Além do Impossível

Capítulo 105

Bianca

Eu passo a alça do sutiã pelos meus ombros, ouvindo um resmungo baixo do Victor, que só tá usando uma cueca preta, enquanto se olha no espelho do banheiro. Olho pra baixo, vendo meus seios bem inchados e doloridos, se tá assim agora, imagina quando tiver saindo leite, eu não vou aguentar parecer aquelas vaca leiteira, não tô preparada, mas esse vai ser o menor dos problemas se eu pensar que vão ser logo dois neném, mamãe vai sofrer muito.

Borges: Por que você fez isso, pretinha? Olha como ficou o meu pescoço - ele se vira pra mim e eu tiro o sutiã de novo, olhando o pescoço dele todo roxo, cheio de chupão, sorrio de lado e ele passa a mão por cima - Tá muito marcado, vou viajar desse jeito, parecendo uma puta de esquina.

Eu: E o que você tava tentando fazer no meu? Tu quis deixar marcado, teu azar que eu sou preta e você é branco, da próxima vez tu pensa melhor antes de fazer - me aproximo dele, olhando as marcas e ele fica me encarando - Esse sutiã anda me apertando muito, vou ficar sem.

Borges: Pra ficar marcando tudo? - saio do banheiro e ele vem atrás, falando baixo, mas eu sei que é sério pelo tom de voz firme - Teu peito é grande, tá maior ainda, então usa o bagulho, papo reto - olho pra trás, vendo o sutiã na mão dele e eu nego - Vai ficar todo mundo olhando, lá em baixo tá cheio de homem, então usa o sutiã, Bianca - ele me chama pelo nome, o que é bem raro e eu arqueio as sobrancelhas, parada em frente ao espelho - Eu tô falando no papo reto, mas tu se faz mermo, depois eu sou o errado, veste o sutiã!

Eu: Eu já tô me estressando com você, me deixa ficar com o peito do jeito que eu quero, ouviu eu falar que tá me apertando? - puxo a gaveta, ouvindo a roldana correr pelo trilho e ele me olha sério, parado em frente à cama - Quem tá grávida sou eu, a mudança tá em mim e o que mudou foi aqui - aponto pro meu peito e ele fica calado - Tá dolorido, então eu não vou usar e se você ficar com raiva por isso, o problema é seu, não meu! - ele fecha os olhos e solta o ar, andando até o outro lado do guarda roupas - Se alguém ficar olhando o problema é de quem olhou, você pega e mata a pessoa, tá satisfeito? Eu não vou usar.

Borges: Tu tá tirando a noite pra me irritar, só pode ser isso, porque tá foda, papo reto - ele tira a aliança e eu fico calada, vendo os próximos movimentos dele - Eu tô tirando pra tirar o sabão, não é outra coisa não - tenho vontade de rir, mas me seguro, dando ombros - Tudo eu tenho que explicar, nem a aliança eu posso tirar, a louca dos término é você, não sou eu - eu visto um macaquinho preto, ouvindo ele falar - Eu te amo, então não me separo de você, já você é diferente, toda hora quer me deixar sozinho - eu solto uma risada baixa e ele sobe a calça jeans, deixando a barrinha da cueca pra fora.

O Vitinho é o drama em pessoa, ele é muitas coisas na verdade, muito seguro em algumas decisões, sabe ser gostoso, carinhoso, chato, mandão, mas também é extremamente mimado, dependendo do mimo, comigo ele não se cria. O mimo quem tem que dar é a mãe dele, eu já tô dando coisa demais pra ele, tô falando em todos os sentidos atribuídos à palavra dar.

Solto o ar por uns segundos, sentindo um pouco de azia, mas logo passa. Sento na cama, vendo ele falando comigo, tá vestido na calça preta, que ele não larga, uma camisa vermelha que fica toda justinha nele, a maioria fica assim porque ele é todo grandão. Os braços cheios de tatuagem chama atenção, junto com o relógio de ouro e a aliança no dedo direito.

Borges: Vou usar só um cordão, porque vou subir no jatinho hoje - eu franzo o rosto e ele balança a mão do relógio, fazendo a peça balançar no pulso dele - Se fosse aqueles cara cheio de lataria, eles ia ficar de para raio, só moeda antiga, pô.

Esqueci de falar que ele também é muito metido, muito mesmo, tudo ele é o mais gostoso, o mais rico, o que não passa vergonha, o pior que ele tá certo, mas é muito convencido, só espero que os nossos filhos puxem a minha humildade, porque o Victor é perdido.