Noite de Domingo

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Beatrice correu em direção ao quintal, onde achou ter ouvido um grande barulho. Quando lá chegou, notou que não havia sido apenas uma impressão, algo realmente havia acontecido. Um grande rombo fumegava no chão de terra do quintal. Álvaro jazia espalhado no chão, suas roupas eram meros trapos fumegantes, ele próprio era um mero trapo fumegante. Um pouco mais perto do rombo no chão, havia um grande livro tórrido, tostado e que ainda soltava fumaça. O livro estava praticamente pela metade agora e tentava balbuciar coisas, mas era tudo incompreensível. Ela notou que aquele era um exemplar de "Liber Gaudium Praetetiorum Volumininorum Encantamentorum!" que provavelmente não serviria mais.

A garota correu até Álvaro, que parecia apenas semiconsciente.

— Seu idiota, o que é que você fez?! — Ela berrou com ele, tentando ajudá-lo a levantar.

— Eu... fui estudar magia...

— Com aquele seu controle ridículo de Awen? Não me admira o feitiço ter dado tão errado! Você está um trapo, poderia ter morrido!

— E... você acharia isso ruim? Poderia... poderia ter o velho só para você...

— Não fala besteira, eu nunca disse que queria você morto!

Álvaro a fitou. Havia real preocupação em seu rosto, ela estava lívida, mas talvez o garoto estivesse vendo coisas, afinal não estava tão lúcido assim.

— Bea... isso significa... isso significa que agora somos amigos? — Ele deu um sorriso fraco antes de sua visão apagar completamente e ele perder os sentidos.

...

Ele acordou com um cheiro um tanto caramelizado, um tanto frutado, quase como uma loja de doces. Pouco a pouco, ao abrir os olhos, ele se viu num quarto de paredes cor lavanda, num dos cantos havia um mural que parecia arte saída de contos de fada, havia estantes com livros e potes de doces coloridos, a cama era coberta por uma colcha que mostrava os naipes dos baralhos, nela, um pouco perto de Álvaro, estava um coelhinho de pelúcia branco com rufo e cartola na mesma cor. Na mesa de cabeceira da cama, o abajur era um unicórnio branco cujo chifre acendia numa cor lilás, no chão estava estendido um tapete fofo com padrões de losangos vermelhos e pretos, as janelas de cortinas vermelhas estavam abertas, deixando entrar ali o ar fresco de uma noite ainda no início, do teto pendia um tipo de lustre com luzes que não pareciam vir da eletricidade. Ainda faziam parte do cenário um manequim sem cabeça com um vestido ainda mais extravagante do que aquele que Beatrice usava no dia em que chegara ali, uma mesa de estudos com materiais espalhados e um grande espelho ornamentado.

— Não me lembro do quarto ser assim quando vimos naquele dia. — Disse Álvaro ao acordar. Ele achava a decoração do quarto um tanto exagerada, mas ainda assim era um lugar aconchegante. — Acho que agora compreendo o motivo de tantas malas.

— Ah, então você acordou. — Beatrice levantou da poltrona e foi até ele. — Que ideia foi aquela, você podia ter morrido. Você devia saber que ainda é muito cedo para tentar um feitiço daquela complexidade, você ainda nem tem controle direito sobre sua Awen. Isso fez você sofrer um efeito adverso na execução.

— Não sabia que se preocupava tanto comigo.

— E não me preocupo, se você morresse enquanto só eu estou aqui, eu seria um tanto culpada, não? Sinta-se grato, plebeu, pois salvei sua vida e ainda te trouxe para meus aposentos, você deveria logo reconhecer que é um servo problemático.

— Apesar do seu jeito esquisito, sim, obrigado. Como você me salvou?

— O mestre Ambrose tem algumas poções que ajudaram. Mas não se engane, eu vou contar tudinho à ele e ainda espero que ele te expulse daqui! Agora as chances se elevaram aos níveis mais altos, você até destruiu um exemplar velho do Liber Gaudium que ele tinha aqui. — Ela riu de maneira teatral, com o lado externo da mão sobre a boca, — aposto que agora você está ferrado, vai ser expulso!

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