Capítulo 60

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Borges

Puxo a fumaça do meu baseado, esperando o Gaspar aparecer aqui na
boca, tô querendo trocar uma ideia com relação ao Fêu, não vou matar ele agora, porque quero usar um pouco da burrice dele ao meu favor. Olho o movimento da rua cheia de vapor endolando as drogas, sinto a pulseira mexendo no meu pulso e me desencosto do carro quando vejo a figura alta e magra, caminhando em minha direção.

Jogo o baseado pro lado e estendo minha mão pra ele, que ajeita o fuzil no corpo e faz um toque breve comigo. Encaro os olhos castanhos e meio avermelhado a minha frente e passo a língua nos lábios, soltando a voz.

Eu: Tu tá ligado no que aconteceu comigo aquela madrugada - ele confirma, cruzando os braços - Sabe também quem fez a rota e passou a visão de que o jatinho não tava disponível, não sabe? - ele confirma mais uma vez e eu cruzo meus braços, ouvindo ele falar.

Gaspar: Foi o Fêu, tu deixou na minha mão e eu passei pra ele, tá ligado? Mas qual vai ser a sua decisão nisso? Porque o cara tá agindo na calada mermo, nem parece que fez merda, maior X9 vacilão mermo.

Eu: Não vou matar ele agora, quero que todas as minhas ações sejam passadas pra ele - ele franze o cenho e eu confirmo - Isso mermo, quero que seja tudo passado pra ele, mas com a informação errada, tá ligado? Diminuir um pouco o foco em mim - ajeito a aba do meu boné, sentindo a sombra no meu rosto pela luz do sol.

Gaspar: Ele tá fechado com alguém, tu já tem ideia de quem seja? - confirmo - Tranquilo então, vou fazer o que tu quer, mas depois ele vai se ligar que tem coisa errada nisso, patrão. O Fêu é burro, mas tá ligado no movimento, maluco é fingido pra caralho.

Eu: Deixa, pô, aí que eu mato ele, mas quero aproveitar mais disso pra chegar na ferida - falo sério e aponto pra frente - Pode ir agora e mantém a troca de plantão com um a mais, já que o Fêu não conta.

Gaspar: Vou colocar o Pocotó pra fazer parte da segurança da tua casa - confirmo, descruzando meus braços e ele se vira indo embora - Fé aí, patrão.

Eu decidi isso mermo, tô ligado que posso me arriscar por estar criando uma cobra do meu lado. Mas eu quero usar disso pra poder chegar onde eu almejo, tô visando ficar um passo a frente do meu tio, então vale a pena correr o risco. Na vida é preciso correr riscos pra atingir a estabilidade e é o que eu desejo nesse momento. Melhor conquista da vida é viver em paz e isso eu quero pra caralho, não vou dar mole e morrer sem ter feito nada, esses dias andei pensando pra caralho e mudei minha visão com relação a isso, esperar é o caralho, tem que mexer os pauzinho pra fazer a coisa  fluir e é isso que eu vou fazer.

Olho pro lado vendo o Choco trocando os pente do fuzil e o Braz conversando com os menorzinho do movimento. Passo a mão no nariz, sentindo o cheiro da maconha empregnado nos meus dedos, o Choco ajeita o fuzil e vem até onde eu tô.

Choco: Tem outro assunto pra resolver - ele para do meu lado, encostando o bico do fuzil no chão de cimento - O Vina morreu, então automaticamente a tua contenção tá menor, tá ligado?

Eu: Tô ligado nisso, pensei nessa parada também e já sei um substituto - ele direciona o olhar pra mim, passando a mão no cabelo baixinho na régua mermo - Quero o Cuzinho formando a contenção da minha segurança, a da minha casa vai ser o Pocotó.

Choco: Bom mermo, BG, Cuzinho é sagacidade pra caralho, gente boa, pô - passo o boné pra trás, me encostando na parede gelada da casinha de drogas - Vai começar hoje?

Eu: Quero que tu dê o papo nele ainda hoje - ele confirma e eu olho o Braz do outro lado, conversando com o papagaio - Vou sair hoje à noite lá pro lado de Angras.

Choco: Vai fazer o que lá? - ele para pensando e pergunta de novo - Vai pra casa de show? - confirmo quieto - Tá todo calado, qual foi?

Eu: Tô de boa, pô - ajeito minha camisa no ombro e ele estreita os olhos pra mim - Fala logo o que tu quer.

Além do ImpossívelWhere stories live. Discover now