Capítulo 110

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Borges

De olhos fechados, eu sinto meu celular vibrando no meu bolso, ajeito minha posição na cama, tirando o iphone do bolso da calça, ainda sentindo ele vibrar em minhas mãos, mas eu nego a chamada e me deito de novo, ainda sentindo o impacto do sono, que foi bem pouco, mas por ser com ela, fica mais profundo. Ligo a tela de novo, vendo o horário da madrugada e ela conseguiu dormir depois de ter chorado a noite inteira, achando que eu quero outra, mas eu só quero ela e os nossos neném.

Ouço o miado do gato preto, deitado entre as minhas pernas e eu solto o ar cansado, ouvindo vozes do lado de fora, não era pra eu ter dormido. Ela sobe mais o braço, ajeitando o rosto no meu pescoço, enquanto dorme com a mão no meu cavanhaque, eu acho que já tô caindo na realidade das coisas, só resta eu me apegar nela.

Bianca: Eu perdi o dinheiro ali na esquina - eu ouço a voz baixa dela e me ajeito, subindo minha mão até às costas dela - Foi na esquina, amor.

Não sabia que ela falava, enquanto dormia.

Eu: Vai dormir, tá acordada? - pergunto baixo, não obtendo resposta, então tiro meu braço de baixo dela, colocando ela pro lado vazio da cama - Amor já vai embora - falo baixo, dando um cheiro no cabelo dela, sentindo o cheiro do creme que eu sou apaixonado.

Ouço mais uns passos perto da janela e pego minha arma na bancada da cama, ouvindo o miado do gato atrás de mim, me aproximo da janela fechada, ouvindo três toques na madeira polida.

Cuzinho: Patrão, tá aí? - ele pergunta baixo e eu confirmo, vendo tudo escuro - A gente já conseguiu contato lá no morro, tu quer ir agora? Ganzeloa falou que a Kaylane tá por lá mermo e o carro cinza tá rondando a área, parece que não é morador de lá - eu passo a mão nos meus olhos e caminho em direção à porta do quarto, ouvindo a respiração dela um pouco pesada, por causa do nariz entopido.

Eu ainda tô com aquela sensação ruim depois de tudo que aconteceu, mas eu fico assim até assimilar as ideias na minha cabeça e depois eu penso direito. Nesse tempinho que eu passei aqui, eu já peguei a visão de que tem algo de errado, não tem outro papo. Na verdade, eu senti isso desde que cheguei na resenha, foi tudo muito rápido, nem deu tempo de reação, só agora eu tô digerindo a situação, tô cheio de coisa na mente.

Abro o portão de ferro e fecho de novo, jogando a chave por baixo da fresta da porta, ouvindo o chaveiro deslizar pelo chão de piso. Ajeito minha camisa por cima do coldre e me viro, pegando o olhar desconfiado do Choco, esse é outro que tá no meu radar, mas ele vai comer na minha mão, tá achando que eu sou bobinho.

Eu: Cuzinho, depois eu quero falar contigo, um papo entre você e eu - ele me olha nos olhos, ajeitando a camisa pendurada no pescoço e eu subo os degraus, voltando a falar - Sem ninguém no meio, papo que vai morrer entre a gente.

Cuzinho: Fala assim não que eu fico com medo, patrão - ele fala baixo e eu passo a mão no meu brinco na orelha, olhando pras duas esquinas da casa dela - Buceda e Toloce já chegaram aí, tem uns moleque novo também.

Eu: Eu quero olhar na cara de cada um, porque eu não quero bagunça no meu comando e já tá tendo demais - caminho até o Jetta preto, parando no capô brilhante - Mas quando envolve a segurança da minha mulher, vocês sabe que fica diferente.

Eu olho a minha contenção em volta do carro preto e o Choco calado o tempo todo, na subida do morro, eu vejo o farol reluzente batendo nos meus olhos, me fazendo franzir o rosto, diminuindo os olhos, tendo a visão do Braz pilotando a minha moto.

Agora todo mundo vai pra Nova Holanda, eu quero resolver por partes, vou na ferida que tá me incomodando no momento, esse carro cinza é o que mais me deixa na neurose, porque andou rodando pela minha casa e tava no mermo lugar que ela, então quem morre hoje é quem tá por trás disso.

Além do ImpossívelWhere stories live. Discover now