Capítulo 116

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Bianca

Acordo assustada, depois de outro sonho ruim, ajeito meu cabelo, jogando o amontoado pra cima, enquanto eu abano a parte de trás do meu pescoço, sentindo o calor descomunal e a agitação no peito, aquela sensação de estar perdida, é assim que eu me sinto. Passo a mão pela frente do meu pescoço e franzo meu rosto, vendo a luz do sol atingir uma parte da cama, observo a luz retilínea, dando foco pra poeirinha que fica pairando pelo ar.

Olho a Giovana dormindo do meu lado, agarrada no Clóvis que também tá na cama. Hoje fazem 5 dias de tudo que aconteceu naquela manhã, eu só consigo dormir depois de chorar por um tempo, outras vezes eu nem choro, só fico no meu canto, tendo o meu momento de reflexão e no final delas, eu ainda não consigo entender o sentido de tudo isso, não há propósito pra ter sido daquele jeito. Se houver, eu me recuso a entender.

Ajeito as alças do meu vestido de cetim preto, ouvindo a pouca movimentação lá na rua. Saio do quarto, indo pra sala e lá tá a minha avó, ela me olha e ela nego com a cabeça, não estando pronta pra conversar com ninguém.

Marisa: Pelo menos vai comer, você não tá se alimentando direito - ela fala baixo e eu passo a mão pela minha barriga, sentindo o volume maior a cada dia - Vai comer, os neném precisam tá fortinho, você sabe do susto que passou.

Eu: O que eu menos quero é ficar lembrando disso, vó - ela passa a mão na coxa e desvia pra televisão - Foi tudo sequenciado, foi o Victor, depois o nosso filho, não tenho cabeça pra suportar nada disso e muito menos viver uma vida normal, com o tempo as coisas voltam pro lugar.

Eu saio da sala, passo pela cozinha vazia, batendo o olho na panela preta, que é aquecida pela chama azul do fogo. Observo o vapor saindo e a chaleira apita, indicando que a água já está fervida. Passo alguns segundos parada e saio da cozinha, indo pra porta do quintal, vendo o tanto de roupa estendida no varal, inclusive o meu body branco.

Eu olho pra ele por um tempo e fecho os olhos, parecendo voltar pra cena, relembrando de cada detalhe e desespero que eu passei, minha barriga até revira só de lembrar. Abro meu olhos, novamente, vendo o body se mexer quando o vento passa, eu consigo ver as manchas de sangue nele, mesmo entando limpo, tá bem branquinho.

No mesmo dia que aconteceu tudo, eu dei entrada no hospital, passei mal por horas e quase perdi o nosso menininho, foi tanto desespero, eu me sinto culpada por ter deixado tudo de lado, inclusive ainda me sinto, porque não tô tomando os cuidados que deveria, mas eu sei que não tenho culpa. O coraçãozinho dele ficou mais fraco que o da Ísis, os batimentos mais lentos e a insuficiência tava aumentando, tive que passar uns 3 dias pra tudo normalizar, mas ainda tô sob observação dos médicos.

Marisa: Ouviu o que eu disse? - ouço a voz de fundo e me viro, enxugando minhas lágrimas - A missa da Neide vai ser nesse final de semana, a igreja vai fazer uma missa pra ela, se soubessem como foi, nem deveriam tá fazendo, que Deus me perdoe.

Eu: A senhora vai? - ela nega e eu me encosto na pilastra, que divide a porta - O Choco que matou ela ou foi outra pessoa? - ela dá ombros e eu respiro fundo, sentindo a tremedeira nos lábios - Vai demorar pro Hugo chegar? - ela nega e me abraça, passando a mão pelo meu braço, alisando sem falar nada - Ultimamente eu só sei sentir medo, não tá nada bem...

[...]

Vejo a Giovana assistindo um desenho, a programação acaba e começa outro, eu não presto atenção, até ver o início do filme da Moana, rapidamente eu pego o controle e mudo de desenho, colocando outro qualquer.

Giovana: Por que tirou, Bibi? - ela senta no braço do sofá, apoiando os pés no assento cinza - Eu gosto da Morrana e o meu tio também, até você gosta - ela dá risada, esticando o vestido dela e eu aliso a minha barriga - Meu tio disse que ia me levar pra andar de moto, mas ele não veio, será que ele vai demorar muito? Ele não mentia pra mim, mas agora virou mentiroso, vai ficar com o nariz igual o do Pinóquio!

Além do ImpossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora