Capítulo 01

37.6K 1.5K 196
                                    

Bianca

Acabo de fazer a unha da Tamires e agora vou em direção à casa da Dona Josefa. Ando pelos becos do morro do Vidigal, subindo o escadão chego à casa de mais uma cliente.

Josefa: Que bom que chegou agora, Bia- dou um abraço nela- quase que eu saía pra ir na lotérica, preciso pagar umas contas.

Eu: O pobre só sofre, dona Josefa, mas vamos atualizar as novidades enquanto vou te deixando mais gostosa- ela solta uma gargalhada e se acomoda- Achei que não fosse querer fazer as unhas essa semana.

Josefa: E eu não ia mesmo, mas Wagner me chamou pro forrozão e sabe como é né, tô velha, mas não morta- me olha com uma cara safada- desde a morte do meu marido eu não tenho mais ninguém, Bia.

[...]

Vou conversando com ela enquanto faço a unha dela, assim fazendo o meu dinheiro com meu próprio suor, e vai ser sempre eu por mim mesma. Preciso ajudar meus avós a manter a casa e nossas despesas.

Quando chego em casa vejo a rua um pouco mais agitada que os dias normais, mas o meu cansaço é tanto que já vou entrando em casa.

Eu: Vó, cheguei- dou um beijo em sua testa- Não vai pra igreja não ?

Marisa: Você mal chega e já vem me entopir de perguntas, menina- sorri franco e franzo as sombrancelhas.

Eu: Qual foi o problema agora, vó ?

Marisa: Você sabe, hoje teve indícios de invasão da polícia e seu primo nesse mundo me deixa aflita, mas Deus sabe de tudo e de todas as coisas- vejo seus olhos lagrimejarem e ela limpar rapidamente.

Eu: Eu fico assim também, mas Hugo sabe o que faz- E é sempre assim, meu primo é como se fosse um irmão pra mim, mas não posso e nem me permito passar por essas situações de desespero por uma escolha dele, dificuldade nunca passamos, sempre dando um jeito e assim será.

Vou em direção ao banheiro pra tomar meu banho e descansar porque amanhã é dia de luta. Quando chego ao banheiro, retiro minha roupa e fico me admirando no espelho, porque pelo menos nisso eu tive sorte. Já sou pobre, e ser feia seria castigo, mas admito ser uma grande gostosa.

Amanhã é dia de finalizar o cabelo, admito que parte da minha autoestima depende dele. Amo meu cabelo, mas é uma relação de amor e ódio.

Termino meu banho e vou dormir pra acordar cedo no outro dia e repetir a rotina, graças a Deus hoje é quarta e a semana já vai chegando ao fim.

[...]

Acordo com o barulho do alarme, começo a me espreguiçar e pensar o por quê de eu nascer pobre. Levanto fazendo as minhas necessidades e vou nas mensagens do WhatsApp, me atualizar das fofocas no grupo com as meninas.

As putilícias 💅🏼

Thalita digitando...
Tatha: viadas, ficaram sabendo que Jenjen levou um pau do vaporzinho aqui da rua de baixo ? Kjjakakkkk

Eu: ai cothada, fiquei sabendo que ela tava fazendo fofoca dos bandidos daqui, quem procura acha 💅🏼

Tifanny: ai gente não tenho pena, talarica tem tratamento vip..Jenjen, vulgo, boca de pelo tá com seus dias contados..

Eu: meu Deus, deixe eu ir trabalhar, ao invés de cuidar da vida dos outros, suas desoculpadas... procurar o que fazer não vão ne?

Saio da conversa e vou subindo o escadão, passando pela rua da boca de fumo aqui perto de casa. Daqui consigo avistar o agito por perto, provavelmente o chefe deve tá por aqui hoje. Falam muito dele por aqui, mas as poucas vezes que vi não reparei, o medo falou mais alto, né? Guardo meu celular dentro da blusa e avisto uma Evoque prata passar quase pisando em mim pelo tamanho do transformer...Enfim, sigo meu caminho para a casa de uma cliente. Após subir a calçada de sua casa, dou três palminhas chamando o seu nome.

Eu: Mulher, cheguei ! Bora se aprontar e ficar gostosa para o bailão- Sorrio animada.

Anne: Ainda, vamo que tô ansiosa- Exclama em um tom animado e abre o portãozinho de ferro para eu entrar.

Eu: Ai mulher, senta aí que tenho fofocas novas.- me sento em um banquinho e ela no sofá com as mãos para frente para eu iniciar meus trabalhos.

[...]

Após deixar a Anne maravilhosa, me despeço, saio e volto para casa pelo mesmo caminho que fiz. No meio do caminho aceno para o seu Edi, dono de um pequeno mercadinho que amo fazer compras e chego em casa.

Eu: Cheguei minha véia !- falo me jogando no sofá e logo sinto um tapa em minha cabeça- ai vó !

Marisa: Me respeite menina, velha é sua mãe !- senta com dificuldade no sofá e respira fundo- ai minha filha, desde mais cedo estou sentindo minha cabeça doer e fraqueza no corpo.

Eu: Como assim vó? Já tomou algum remédio?

Marisa: Fui olhar na caixinha de remédios e não tinha o para dor de cabeça, até liguei para o cachorro do seu primo, mas aquela praga disse que ia comprar e não chegou ainda. Certeza que parou em algum canto e foi se meter naquelas coisas que odeio falar sobre...-nega com a cabeça e fecha os olhos.

Eu: Ah, mas eu vou dar uma na cara dele viu? Ô se vou! Já que tô sem fazer nada, vou atrás desse traste e vou pegar o remédio, menino irresponsável!- Falo me levantando do sofá e solto meus cachos que estavam em um coque soltinho- Volto já.

Saio de casa e vou seguindo pra rua da boca, onde provavelmente ele deve estar, seguindo observo uma resenha no fim da tarde. Parece que esses envolvidos não têm o que fazer pra tá bebendo em plena quarta feira à tarde.

Quando chego logo vejo meu primo encostado na moto, sem camisa e com um copo na mão, enquanto mantém o celular na orelha. Aproximo e seu olhar se direciona a mim...

Braz: qual foi, pô ?- me olha franzindo as sombrancelhas- sabe que não gosto de vocês por aqui, só tem gado nessa porra.

Eu: me poupe, Braz, tô aqui porque a vó tá passando mal e você ficou de levar o remédio- por instinto olho pro lado e vejo um homem de costas, os braços regados de tatuagem, boné na cabeça, mas dá pra ver o corte na régua. Não vejo seu rosto, até o momento em que ele olha por cima do ombro e nossos olhares se encontram, e ficamos nessa por segundos, até o meu primo voltar a falar.

Braz: Vou chegar ali, Borges, marca dez que eu tô voltando- ele confirma e me olha, mas faço a egípcia e vou seguindo em direção à moto do Hugo.

Além do Impossívelحيث تعيش القصص. اكتشف الآن