Lapidação

51 6 0
                                    


Apesar da surpresa inicial e de Mezaan Helius ficar muito surpreso rasgando elogios à Álvaro, dizendo que ele era um em um milhão e único nos últimos séculos, Ambrose e Liddell logo voltaram a tratá-lo com o desprezo costumeiro.

Ambrose voltou a dizer que aquilo não significava que ele seria um grande bruxo, na verdade só iria dificultar o trabalho dele aprender a controlar toda aquela energia. Segundo ele, era como dar uma super moto de corrida para um moleque que nem sabia se equilibrar na bicicleta.

— Sinceramente você teve sorte de que não aconteceu nenhum acidente. Poderia ter matado alguém.

Liddell ainda tentava demonstrar um ar de superioridade, mas a performance dela nisso estava bem menos convincente.

Ambrose conseguia admitir que sim, o poder de Álvaro era impressionante, mas voltou a falar que não ia adiantar nada se ele não pudesse sequer acessar a fonte desse poder.

O velho lançou um olhar em direção às janelas de madeira daquele casebre, por onde frestas de luz solar entravam evidenciando partículas de poeira que dançavam naqueles luminosos feixes focalizados. Sim, o dia brilhava quente e ensolarado lá fora do casebre, iluminando aquele quintal que, como tudo na casa do velho, estava abandonado e malcuidado. Havia capim crescido e ervas daninhas espalhadas, estátuas de jardim e vasos quebrados, cobertos de musgo, enegrecidos pela ação do tempo, plantas que cresciam rebeldes e descontroladas, quinquilharias abandonadas, um tanque de água esverdeada cheio de lodo sob um chafariz velho onde provavelmente habitavam um ou dois anfíbios, uma pequena fonte ornamental seca, um viveiro grande demais para apenas duas galinhas e um pequeno pomar que por incrível que pareça ainda dava algumas frutas.

— Você já sabe, certo, Srta. Novalis? Sabe acessar a fonte de poder, vindo você de uma família de magistas. Sabe conjurar alguma magia?

— É óbvio! — Ela disse cheia de orgulho.

— Demonstre!

— Claro! — Ela sorriu. Ela desenhou algo no ar tão rápido que Álvaro não teve chance de saber o que era e ao mesmo tempo ela declarava com uma voz que ecoou potencializada por uma energia sobrenatural: — Draí! — A imagem do símbolo que ela desenhara surgiu no ar por um milésimo de segundo e com um som ruidoso de madeira batendo, as janelas do casebre abriram de uma vez de repente.

— Simples, mas bem executado. — Ambrose disse e então se virou para Álvaro. — Tenho para mim que você não consegue fazer isso.

O silêncio de Álvaro era uma afirmativa muda.

— Vai ser difícil ensiná-los juntos, vocês estão em níveis bem diferentes. — Ele foi até uma das prateleiras que havia ali e trouxe o que parecia ser uma vela e colocou na mesa na frente de Álvaro. — Consegue acender isso?

— Só preciso de uma caixa de fósforos.

— Com sua magia, seu idiota. Tente. Concentre-se. Tente fazer surgir uma pequena chama na vela...

Álvaro apertou os olhos olhando para o objeto, tentando imaginar uma pequena flâmula surgir no pavio, só precisava de uma pequenininha... nada.

— Hum. Como pensei. — Dizia Ambrose. — A verdade é que você sequer consegue acessar a sua fonte de magia. Não é nem que você não tenha controle, você nem consegue chegar a ela. Os fenômenos que aconteceram com você, provavelmente, foi sua magia interior gritando que queria ser expelida e usada de alguma forma, vazando sem que você tivesse controle, sem nem que você soubesse... como uma torneira de gás aberta... e é perigoso. Primeiro de tudo, você tem que saber como acessar sua fonte de poder interno.

Máscara LunarWhere stories live. Discover now