Gwaetrydan

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Não havia nada para Álvaro andar por cima. A ponte de malha mística surgia a partir do primeiro passo rumo ao abismo, mas onde estava a coragem para dar o primeiro passo? Era muito alto, as pedras eram pontiagudas e ainda aquela gosma feita de pura escuridão borbulhava lá embaixo ameaçadoramente.

Gealach fez um sinal para ele como se perguntasse "o que está esperando?" e Álvaro engoliu em seco, respirou fundo e concentrou seu poder mágico naquele cajado cujas pontas brilharam em runas místicas, de um lado azuis, de outro vermelhas.

Ele deu o primeiro passo.

A ponte de malha mística o sustentou no ar. Era estranho, era como pisar numa rede estendida ao longo de todo aquele vão entre um bloco de pedra e outro. Gealach sorria para Álvaro o incentivando, dizendo que ele estava indo bem e então continuou o próprio caminho.

Depois do terceiro passo as coisas começaram a complicar. Álvaro estava usando poder mágico demais e ele não conseguia conter isso. Até sentiu raiva de si mesmo por ter se sentido orgulhoso naquela vez em que o medidor mágico de Ambrose lhe classificara com um grande poder arcano. Aquilo, difícil de domar como era, estava mais dificultando as coisas do que facilitando. A ponta de runas vermelhas brilhou com mais intensidade e, lá embaixo, a Sombrafluente borbulhava com mais energia começando a se avermelhar e a emitir calor, muito semelhante à lava. Aquilo perturbou ainda mais o garoto.

"Acalme-se, Álvaro, concentre-se!" a voz de Gealach pareceu ecoar na sua mente como por telepatia, mas não o estava acalmando.

A gosma que agora era magma borbulhava com mais voracidade, línguas de fogo emergiam de sua superfície e pareciam querer devorar Álvaro, o som que de lá vinha se assemelhava ao barulho de um estômago faminto por carne fresca.

"Eu não vou conseguir!" pensou Álvaro antes de começar a sentir o bastão pesar muito de um só lado, o lado de runas vermelhas, o calor começava a ficar insuportável. Gealach já havia chegado do outro lado da ponte de malha mística, enquanto Álvaro começava a vacilar. "Não faça isso, você está usando poder arcano demais, suprima isso, suprima ou você vai morrer!" ecoou em sua cabeça a voz de Gealach.

Álvaro usou de toda sua força de vontade para suprimir seu poder mágico interno, o que funcionou, na verdade funcionou bem demais na medida em que o lado de runas vermelhas cessou de brilhar de repente e o lado de runas azuis brilhou com muita intensidade, a Sombrafluente lá embaixo tomou uma tonalidade cinza azulada e borbulhava lenta e preguiçosamente como lama de pântano, passando a emitir um clima frio de fazer bater o queixo.

O peso do lado azulado pareceu multiplicar o peso dos Cristais da Tristeza que ele trazia nos bolsos, "pra quê que fui pegar isso?" se perguntava o garoto, quase perdendo o equilíbrio, pendendo da ponte de malha mística por pouco. "Não vai dar certo. Eu vou cair!" ele pensou com todo o peso do lado de runas azuis, mas dessa vez foi mais fácil contornar o problema, visto que expandir sua Awen interna era muito mais fácil para ele do que suprimi-la. Acontece que ele expandiu demais, e mais uma vez, se viu se desequilibrando, dessa vez, porém, sem salvação.

— Não! — Ele exclamou antes de se ver perdendo o equilíbrio de vez e caindo rumo ao abismo cheio de Sombrafluente borbulhante em uma pasta de fogo como lava. — Aaaaahhhh! — gritava o garoto enquanto caía sem ajuda e, aparentemente, sem solução para seus problemas.

"Eu vou... morrer?!" ele pensou por um milésimo de segundo, arregalando os olhos antes de se ver envolto em fogo pastoso que o consumiu em chamas.

...

Álvaro se viu de volta ao lugar onde antes estivera com Gealach, quase intacto, exceto pelas manchas chamuscadas por sua roupa. Ele ainda segurava o bastão.

Máscara LunarWhere stories live. Discover now