Cristais da Tristeza

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Ele acordou suavemente no meio da noite e um brilho azulado e pálido na parede indicava que havia algo fora do lugar ali. Era aquela aranha de novo e agora ele conseguia lembrar da vez em que ela havia lhe falado sobre Gealach.

"Siga-me" pareceu sussurrar a criatura enquanto descia da parede e andava rapidamente pelo chão com suas oito patas querendo que Álvaro a seguisse.

A aranha subiu pelas paredes enquanto o garoto subia as escadas, no andar de cima ele seguiu por um corredor e no silêncio da noite achou ter ouvido alguém soluçar e lamentar ali perto, uma voz bem conhecida.

"Cuidado, faça silêncio!" a aranha pareceu sussurrar para ele. No fim do corredor havia uma janela, os soluços pareciam ficar mais audíveis até que Álvaro chegou à frente de um cômodo em que havia uma porta de ferro entreaberta. Estava pouco iluminado, mas pareceu ao garoto que era o velho Ambrose que chorava desconsoladamente lá dentro, o que o deixou intrigado por um instante.

"Não temos tempo para isso, venha!" voltou a sussurrar a aranha e Álvaro continuou até o fim do corredor, chegando na janela de metal e vidro que ele abriu, fazendo com que um vento fresco logo soprasse em seu rosto, trazendo até suas narinas um perfume amadeirado levemente frutado. Era Gealach quem estava ali, de pé em cima de uma vassoura que flutuava à alguns metros da janela.

— Olá, meu jovem amigo, como tem passado? — Cumprimentou o sujeito que embora misterioso, Álvaro sentia como se conhecesse muito bem. — Pronto para pagar aquele favor que me deve?

...

Junto de Gealach Álvaro voou até uma colina verdejante cuja cor, sob o céu noturno, era praticamente negra. Lá havia uma caverna num barranco que era demarcada por duas rochas na sua entrada, dois monólitos rústicos de pedra envelhecida que eram do tamanho de um homem adulto, uma erguia-se de pé, outra largada junto ao chão. Dentro da caverna era escuro e úmido e parecia gotejar alguma coisa.

— E então? — Álvaro perguntou à Gealach.

— O que quer dizer?

— O que vamos fazer?

— O que você vai fazer, certo? Ora, é muito óbvio, você vai entrar aí dentro.

— Quer que eu entre... ali dentro? — Álvaro estava curioso com o que havia de tão importante naquela caverna.

— Eu não posso entrar aí, já sou um usuário antigo de magia e esse santuário de tempos imemoriais rejeitaria a minha entrada. Você, por outro lado, um menino que mal descobriu ser capaz de fazer maravilhas, ah, o santuário natural te receberá de braços bem abertos!

— O que tenho que fazer ali dentro?

— Procure um cristal. Há muito tempo esse local era um lugar de muita magia, uma passagem para outro lugar onde havia mais magia que qualquer lugar de Santa Helena... mas ele foi descoberto e muito dessa magia foi usada sem responsabilidade. Agora o poder que existe aí é uma bruxuleante sombra do seu passado majestoso, é quase um lugar comum, não mais uma passagem para um lugar de maravilhas. Embora seja o lugar mais fácil onde podemos encontrar o tal cristal que procuro. Ele emite um brilho azulado, vai ser fácil identificar.

— Tem alguma propriedade mágica?

— Sim. Talvez um dia eu te explique a serventia dele. Agora, espere um momento. Não sabemos o quanto de magia ainda há aí, então vou tomar algumas precauções. — Gealach tirou seu chapéu da cabeça pareceu mexer lá dentro. Como um mágico tira coelho da cartola, o jovem tirou de lá uma corda enrolada que parecia ser feita de fios de prata e uma pequena picareta. Ele pediu para Álvaro enrolar a corda ao redor de sua cintura e descer até a caverna, que deveria tentar retirar os cristais delicadamente, pois eles eram um tanto frágeis e que quando tivesse tirado tudo, desse o sinal pela corda, dois puxões, assim Gealach o traria de volta.

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