Capítulo 111

11.3K 1.2K 876
                                    

Bianca

Franzo meu rosto, olhando os meninos aqui na porta de casa, eu conheço um, que eu acho que se chama Buceta e o Toloce eu já sei quem é, só não sei quem são os outros. Já imagino que foi o Victor que botou pra minha segurança, eles se movimentam de uma esquina a outra e a Tifanny dá risada de alguma coisa, enquanto costura uns sapatinhos, que diz ela que vai ser o presente pros meus bebês.

Toloce: Tá precisando de alguma coisa, Bianca? - eu nego e ele passa a mão tatuada pelo nariz, puxando o ar com tudo - Segurança pra você, tu dizendo que não era nada do chefe, isso e aquilo, aí hoje eu sou teu  segurança, porque o chefe mandou, tá vendo as voltas desse mundão? - eu sorrio fraco e ele se senta no degrau quente do sol - Isopropil, troca de lugar com o Aldeído.

Tifanny: Caraio, tinha vulgo melhor não? - o Toloce ri e eu ajeito a camisa do Victor, que parece um vestido em mim, tem até o cheiro dele - Parece nome de remédio, sei lá, coisa feia da porra!

Isopropil: Não é nome de remédio não, o vulgo é porque eu era bom em química - ele tira o boné, coçando o cabelo platinado, bem branquinho - Hoje eu sou cria e pra mexer com droga tem que saber um pouco de química, tu acha fácil fazer lança? Se fizer errado, é uma baforada e tu vê Jesus mais cedo.

Tifanny: Hum, nunca fui boa em química, mas a nossa ligação tá batendo forte - ela dá risada e ele bate no ar, jogando o fuzil pra trás - Brincadeira, não gosto dessas coisas não, Isopropil.

Eu olho pra rua toda calma, o sol bem forte e um clima bom, bom pra quem tá bem, porque em mim tá tudo agitado, eu não tenho ânimo pra nada. Ainda tô pensando na minha consulta, que eu preciso ir hoje e não sei com quem eu vou, mas tá tudo bem.

Olhos pra baixo, vendo meus pés pequenos, por cima do chinelo branco bandeirinha, mexo meus dedos e sinto o estalo agudo, ouvindo o barulho das bolhas estourando. Seguro no portão de ferro, vendo o menino fazendo a volta pelo carro vermelho, furando o pneu do carro, me fazendo estranhar.

Toloce: Aldeído, tá furando o pneu do cara por que, mano? Maldade isso aí - ele se vira por cima do ombro e continua sério, olhando na nossa direção.

Aldeído: Me chamou de carvão, só porque eu sou preto, furo mermo - ele encaixa a chave no pino e eu ouço um barulho de ar se esvaindo - Carvão é o meu pau no cu dele, vai sair meladinho - a Tifanny me olha e eu arregalo os olhos, ouvindo as risadas dos meninos.

Eu: Deixe eu ir cuidar, porque hoje vai ser um dia longo pra mim - falo baixo e a loira faz bico pra mim, enfiando a agulha no tecido de crochê - Vou entrar, preciso me arrumar pra consulta.

Tifanny: Vai me deixar sozinha com o Toloce, Buceda, Aldeído e o Isopropil? - ela abre os braços e eu solto uma risada baixa, vendo a cara que ela faz - Mas vai lá, eu sei que tu tá cansada, Bibi Borges - eu franzo meu rosto e ela faz bico - Força do hábito, eu nunca vou superar o Bibi Borges...

Eu: Até eu já acostumei, mas para de me chamar assim - passo a mão no meu olho, coçando o cantinho e continuo - Vou ver se consigo comer alguma coisa.

Essa noite eu já chorei o que tinha pra chorar, agora eu só tô reagindo às coisas, não consigo chorar mais, mas me sinto tão pra baixo, triste  e preocupada com tudo. Mas eu consegui dormir bem, porque ele tava aqui comigo, só não dormi depois que acordei pela madrugada, ele já tinha ido embora e agora eu não sei mais de nada, não falei sobre a consulta, só comentei que ia marcar pra hoje, ele provavelmente não vai comigo.

Eu me sento no sofá pra comer um pouco do café da manhã, que a minha avó fez. Inclusive, tô esperando ela sair do banheiro pra conversar, porque o que realmente me pegou foi o fato dela ter se envolvido com ele, foi isso que me fez tomar a atitude de vez.

Além do ImpossívelWhere stories live. Discover now