os movimentos dos seus lábios, enquanto pronunciavam algo... "Salvei-te! Deveria beijar-te agora!..."

Parecia uma afirmação audaciosa... mas, quando a imagem ficou nítida e voltei à realidade, ela repetiu em tom irônico:

— Salvei-te, deveria beijar-te agora? — questionou ela, de forma sarcástica, revirando os olhos e deixando-me cair.

Mais uma vez, virou-me as costas para seguir caminho.

O Romeu agarrou no telemóvel do David e pausou a música, dissipando o clima romântico... mas eu não iria ser rejeitado novamente!

— Espera! — gritei (e imediatamente, o David retomou a música ambiente). Tentei recompor-me e continuei:

— Acho que começámos da forma errada. Sobre ontem, queria pedir-te desculpa. Já estava um pouco alterado pelo álcool, e parecias um anjo caído nos meus braços! Deixei-me levar pelo momento. E obrigado por me apanhares hoje!...

— Está tudo bem, estamos quites. — interrompeu ela, dando meia-volta para ir embora.

— Espera! Deixa-me pelo menos pagar-te uma bebida, para expressar a minha gratidão!

— Agradeço, mas eu não bebo. Além disso, este bar tresanda a tabaco, e o cheiro incomoda-me. Passei aqui apenas para comprar um lanche.

Mostrando a sanduíche embalada na mala, ela virou-me as costas e seguiu seu caminho. Desta vez, não sabia o que responder, limitando-me a vê-la ir embora. O David aproximou-se de mim e colocou o braço sobre o meu ombro.

— Mano... não fuma, não bebe.... Conheces a expressão "Não fuma, não bebe, não fode"? Virgem, com certeza virgem...

Não sabia o que responder (o clima ficou tão estranho, que ninguém se apercebeu de que a música de fundo no telemóvel ainda tocava).

No dia seguinte, resolvi ir com os manos até ao café junto à praia, mesmo ao lado do hotel, para relaxar na esplanada.

Mas acham que me dei por vencido? Claro que não! Apenas me recordei de uma das minhas regras: "Eu não vou atrás de ninguém! São elas que vêm atrás de mim!"

Ela haveria de aparecer, mais cedo ou mais tarde..., mas, por enquanto, nada...

No dia seguinte, mais do mesmo. Dia na esplanada, apreciando as belas "vistas", vendo os meus manos tentarem engatar uma ou outra e sendo rejeitados, para variar (eu não sei se isso me fazia sentir melhor, por não ser o único, ou pior, por parecer que desci para o mesmo patamar deles).

Nos dois dias seguintes, tudo igual. Nenhum sinal dela.

A semana estava quase a terminar.

Enquanto desfrutava de mais um dia ensolarado, olhei de relance para a entrada do hotel, onde uma morena de saia curta parecia estar a fazer o check-in.

Decidi ir cumprimentar o funcionário da receção (e a beldade que acabara de entrar).

Quando cheguei, fui recebido pelo funcionário com a maior elegância e respeito:

— Bom dia, Sr. Tiago!
— Bernardo, bom dia, como vão as coisas por aqui?

— Tudo em ordem, como sempre!

— Então, e não me apresentas à nossa nova hóspede?

A morena soltou um leve risinho, ganhando coragem para se dirigir a mim:

— Este hotel é seu?

— Por favor, trata-me por tu! Devemos ter a mesma idade.

— Tão jovem, e já és proprietário de um hotel como este? — a admiração preenchia o seu olhar.

Mantive a minha postura confiante.

— O que posso dizer?!.... Trabalhei muito para ser o homem que sou hoje!

Como esperado, a jovem ficou encantada.

Enquanto lançava o meu charme, as portas do hotel abriram, e alguém entrou, carregando vários sacos de compras, dirigindo-se ao elevador. Quando consegui vislumbrar o seu rosto, percebi que era ela!

— Desculpe, menina, preciso de ir andando. Aproveite bem a estadia! Qualquer coisa, disponha!

Beijei a mão da morena e apressei-me em direção à outra, mas o elevador já tinha fechado.

Corri pelas escadas. Quando a encontrei, abrandei o passo, fingindo que a tinha avistado por acaso:

— Uau! Tu, por aqui? Espera! Deixa-me ajudar-te!

— Oh, és tu... outra vez... — murmurou, com um leve tom de desprezo (mas tenho a certeza de que estava apenas a fazer-se de difícil).

— Que coincidência encontrar-te aqui! Parece ser o destino!

— Ou perseguição... — murmurou novamente, baixinho (então talvez eu tenha entendido errado).

Tentei manter a conversa:

— Não sabia que estavas hospedada aqui! Talvez não saibas, mas eu sou o dono deste hotel!

— Hum, que bom para ti! Deves ter muitos negócios para gerir, então, vou deixar-te trabalhar.

Ela ajeitou os sacos para continuar a caminhar.

— Deixa-me ajudar-te! São muitos sacos para uma dama carregar sozinha.

Agarrei todos os sacos que estavam no chão e segui-a em direção à porta do seu quarto.

Ao destrancar a porta, eu já me preparava para entrar, mas ela segurou os sacos, posicionando-se entre a porta e o quarto.

— Agradeço a ajuda.

— De nada, ora essa! Bem, já que estou aqui, que tal se nós... — nem tive tempo de concluir a sugestão, pois levei com a porta na cara, outra vez... No entanto, ainda não estava pronto para desistir!

Bati à porta novamente, na esperança de que ela abrisse, e tentei mais uma vez lançar o meu charme:

— Então, o que achas de irmos até ao salão de jogos do hotel? Podemos jogar uma partida de snooker. Eu pago!

— Desculpa, não vai dar. Tenho muita roupa para lavar, e preciso de terminar de ler o meu livro hoje. Além disso, sou mais de jogos de dados e tabuleiros, ou então de fantasia, mas, obrigado na mesma. — e fechou a porta, novamente...

Sozinho no corredor, murmurei para mim mesmo: "Prefere lavar roupa, em vez de sair para se divertir; prefere ficar em casa, ler e jogar jogos nerds... Virgem, com certeza virgem!..." 

CLÍMAX - vem(-te) comigoحيث تعيش القصص. اكتشف الآن