Capítulo 77

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Bianca

Como os três pedaços de bolo que estavam dentro do pote colorido, o Victor fica mexendo no celular dele, alisando a minha coxa com a mão grande, enquanto eu olho pra frente, vendo a televisão noticiando uma reportagem sobre a morte de um sargento, isso foi há semanas atrás, aqui no morro mesmo. Fico quieta, mastigando meu último pedaço de bolo e me mexo, sentindo ele apertar a minha perna.

Borges: Fica quieta - ele fala baixo, batendo de leve na minha perna e eu olho pra ele que continua com a atenção no celular, eu olho o nome "Kaylane" e desvio minha atenção quando ele me olha - Qual foi? - nego, ajeitando meu cabelo, minha avó me olha e se levanta da poltrona, indo pra cozinha.

Passo a mão entre meus lábios, limpando os pedacinhos de bolo, ouvindo o celular dele apitando toda hora, depois começa uma ligação e é da mesma pessoa das mensagens. Ele estala a língua no céu da boca, mas leva o celular até à orelha, atendendo em seguida, observo sua mão tatuada segurando o aparelho e a voz de mulher ecoa pelo ambiente, mesmo sem estar no viva-voz.

________

Kaylane: Demorou pra me responder hein, Borges? Tô tentando falar contigo desde cedo - ouço a voz fina, falando pela chamada e ele fica calado, alisando minha perna, eu fico quieta só ouvindo a conversa - Tava ocupado?

Borges: Fala logo, pô, tava ocupado, já te dei meu papo ontem à noite, o que foi agora? - ele fala sério, encarando a televisão ligada, observo as veias do seu braço saltando e a cara ruim que ele tá - Tô ligado, amanhã nós resolve isso, tu sabe como funciona, mas tá pagando de doida no bagulho.

Kaylane: Era só uma dúvida mesmo, espero que você apareça na hora certa - franzo as sobrancelhas não entendendo o sentido disso, mas fico ouvindo - Eu vou te esperar tá bom? E o meu pagamento vai ser a mais, 10 mil tá pouco, tu é gostoso, mas não vou aceitar esmola sua - ouço a risada dela e faço menção de levantar, mas ele me segura mais firme, eu tento sair de novo e dessa vez o Victor me olha sério, apenas com o olhar eu consigo entender o que ele quer - Mas vamo combinar os horários viu, neném.

Borges: Vou te encontrar no horário certo, pô, mas fica na cautela, corta o papo furado e faz o teu - ele fala com a voz rouca e eu fecho a cara pra ele - Vou aumentar teu pagamento, é só tu não ficar me ligando, tô com a minha mulher, tá ligada? Então fica na atividade - fico calada, ouvindo ele resmungar alguma coisa quando desliga a chamada.

Limpo minha boca mais uma vez, nem tem nada, mas eu tô limpando. Ouço o barulho na cozinha e fico na minha, sentindo a respiração pesada na linha do meu ombro, logo em seguida a voz dele.

Borges: Eu não tô brincando, isso é coisa envolvendo o que eu faço, não é nada do que tu tá pensando - ouço sua voz grossa, falando de um jeito mais sério, me viro por cima do ombro encontrando as íris castanhas - É por isso que amanhã a gente não vai se ver.

Eu: E ela te chamar de gostoso é normal? - abro meus braços e ele fica calado - Ainda te chamou de neném, não entendo que tratamento é esse, sendo que é coisa do crime - falo baixo, curvando minha coluna pra coçar minhas costas - Se você ouvisse alguém me chamando assim, já ia querer matar a pessoa, mas tá tudo bem.

Borges: Para de neurose, tu me viu dando ideia nela? - fico calada e ele passa os braços em volta do meu corpo, falando grosso no meu ouvido - Eu falei que tava com quem? Ontem foi a merma coisa e eu não dei ideia, só tô falando com ela até amanhã, porque preciso da ajuda dela pra resolver um bagulho - sua mão sobe até o meu maxilar, virando meu rosto de encontro ao dele, me dando um selinho demorado - É só isso.

Eu: E você nunca pegou ela? - ele fica calado e eu dou risada sem graça, já sabendo a resposta - Era de se esperar, mas diferente de você eu não vou surtar, porque vou confiar no que a gente tem, sempre vai ser assim - paro de falar, engolindo o acúmulo de saliva, vendo a claridade deixar os olhos dele mais claros - Eu sempre vou confiar em você, mas se um dia tu quebrar essa confiança, você não vai conseguir restaurar ela, porque eu não vou tá quebrando a cara com homem - ele solta uma respiração pesada e balança a cabeça confirmando - Se a gente quer ter uma relação, não é privando o outro de fazer as coisas que vai dar certo, isso funciona a base de confiança, então a minha você tem, basta andar na linha.

Além do ImpossívelWhere stories live. Discover now