Capítulo 33

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Retornando à noite da festa, agarrei na Clara e coloquei-a no ombro, levando-nos no carro dela até casa. Enquanto eu conduzia, ela cantava, berrava e brincava, fazendo caretas aos outros condutores.

Chegando à casa dela, a Clara tentou seduzir-me. Por mais vontade que eu tivesse, ela não estava em si, então, eu não iria fazer nada.

— Covarde! Sê homem! — comentou ela, movida pelo álcool, enquanto soluçava, mal se mantendo em pé.

— Acho que nunca fui tão homem na vida... Um verdadeiro homem não se aproveita de uma mulher bêbada.

Ela persistiu nas suas tentativas de sedução. (Teria de tomar medidas drásticas, então, amarrei-a!)

Agarrei numa das suas cordas Shibari. A Clara pensou que seria uma brincadeira de BDSM, então, permitiu que a amarrasse (mas na verdade, era só para que ela não conseguisse se mexer, dada sua condição descontrolada)).

Mesmo amarrada, continuou a tentar seduzir-me e a insultar-me por não reagir.

Fiquei ao seu lado, aguardando que ela adormecesse, sem ceder à tentação. Aquilo que ela estava a pedir não era nada que já não tivéssemos feito, e, provavelmente, ela iria querer fazê-lo mesmo que estivesse sóbria... mas eu não me sentiria bem com isso...

Na manhã seguinte, fui despertado pelos gritos dela. Era de esperar que a Clara acordasse naquele estado, afinal, estava seminua, amarrada... e de ressaca.

Por momentos, ela realmente temeu que eu tivesse me aproveitado dela na noite anterior...

Demorou algum tempo, mas consegui acalmá-la e fazê-la acreditar em mim, ou pelo menos, era o que esperava...

Ela olhava-me de uma maneira peculiar (ou estava a duvidar de mim, ou estava admirada por eu realmente não ter feito nada).

Respirou fundo e foi beber um copo de água.

Tentei tranquilizá-la mais uma vez:

— Posso ser um idiota em muitas coisas, mas garanto-te que não sou esse tipo de homem, Clara. Mesmo assim, entendo que ainda duvides de mim...

— Eu acredito em ti... — respondeu ela de uma maneira estranha, parecendo contemplativa.

Tentei continuar a explicar-me:

— Eu sei que, geralmente, uma mulher bêbada pode ser um alvo fácil para qualquer tarado com más intenções, mas, garanto-te que não... — ela interrompeu-me novamente:

— Não...quer dizer, sim, eu sei, mas...

— O quê? — não conseguia entender o que estava a incomodá-la.

Depois de dar um gole de água, ela observou o copo e perguntou, incrédula:

— Como é que fiquei naquele estado?

— Bem, estavas tão hipnotizada com os meus passos de dança, que nem percebeste o que estavas a beber.

— Não posso ficar descansada, nem quando saio para me divertir!? Como é que me pude distrair?

— Calma, a culpa não foi tua... foram os ciúmes que te distraíram... — tentei meter-me com ela, porém, parece que a Clara não gostou muito.

— Ciúmes? Quem? Eu? De ti? ... Ciúmes deves ter tido tu, ao ver-me a dançar no palco, rodeada por dezenas de olhares famintos!... Pois é, eu ainda me recordo de alguns detalhes daquela noite! Posso não me lembrar de muito, mas lembro-me do teu olhar nervoso!

— Eu? Ciúmes? Não era eu que estava tão concentrado em passos de dança, que mal percebia o que estava a ingerir! Eu também te vi a olhar para cada passo que eu dava com aquela dama!

— Isso era apenas o efeito do álcool que bebi!

— Que bebeste? Mais parecia que o aspiravas! Bebias tão depressa que mal se conseguia ver a bebida no copo! Admite que estavas com ciúmes... Não tem mal, podes admitir!

— Já disse que não tenho ciúmes de nada, nem de ninguém! Porque é que haveria de ter? Não temos nada sério um com o outro!

— Ainda bem! Se tivéssemos, provavelmente já teria de te mostrar o meu telemóvel, para não pensares que fiquei com o contacto da dama de ontem...

Ela interrompeu-me rapidamente:

— Calma aí! Mesmo que houvesse algo sério entre nós, nunca te pediria para ver nada! Eu nunca teria algo sério com alguém em quem não confiasse! Além disso, mesmo que não tenhamos nada, o respeito ainda se deve manter! Nós combinámos ser mais exclusivos por um tempo, então, esse acordo tem de ser respeitado! A confiança tem de existir. E é por confiar em ti, que sei que não irás ter nada com ela, pelo menos, enquanto estiveres comigo.

Fiquei sem palavras... Estava apenas a meter-me com ela, mas parece que a nossa "amizade colorida" estava mais séria do que eu imaginava! De qualquer forma, senti-me bem por ela afirmar que confia em mim.

Decidi provocá-la mais um pouco, tentando perceber se estava a dizer a verdade:

— Então, se eu deixasse o meu telemóvel aqui, desbloqueado, não irias ter a tentação de mexer nele?

— Claro que não! Se não confiasse em ti, não andava a sair exclusivamente contigo. É a tua privacidade. Eu irei sempre respeitá-la, e acredito que farás o mesmo!

— Eu? Bem, claro que não! Mas, como é que tens tanta certeza, se nunca falámos sobre este assunto? — questionei.

A Clara colocou o telemóvel em cima da mesa, desbloqueado. Olhou para mim e respondeu:

— Porque, se alguma vez mexeres nele, movido pela falta de confiança, eu largo-te na hora!

Ela completou dizendo um número "1948".

— Isso é o quê?

— O meu código.

— E porque é que estás a partilhá-lo comigo?

— Se quiseres colocar música ou GPS, ligar a alguém ou pesquisar algo, podes mexer nele à vontade. Além disso, a melhor forma de ver se uma pessoa respeita a minha privacidade, é dando-lhe livre acesso a ela. Eu quero ver que não mexes no meu telemóvel, não porque não consegues, mas porque confias em mim. E é também uma maneira de demonstrar que confio em ti. Mesmo sem um compromisso, tem de existir respeito e confiança.

— E se eu mexesse, como é que irias saber?

— Eu iria descobrir... Mas não estou preocupada, confio em ti.

Olhei para ela, e depois para o telemóvel. Dei uma risada discreta, coloquei o meu telemóvel ao lado do dela, disse o meu código "5555", sorri e fui andando para a sala.

A Clara veio atrás de mim.

— "5555"? Sério?

— O que foi? É o número que está mais perto do meu polegar quando agarro o telemóvel, e o mais fácil de digitar quando estou bêbado.

Ela soltou uma risada (mas eu estava a falar a sério). 

CLÍMAX - vem(-te) comigoOnde histórias criam vida. Descubra agora