Capítulo 70

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Borges

Ajeito o tecido do meu short preto da Nike, esticando o pano que estava franzido. Pouso minha mão na minha perna e fico observando as pessoas que estão dentro desse iate. Levo o meu baseado até à boca, ouvindo os passos próximos da minha audição, ficando mais aparente a cada passar de segundos. Olho pro lado, vendo o Leon, um cara importante dentro da hierarquia, mas que não passa essa sensação, justamente pela falta de postura.

Observo o cara alto, com um sorriso no rosto e uma garrafa de whisky nas mãos, ele aponta a garrafa pra mim e sorri, continuo sério, pensando pra caralho no motivo de eu ter vindo até aqui. Não tô aqui pra curtir, eu tô aqui pra almejar coisa grande, quero expandir minha marca, mas pra isso acontecer eu tenho que jogar um pouco baixo, dependendo do ponto de vista de quem está contando a história...

Leon: Borges, tu tá todo quieto, tô ligado que tu quer conversar, mas não vai curtir não, porra? - ele se senta no banco ao meu lado e eu escuto o chiado do estofado, ao perder ar com o peso dele - Só vou conversar agora, porque é você quem tá aqui, se fosse outro eu não falava, hoje é curtição - continuo calado, tirando as cinzas do meu baseado, ouvindo a falação ao redor.

Eu: Eu só quero saber o básico, nada mais - falo sério, observando ele abrir a garrafa, despejando o whisky no copo - Nem queria tá aqui, tenho um assunto importante pra resolver ainda hoje, mas pode esperar.

Leon: Eu fiquei sabendo por alto, mas a resposta não sai de mim, é todo um conjunto e tu tá ligado - confirmo, virando meu rosto pro lado quando uma loirinha dá risada e se esbarra em mim, mas eu volto minha atenção pro cara falando, aqui do meu lado - É sobre o assunto do seu tio né?

Eu: Isso mermo, que a facção não vai fechar comigo eu já tô ligado - falo e trago meu baseado até a boca, puxando a fumaça - Mas eu quero saber em quais circunstâncias eu teria apoio, se eu quero fazer a parada, não posso me achar o fodão e achar que vou matar todo o caô no meu peito.

Leon: Tá no acerto mermo, um grande homem reconhece suas fraquezas - observo o dente de ouro quando ele fala e sorri pra mim - A facção não vai se envolver na tua briga com ele, porque o morro de Israel já é nosso, mas se tivesse disputa de território a facção entraria na briga - confirmo, ficando calado, aponto pra frente quando um cara chama ele - Tu não quer conversar mais não?

Eu: Pode ir, depois nós desenrola, tá ligado? - ele levanta com a garrafa em mãos e faz um toque comigo, saindo daqui.

Eu só queria uma confirmação disso, essa semana eu fiquei sabendo que o meu tio tá no comando do morro do Barbante. O antigo morro que eu morava, o de Israel, era comandado pelo meu pai e o irmão dele, o Jhon. Mas como eu matei meu pai, com a ajuda da facção, o morro passou a ser território do CV. A facção não fecha comigo no caso de um confronto direto entre eu e o Jhon, mas com a disputa de território ela entra na história.

O cara é peça chave do TCP, não posso ser bobinho e meter a cara, achando que vou sair ganhando. Então eu já decidi que eu vou tomar o Barbante dele, muito em breve vou meter a cara e ter dois comando no meu nome, com isso, ele vai querer o que era dele, é aí que a facção entra.

Meu intuito é apenas causar discórdia pra ter um certo favorecimento nessa história. A facção não quis fechar na boa, então vai perder território pra me dar apoio, essa porra é um jogo de interesse, otário quem fica com papinho de facção em primeiro lugar. Facção é a minha pica, tô pouco me fudendo, só fecho com eles por benefício próprio, no mais, é cada um com o seu.

Mas eu também sei que se eu contasse o motivo disso tudo, o porquê de estar sendo perseguido pelo meu tio, a facção fecharia comigo. Eu só não faço isso pra não expor a minha mãe, matei o meu pai há 5 anos atrás, por causa dela. Pra mim ele sempre foi um pai do caralho, era a minha referência, mas isso tudo acabou quando eu cheguei em casa e vi ele tentando estuprar a minha mãe. Ali eu só vi a ilusão de uma vida inteira que eu mentalizei com a minha figura paterna, quando presenciei aquela porra, não pensei duas vezes pra matar ele. Não matei no dia, porque eu iria me foder e acabar prejudicando a minha mãe, que é a única vítima dessa história. Mas matei no ano seguinte, e se eu consegui, foi com o apoio da facção, menti sobre o motivo, mas fecharam comigo e em troca eu ajudaria na posse do Israel.

Além do ImpossívelDove le storie prendono vita. Scoprilo ora