Um Prólogo Estranho

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Nos encontramos novamente?

Algo em mim... algo em mim diz que esta não é a primeira vez que nos vemos.

Seus olhos... eles não me são estranhos.

Mas se eu estiver me enganando, então eu irei me apresentar. Me chamo... Crisóstomo. É, pode me chamar assim. E saiba que eu estou lisonjeado pela sua companhia. Na verdade bem mais do que lisonjeado, isso é mais obra do destino. E você... você, colega, é o escolhido!

Talvez isso te seja confuso? Não se preocupe, ainda não estamos na história. Pode pular tudo isso que te direi se quiser, pode seguir em frente. Mas, que tal observarmos tudo juntos? Sim, claro. Eu posso te chamar de Olhos. Olhos Sem Rosto.

O.S.R, soa bem, não?

Veja, Olhos, temos aqui outra pessoa conosco.

 Ah, sim, eu trouxe um amiguinho também.

Este garotinho confuso aqui, do nosso lado é o Gerard.

Por que eu trouxe ele aqui? Ah, por que, veja só, você deve ter percebido, você é perspicaz, Olhos... você percebeu que você não pode se comunicar diretamente comigo. Então o garotinho aqui pode vir a calhar, pois ele pode ter as mesmas dúvidas que você. Ele esqueceu tudo que se relaciona com magia, de maneira muito peculiar... não se preocupe com isso, não é importante para a história que vamos acompanhar, na verdade.

O lado triste é que provavelmente o Gerard vai esquecer de tudo isso depois, ele foi... quer dizer, aconteceram algumas coisas com ele que o fazem esquecer de coisas que não são mundanas. E não, eu não trouxe ele aqui por ele ser um personagem importante ou algum tipo de protagonista, ele só vai... ser a voz da dúvida, assim como você deve ter dúvidas, caro Olhos. 

— O que está... o que está acontecendo aqui?

Você não tava prestando atenção, Gerard?

— Eu tô... eu tô com medo!

Medo? Espera, medo de quê? Do O.S.R? Sim... é uma pessoa um tanto calada e isso é meio sinistro, mas não precisa ter medo...

— Não, medo de você! Você... você me tirou do meu quarto, eu estava dormindo! Você é muito esquisito! Você é muito grande e essa fantasia de coelho é... é assustadora! Além do mais, você fede!

Ooooh! Mas que grosseria, e grosseria das grandes! Isso... isso não é fantasia! É o meu corpo, sério mesmo. E outra, não sou nada assustador, sou parecido, e olha a ênfase em PARECIDO, com uma fantasia de coelho branca normal, uma que poderia ser usada em festas infantis e muito alegrinhas, você que é um bebê chorão!

— É a fantasia mais horrorosa que eu já vi! E essa música que está tocando é esquisita! Ela dá medo! Eu quero voltar pra casa!

Esquisita? Música esquisita?! O que é que você entende de música, seu pivete? Tudo que você conhece de música são as aberturas de... "Brabo Ball Zeta" ou seja lá qual for o nome daquele desenho dos caras musculosos que encontram qualquer desculpa para uma boa trocação de socos! Essa música... é arte pura, amiguinho, isso é "Pierrot Lunaire", isso é...

— Estranho, esquisito, medonho e macabro! Eu quero ir pra casa, quero sair daqui!

Certo, eu diminuo um pouco o volume, satisfeito, seu pivete resmungão?

— Eu quero voltar pra minha cama! Quero ir embora, quero minha caminha!...

Blá, blá, blá! "... minha caminha..." blá, blá! Desculpa, amigo O.S.R, não sabia que esse moleque era tão resmungão. Tudo bem, aguenta um pouco, eu já dou um jeito.

— Ei, o que você tá fazendo? Tira suas mãos de mim! Ei, você aí, me ajuda!

O.S.R não vai te ajudar, bobinho, ele está aqui apenas para observar, é isso que ele faz, só observa, essa pessoa não tem poder para interferir em nossa dimensão, ela apenas vê... códigos, letras e as imagens surgem em sua mente de maneira peculiar... 

Sim, sim, agora um nó aqui, outro ali... hmm...

Pronto! Agora sim, eu amarro um pouco você nessa cadeira, tapo sua boca com esse pano, voilá, agora você tá quietinho! Ke! Ke! Ke! 

Por que me olhas assim, O.S.R? Vai dizer que o chororô dele não tava te dando nos nervos? Agora ele tá quietinho, olha. É, é, dependendo da sua interpretação essa cena pode parecer um tanto macabra... ou hilária, quem sabe. Vou confiar em você para ser a segunda opção, você sabe que eu sou só um grande coelhão maroto, certo? Não faço mal à uma mosca! É tudo uma grande brincadeira! Ke! Ke! Ke!

Certo, o garoto tá se mexendo muito tentando se desamarrar e tentando pedir ajuda... e nos olhos dele há uma certa umidade também, o que indica um possível choro... mas relaxa, ele só não tá muito acostumado ainda com a gente, daqui a pouco ele fica quietinho, vai ver que nós somos gente fina. Depois eu dou até um suquinho pra ele.

Ham-ham... 

Enfim, eu, você e o Gerard estamos aqui para acompanhar a história de... de um jovem, um jovem que vai para uma cidade estranha. Santa Helena, o Gerard é natural de lá, sabe? Embora ele não se lembre, ele já foi bem mais corajoso.

Presta atenção nisso, Gerard, isso pode ser útil no seu futuro. Quem sabe você não volta para aquela cidade estranha? E deixa dessa cara de choro! Antes que eu te dê um motivo real para isso.

Que foi O.S.R? É brincadeira, brincadeira! Ke! Ke! Ke!

Ham-ham...

Aqui, Gerard, O.S.R, olhem bem para esse espelho de cristal. Eu mexo minha mão e começo a conjurar minha magia e vamos cristalocar, isso é, observar através do espelho de cristal o jovem em questão. Permitam-me... permitam-me apenas falar as palavras mágicas...

-Aaaauuunnn.... aaauuunnn... supercaosabracadabrapalavrasmagicasbobocasdemoniofnordbobagemsemsentidocapetafnordfnordsatanfnordaleatoriodiscordia!-

Vamos lá, vamos olhar bem para o espelho de cristal que está na parede. Sim, cristalocar. Vamos observar... 

Isso, a rodoviária, meia-noite... Ali! Ali, estão vendo? Estão vendo aquele garoto metido, aquele esquisitão de primeira?  Ele é quem vamos observar, é ele... agora a história realmente começa...



Máscara LunarWhere stories live. Discover now