Capítulo 112

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Borges

Horas antes...

Sentado na cadeira de plástico, eu fecho meus olhos, soprando a fumaça pra cima, sentindo o vento fresco atingindo o meu corpo sem camisa. Deslizo um pouco sobre a cadeira, deixando meu pescoço encostado no encosto, enquanto espero o Cuzinho voltar da missão, de ontem pra hoje o Borges teve que agir, tava muito bagunçado e eu tenho noção disso, tava vivendo no meu conto de fadas e acabei negligenciando outras coisas.

Olho as horas no meu relógio, vendo que ainda é madrugada, o céu vai ganhando uma tonalidade alaranjada e o sol vai querendo aparecer, enquanto minha mente bate na ansiedade de esperar notícias do vagabundo do Cuzinho, só isso e eu resolvo 101 dos meus 100 problemas. Tive que vim pro Barbante, porque teve chamado por uma suposta invasão, mas até agora nada, então fiquei aqui mermo.

Fenol: Patrão, o caminhão que tava trazendo as drogas virou na estrada - eu olho pro lado e ele ajeita a corrente no pescoço, batendo a mão no braço, quando um mosquito pousa - Chegou notícia agora mermo, carga toda se perdeu e a PRF já tá na pista.

Eu: Só tô me fudendo nessa porra, foi a carga da Colômbia? - ele confirma e eu me levanto, segurando a camisa na mão direita - Um caralho que eu vou perder 1,3 milhão, pode mandar o recado pro Gatito, porque eu não vou perder meu dinheiro pra vagabundo nenhum, só falta eu cair na boca da polícia por causa dessa porra!

Fenol: Já tão investigando, tu não tem noção do tanto de droga, foi só um caminhão, mas é muita coisa - eu estalo a língua no céu da boca e puxo a fumaça pra dentro, sentindo o limite do pulmão - Papo de Pablo Escobar, patrão.

Eu saio de perto dele, olhando meu celular chegando notificação. Eu tô pagando 100k todo mês por causa do show do Ret, tudo que aconteceu só fudeu comigo, deu bom em nada aquele show. Mas eu tenho certeza que se a investigação chegar em mim, eu perco essa trégua com a polícia e viro procurado de vez, isso fode com tudo.

Eu: Braz! - grito por ele, que tá lá na outra esquina, conversando com uns envolvido - Faz a ronda, porra! Vai ficar conversando mermo? - abro os braços e ele grita lá do outro lado - Faz a ronda que eu vou circular, bora caralho, presta atenção!

Braz: Eu tô manco, meu filho! - ouço o grito dele e vou caminhando pra esquina, puto pra caralho - Caí da laje agorinha, mas tô bem, obrigado pela preocupação! Eu tenho TDAH, tu tem que entender isso, para de me julgar!

Eu levanto o braço, mostrando o polegar e vou caminhando pelo morro que eu nem conheço direito. Vejo algumas pessoas me olhando, outras me encaram disfarçando, alguns arrisca olhar e eu continuo fumando um, só pensando nas neurose pra minha mente. Ainda tô puto pelo carro cinza, matei o finado Ferreira e o irmão veio me cobrar, não pensei nas consequências disso, pior seria se acontecesse alguma coisa com a minha mulher, o diabo ia tomar posse do Rio de Janeiro, papo reto.

Vejo o bar aberto e vou até lá, vendo só umas mesas pra fora e um cachorro caramelo deitado ao lado da cadeira vermelha.

Xx: Patrão, voltou mais rápido do que a gente esperava! - a menina nova fala e eu continuo sério, tendo a certeza de que eu tô exalando maconha - Quer o que? Da outra vez tu não quis nada.

Eu: Café da manhã, só isso mermo - cruzo meus braços e ela ajeita o avental branco, saindo de perto de mim - Putinha de esquina do caralho.

Olho a movimentação aumentando aos poucos e nada do Cuzinho aparecer, ainda tenho compromisso hoje, não tô esquecido da ultrassom, só não posso tá de bobeira agora, mas é claro que eu vou ver a primeira consulta dos meus baby Borges, isso é fato.

Ajeito a minha calça folgada, subindo um pouco o tecido jeans, vendo ela abaixar um pouco, mostrando a barrinha da cueca branca da Nike. Olho pra lateral do meu corpo, vendo minha tatuagem refletindo um pouco de brilho, por causa da pomada de proteção. A nossa foto me faz acelerar os pensamentos, então eu paro de olhar.

Além do ImpossívelWhere stories live. Discover now