Awen

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 "Eu acordei cedo por um motivo, sabia? Eu fui avisada de que bem cedo levantaríamos para começar nosso treinamento, estou certa? Sim, estou bem certa de que essas foram as palavras do Mestre Ambrose."

Álvaro deixou escapar um ruído de desaprovação por entre seus dentes. Era aquela garota, Liddell, ela já estava reclamando logo cedo.

"Minha filha eu sou um gato, eu tenho que dormir no mínimo umas doze horas por dia, me faz o favor." O garoto ouviu a voz sonolenta de Hex responder, enquanto ele ia em direção à sala.

A televisão ainda estava ligada e agora apresentava um jornal matinal em que eles davam a notícia de um adolescente encontrado na rua em um tipo de estado catatônico. Liddell estava por lá, reclamando, vestida um pouco mais casualmente.

— Ah, pronto, ainda bem, aí está o criado. — Logo disse ela ao ver Álvaro, — certo, criado, você deveria ir...

— Ei, ei, ei, quem você está chamando de criado, hein? Eu carreguei suas malas uma vez, uma vez e nunca mais, me ouviu? Não sou seu criado sua insuportável!

— Eu não estou nem acreditando nessa afronta! — Ela exclamou como se estivesse ofendida, exagerando nos trejeitos de sua reação.

Hex bocejou e disse:

— Ei, bom dia, garoto! Tem um pouco de mingau de aveia na panela em cima do fogão. Eu mesmo preparei para vocês. Agora, se me derem licença, eu preciso voltar a dormir. Acordem vocês mesmo o velho Ambrose e boa sorte, ele sempre acorda de mau humor.

— Espera, volta aqui, você é o familiar dele, você deveria acordá-lo!

A garota tentou argumentar, mas Hex já tinha saído bem rápido dali, ágil demais para um gato daquela circunferência que tinha preguiça até de andar.

Liddel tinha o cenho franzido e fazia biquinho, ela estava de braços cruzados e batendo o pé ritmicamente no chão como se estivesse impaciente.

— E então? Quem vai acordar o Mestre, hein?

— Eu vou tomar café da manhã.

Mas o plano de Álvaro de comer tranquilamente foi prontamente atrapalhado por Liddell, que não parava de reclamar um segundo sequer nem para tomar ar enquanto ele comia. A raiva do garoto só aumentava e o rosto dele já devia estar mais quente do que o mingau. Ele se forçou a comer metade da tigela, segurando com força o cabo da colher enquanto a menina não parava de reclamar e tentar dar ordens.

Com muita irritação ele resolveu que a culpa de tudo aquilo era do velho, que tinha enchido a cara no dia anterior e simplesmente não conseguia acordar. Vai ver ele tinha morrido durante o sono. Liddell realmente levantou essa possibilidade quando o viu todo estirado no sofá aparentemente sem respirar, mas logo a ideia foi descartada quando o velho voltou a roncar. Álvaro o acordou com sacudidas bruscas.

Ele soube que Ambrose tinha acordado quando começaram a ouvir palavrões sendo ladrados à plenos pulmões e eles eram dignos de deixar o menos pudico dos adolescentes envergonhado. Sem dúvidas as palavras que Ambrose vomitava com raiva ali deixaria qualquer educador sério e responsável extremamente horrorizado. Liddell sempre tapava os ouvidos e ficava repetindo "lá, lá, lá..." como se tentasse não ouvir palavras tão obscenas saídas da garganta daquele que ela ainda considerava um "respeitável mestre".

Ambrose estava verde, parecia estar passando muito mal, mas não era sem menos, ele bebera o dia anterior inteiro. Ele foi até um pequeno armário ali na parede, tirou um frasco dali e bebeu um pouco do seu conteúdo. O velho pareceu ficar menos verde e melhorou de saúde, mas ainda parecia muito zangado.

Máscara LunarWhere stories live. Discover now