Festival

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Ambrose não parecia nem um pouco a fim de ir para o tal festival, mas isso mudou quando Hex avisou a ele que a taberna Abóbora Banguela ia estar oferecendo drinks grátis para os mestres que se apresentassem por lá com seus "modorros".

— Esse é um evento mais para arcanistas, mas acho que vou dar uma passada com o pessoal lá, mais tarde. — Eleonora falou.

— Bobagem, é um evento para todos da cidade, embora focado nos mestres e modorros. — Hex explicou, — repare que só modorros e não qualquer tipo de aprendiz.

— Até agora eu achava que "modorro" era uma palavra esquisita para aprendiz. — Álvaro admitiu.

— Ah, não, não, é uma gíria para aprendizes bem iniciantes que sequer completaram três graus da Ordem de Helena.

— E como a gente sabe em que grau está? E quantos graus existem?

— Você não deveria se preocupar com isso, mal consegue ser um grau um. — Ambrose reclamou, — agora, vamos logo, não quero passar muito tempo por lá, sinceramente.

— Mestre Ambrose, — chamou Beatrice, — isso então significa que você vai nos apresentar como seus aprendizes oficiais?

O velho pareceu pensar por um instante enquanto fitava a garota com sua costumeira expressão carrancuda.

— Tsc, eu ainda não me decidi sobre isso.

— Que seja, se vamos mesmo aparecer em público eu não vou andar ao lado de dois esfarrapados que nem vocês! — Ela apontou para Álvaro e Ambrose.

— Qual o problema com o que estou usando?

— Você está usando isso a dias, e, pelo que consigo enxergar, é roupa de dormir! Esse é um evento cultural importante da cidade, deveríamos vestir roupas tradicionais da bruxaria, ou pelo menos roupas apresentáveis.

Ambrose e Álvaro se entreolharam. Eleonora disse:

— Olha, rapazes, eu vou ter que concordar com ela. — E deu risadinhas disfarçadas.

— Por sorte, — Beatrice continuou, — eu mesma já preparei suas vestimentas, me agradeçam depois!

Algum tempo depois Ambrose estava estacionando o fusquinha amarelo frente ao lugar conhecido como "Abóbora Banguela", supostamente a taberna mais antiga da cidade, fundada há mais de um século. O dia deveria ter algo de especial, pois o velho Ambrose tinha aceitado vestir a roupa que Beatrice arranjara para ele e até mesmo tinha tomado banho! Era, talvez, a primeira vez que isso acontecia desde que Álvaro tinha chegado ali. O velho estava vestido com camisa e calça social, suspensório e um robe de mago amarelo por cima. O robe era tão longo que arrastava no chão. Beatrice tinha escolhido o amarelo, pois era a cor do "Citrinitas". Por falar nisso, Hex havia sugerido que Álvaro usasse a camisa do antigo projeto de Ambrose, mas o mago negou, como se isso fosse confirmar que ele tinha trazido o projeto de volta. Com isso Álvaro usava roupas casuais sob um manto vermelho que lhe ia até os joelhos. Beatrice usava seus costumeiros vestidos bufantes, mas hoje tinha um hennin na cabeça, um tipo de chapéu bem pontudo com enfeites de tecidos nobres.

O taberneiro da Abóbora Banguela era um homem de talvez cinquenta anos, barba rústica e grisalha, baixo, gorducho e com entradas de calvície, ele era conhecido como José e repreendeu Ambrose por ter aparecido ali pelos drinks grátis, afinal isso só seria mais para o fim do festival.

— Vai aproveitar o festival, seu velho! — José disse para Ambrose com uma grosseria que só era possível com muito tempo de convívio, — a vida não é só beber.

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