Capítulo 50

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Borges

Tava conversando com o Surfista quando o Cuzinho passou a visão pra alguém liberar a passagem, quando soube de quem se tratava eu mermo fui dar a autorização. Aqui em baixo eu olho a barricada formada, depois daquela invasão eu mandei reforçar a parada, controle de quem entra e sai tá maior.

Subo na moto olhando elas caminhando pela rua, tá a pretinha, a avó dela e a prima que vai passar uns dias aí. Acelero quando passo pelas três e viro o rosto olhando pra trás sorrindo pelo susto que ela tomou. Viro a rua e paro na casa do Surfista de novo, o mano é sem uma perna, pô. Maior humilhação que ele sofre por ser manco sem reverso pra parada, vai ser manco eternamente.

Eu: Voltei, perneta - ele estala a língua no céu da boca, me olhando e eu desço da BMW segurando a camisa do Flamengo na mão - Quero adiantar aquele assunto contigo, pô.

Surfista dá três pulos com a perna direita, porque perdeu a esquerda em um assalto. Foi roubar em morro inimigo e de quebra roubaram a perna dele também. Tenho pena? Porra nenhuma, quem rouba dentro do comando dos outros tem que se fuder mermo, independente de quem seja.

Surfista: Tô ligado - ele se encosta na árvore segurando um frasco de lança - Tu quer? - nego passando a mão no cavanhaque.

Eu: Vou usar essa porra uma hora dessa? Vou nada, tá maluco? Numa dessas tu perde a outra perna, vai ficar só o cotoco - ele me dá dedo e vou coço a garganta - Mas falando sério, vou ter caô mermo por ter matado o Sargento na invasão né? - me encosto no banco da minha moto, sentindo o sol fraco desse horário da manhã.

Surfista: Pior que vai, eu tenho contato com uns mano que tá ligado nessa parada de polícia, pegou a visão? - confirmo sentindo o vento balançar meu cabelo - E isso é briga de peixe grande, matar gente desse tipo nunca é bom.

Eu confirmo, tô ligado nisso, mas não achei que ia respingar pra mim porque era um conflito, porra. Mata ou morre, matei o Sargente Guedes naquele conflito e ainda peguei a frequência de rádio dos caras, mandei a informação errada e isso fudeu os planos deles. Mais uma pra minha conta de tomação de cu, só me fodo, papo reto.

Eu: Quem passou a informação?

Surfista: Grupo dos 157 tava espalhando que tu tá sendo procurado - franzo as sobrancelhas - É, pô.

Eu: Mas minha cara tá na mídia? - ele nega como eu imaginava - Tua cara não, mas o vulgo sim, todo mundo sabe do teu vulgo por causa do teu falecido pai, meus pêsames pra tu - ele diz na inocência.

Nem sabe ele que quem matou foi eu mermo. Mas eu sou frio nessas situações, o jeito é agradecer. Evito ao máximo explanar que eu matei meu pai, mas só faço isso pra não ter que contar o motivo, seria exposição pra caralho com quem nem tá envolvido.

Eu: Obrigado, mano - falo sério olhando ele jogar o lança no chão - Mas tem 5 anos que ele morreu, já sofri o que tinha que sofrer - vejo ele confirmar em silêncio.

Surfista: Tô ligado, mas foi só isso mermo, Borges - ele estende a mão pra mim e eu pego ajudando ele a sentar na cadeira - Evita ao máximo dar bobeira mostrando tua cara, eles sabem quem tu é, mas ninguém tem foto sua recente ou tem? - nego olhando a moto passar devagar, perto de mim, e cruzar a rua de baixo.

Eu: Última foto minha que vazaram foi de quando eu morava lá no Israel - me refiro ao morro que o meu pai comandava - Hoje em dia tem foto minha não, já viu vagabundo mostrar a cara? - ele dá risada olhando o pedaço de perna que ele tem.

E é verdade, não tiro foto com ninguém. Última foto minha que foi vazada foi há uns 7 anos atrás, era diferente do que tô hoje. Uma lombriga procurando abrigo, pra ser mais específico. Sempre fui um cara bonito, mas hoje em dia é covardia, papo reto. Última foto que tirei foi com a minha afilhada, mas é tranquilo pra mim e se eu tirei foi sabendo do risco. Não tiro foto com mais ninguém.

Além do ImpossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora