Guia Prático e Teórico para até Modorros Fazerem Feitiços!

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Era tarde de domingo agora. Ambrose aparentemente se preparava para ir em algum tipo de bar, Hex iria com ele.

Ver Ambrose ali, todo de mal humor, fez com que Álvaro achasse ainda mais estranha a cena que ele vira na noite anterior. Eleonora e eles tinham voltado ali um pouco depois da meia-noite. Ela e Beatrice dividiriam o quarto e foram juntas até ele. Álvaro foi direto pro seu "cativeiro habitável", mas antes de dormir ouviu lamentos e soluços.

Ele decidiu investigar. Era Ambrose, mais uma vez naquele cômodo no andar de cima, mais uma vez com a porta de ferro entreaberta e uma garrafa de bebida. Agora ele balbuciava coisas estranhas em seu delírio ébrio:

"Eu... eu juro... eu não queria... eu não queria que isso tivesse acontecido, é só que... as criancinhas... as almas de todas aquelas criancinhas...! Eu... eu só queria que nada disso tivesse acontecido, me... me perdoem, almas puras... me perdoem, ó inocentes, eu... não queria que isso tivesse acontecido, eu... eu não sabia, eu fui obrigado, eu não queria..."

Por algum motivo aquilo deixou Álvaro muito assustado. Ambrose estava completamente fora de si, muito mais do que apenas bêbado como de costume. E ele chorava muito e parecia ser esmagado por remorso. As almas das criancinhas? O Atlas não tinha citado algo sobre o tal do amigo do irmão dele estar naquele estado desolador por ter tido a alma roubada? Então provavelmente todas aquelas outras vítimas também tiveram suas almas roubadas. Ambrose tinha algo a ver com tudo aquilo? Ele sabia algo? Estariam Álvaro e Beatrice correndo perigo?

Com todos aqueles pensamentos na cabeça, Álvaro não percebeu que acabara tropeçando num vaso qualquer que tinha naquele corredor. O objeto foi derrubado e ele fez barulho.

"Q-quem está aí?!" Ele ouviu a voz de Ambrose bradar com fúria, "quem..." Álvaro se afastou cada vez mais da porta de ferro enquanto ouvia os passos raivosos e apressados de Ambrose, "você não vai escapar, eu vou... hic!... eu vou..." mas então ele simplesmente caiu no chão, ainda dentro daquele quarto misterioso e apenas balbuciou debilmente, "eu vou... te pegar..." depois disso começou a dormir e roncar alto ali mesmo.

Álvaro tentou levantar o vaso delicadamente e sem fazer muito barulho, mas então alguém disse às suas costas:

"Já passou da hora de dormir, não acha, garoto?" Era Hex num tom de frieza não costumeiro. Os olhos do gato refletiam as poucas luzes acesas naquela casa, lhe dando um aspecto místico, misterioso.

Álvaro concordou com um balançar de cabeça e então se foi para seu minúsculo quarto.

Agora tudo parecia estar de volta ao normal, Ambrose rabugento, Hex um pouco mais caloroso, Eleonora amigável e Beatrice sempre teatralmente arrogante. Tudo voltara ao normal, como se tudo que Álvaro tivesse visto na madrugada anterior tivesse sido uma miragem, como se a noite e a madrugada fossem destinadas exclusivamente aos sonhos e, tudo que se via em suas horas, fosse destinado à eles.

— Eu tô te dizendo, velho, você apostar na vitória do Vaz de Camões vai fazer o time perder, você é azarado demais! — Hex insistia para Ambrose. — Quer saber como vamos ganhar? Simples, você aposta na derrota dele, mas aposta menos do que eu, aí eu aposto na vitória do time e vamos sair no lucro!

— Eu não vou apostar contra o Vaz de Camões! — Ambrose ralhou, — sem falar que eles não vão aceitar isso, onde já se viu, um familiar apostar contra seu mestre, é claro que eles vão notar a falcatrua. Sem falar que o Vaz de Camões está bem melhor que o Flamíneo esse ano, você sabe.

— O Flamíneo também vem bem, e clássico é clássico, você sabe.

— Vamos ver quem está certo então, seu gato gordalhão. Quatro a um pro Vaz!

Máscara LunarWhere stories live. Discover now