Grimório Obsidiana

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"...Exilado por um tempestuoso amor

vivendo na eterna sombra do ódio e terror

Rei Lua, sou como tu, desgarrado eterno

Sôfrego de morte e amor, soluço no inferno!"

Palmas tímidas se fizeram ecoar por aquela sala de luz deprimente bruxuleante quando o sujeito terminou de ler seu poema. Ele era um jovem bem pálido de lábios finos, um corte de cabelo "curtained heartthrob" meio bagunçado, meio penteado pro lado, óculos retangular escuro, blazer preto sobre uma camisa listrada e uma atitude blasé. O poema que ele acabara de declamar falava alguma coisa sobre solidão, exílio, sofrimento, decadência e algo sobre um tal "Rei Lua".

Para ser sincero, Álvaro estava bem disposto a querer deixar aquele lugar. "Grimório Obsidiana Café e Livraria" um dos lugares onde a nata da juventude esquisita daquela cidade costumava se encontrar, esta noite com o lançamento do livro "Luar Gelado, Exílio e Amor Ardente", do poeta Sasha Jung, o sujeito desbotado que estivera lendo aquele poema chato e depressivo.

Depois dele ter lido alguns poemas uma entrevista seria feita com o autor. Eleonora se empolgou com os amigos, apontando para a mulher que ia entrevistar o poeta, aparentemente ela era chamada de "Fantasmagótica" e era editora do "Nocturna Obscura" um fanzine para esquisitos.

Eleonora percebeu como Álvaro e Beatrice não estavam nem um pouco empolgados com aquilo e disse que eles poderiam andar pela livraria e ver alguns livros ou pedir alguma coisa da cafeteria. Atlas quis os acompanhar.

O lugar não era muito grande, um pouco apertado e fedia a fumaça de fumo e álcool barato, mas tinha uma arquitetura bonita, apesar de a iluminação ser um tanto deprimente. Álvaro notou uma placa que exibia com orgulho que o local estava na ativa desde 1906.

Beatrice andava um pouco mais afastada de Atlas e Álvaro. O garoto, por sua vez, ia dando uma olhada nos títulos de livros com relativa falta de interesse. Tinha muita coisa esquisita ali, esquisita num sentindo de serem coisas sombrias quase deprimentes, ao menos era o que pareciam. Atlas ia falando para Álvaro que tinha contado sobre ele para o irmão mais novo, sobre os seus feitos no fliperama no outro dia e coisas assim.

— Na verdade eu acho que um amigo novo ajudaria meu irmão, ele tem andado meio triste desde que o William Costa entrou naquele estado catatônico estranho. Eles eram bem amigos.

— Seu irmão conhecia um dos garotos que ficou assim? — Álvaro perguntou com relativo interesse.

— Sim, eles e a garota dorminhoca eram quase inseparáveis. Foi uma lástima o que aconteceu com ele, a vovozinha do menino ficou desolada, mas ainda guarda esperanças na sua recuperação.

— O que será que pode estar causando isso?

— Ah, tem um monte de rumores por aí. Estrigas, aquelas criaturas abomináveis, conseguem fazer isso. Ah, sim, aquelas bruxas malignas, todas elas podem fazer coisas como essas ou muito piores. Sim, tem criaturas assim nesta cidade.

— Mas o que... o que exatamente aconteceu com esse tal William?

— Para o estado que ele se encontra há poucas explicações disponíveis, mas esses sintomas já foram vistos antes. Ah, sim, foram sim. Magia, Álvaro, e das mais terríveis. Ele provavelmente teve sua alma roubada.

Álvaro sentiu um arrepio frio percorrer sua espinha. Era estranha a vontade de desvendar esse mistério ao mesmo tempo em que ele sentia um medo muito profundo. Atlas e ele ficaram em silêncio por algum tempo.

Máscara LunarWhere stories live. Discover now