Capítulo 117

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Borges

Mexo minha mão direita, sentindo o incômodo no corpo todo, parecendo que eu tô parado há dias. Passo a língua pelos dentes, sentindo a boca quente e a agonia na garganta, parecendo que tá inflamada ou que tinha alguma coisa machucando ela. Ouço uma voz de fundo e tento abrir meus olhos, mas não consigo pelo sono forte, parecendo que eu tô dormindo acordado.

Bianca: Já fazem 7 dias que ele tá assim - ouço a voz dela e tento abrir meus olhos, mas não consigo - Eu achei que ele ia acordar naquele dia, mas já se passaram mais 2 dias e nada - ouço a voz dela ficando baixa e o barulho do choro baixo, me deixando agoniado na maca com o estofado gelado - Eu venho na esperança dele acordar, mas só vou embora mais triste do que cheguei.

Xx: É assim mesmo, possa ser que ele acorde ainda hoje - outra pessoa fala e eu sinto a mão dela pegando na minha, deixando os nossos dedos entrelaçados - Ele já reagiu aos medicamentos, tá melhorando aos poucos, mas você tem que se acalmar, já comeu? - sinto a onda batendo de novo e o efeito da tontura em mim, eu tento me mexer de novo, mas não consigo, de forma rápida eu paro de escutar tudo ao meu redor e o sono vai aprofundando de novo.

Passo um pé por cima do outro, sentindo o atrito da areia na minha pele e o chão afundando a cada passo meu, olho pro lado e giro meu corpo pra trás, quando ouço os gritos seguidos da risada alta. Passo a mão pela minha camisa branca e o mar fica agitado, fazendo a água parte nos meus pés.

Me abaixo, vendo uma tartaruga tentando voltar pro mar, ela bate as nadadeiras e não consegue sair da areia molhada, mas uma mãozinha pequena consegue levantar ela. Eu ergo minha postura novamente, vendo minha mini pretinha segurando ela com as duas mãozinhas pequenas.

Ísis: Papai, ela tá morrendo e você não ajudou ela - eu olho pro lado e ela dá risada, botando o dedo na boca da tartaruga pequena - Ela mordeu meu dedo, papai.

Eu tento falar, mas não consigo, só dou risada e ela corre pra beirada do mar, colocando a tartaruga pra nadar. Ela fica parada e a tartaruga não se mexe, então ela varre com uma palha de coqueiro, me tirando uma risada grossa. Vejo a carinha de raiva dela e a tartaruga continua parada na areia, ela passa as folhas do coqueiro por cima do casco rígido e nada acontece.

Ísis: Ela não sai, o que eu faço, papai? - eu vejo ela parada ao lado da tartaruga, enquanto eu vou me aproximando, ficando maior a cada passo - Ísis não consegue jogar ela na água.

Eu: Papai ajuda - eu pego a tartaruga e coloco na água que vem da onda fraca, me virando pra trás, vendo o biquíni dela todo torto, a barriguinha gorda tá até cheio de dobrinha - Deixa o pai ajeitar isso, tu fica correndo e o biquíni sai do lugar, já já fica só de fralda - ela bate as duas mãos e eu viro o rosto, quando os farelos de areia voam na minha direção.

Ajeito a parte de cima, amarrando o laço na cor roxa, vendo ela se afastar pra correr de novo, enquanto eu corro atrás dela, ouvindo a risada desesperada e ela caindo na areia, fazendo o cabelo pequeno e cacheado sujar de areia.

Olho pra cima, sentindo os tapas na minha cabeça, eu seguro nos pés dela e ela fica toda agitada sentada nos meus ombros, os dois pezinhos balançando, fazendo bater nas três cicatriz no meu peito. Aperto o pé gordinho e ela solta um gritinho, quando vê alguma coisa.

Ísis: Papai, o meu irmão tá demorando - ela fala lá de cima e eu olho pra ela, vendo as duas bochechas cheias balançarem quando ela fala - Ele foi brincar com a minha irmã e ainda não voltou.

Eu: E tu sabe onde ele tá? - ela nega e eu olho pra trás, ouvindo o barulho do mar, as ondas quebram na rocha grande e respingam pra cima - Então vamo esperar, né?

Ela desce dos meus ombros e passa pro meu braço, eu seguro ela pela bunda, sentindo os dois braços gordinho passando pelo meu pescoço, me abraçando apertado. Sinto os dois pés batendo na minha barriga e o cheirinho gostoso da minha neném. Fecho meus olhos por um tempo ao sentir uma paz interna e o preenchimento no peito, meu peito enche de ar e esvazia, respirando o ar fresco da praia. Ela levanta o rosto e segura no meu cavanhaque, mexendo a mão nos fios grossos, dando risada quando sente o atrito na palma da mão, que ainda tem a pele fininha e sensível.

Além do ImpossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora