Vozes na Penumbra

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Mas ali estava ele, em mais um lugar que parecia deprimente. Na verdade, esse lugar parecia ainda mais deprimente que o anterior. A livraria ainda estava com alguns indivíduos, pessoas esquisitas, mas ainda assim diminuía a sensação de isolamento tristonho... este lugar de agora estava quase deserto, exceto por eles, assim como a rua em que o estabelecimento se encontrava havia um vazio silencioso.

Era uma construçãozinha apertada e provavelmente haveria muita sujeira visível nas paredes, não fossem elas pintadas de preto. A entrada era uma porta de madeira e vidro com alguns discos de artistas muito desconhecidos expostos na vitrine, duas lamparinas de fachada emitiam uma luz amarela deprimente enquanto alguns insetos voavam ao redor e tudo estava tão silencioso que Álvaro podia ouvir seus zumbidos, alguns vasos suspensos na parede exibiam plantas horríveis e descuidadas, de aspecto mortiço e o letreiro enferrujado acima da porta de madeira se fazia ler "Vozes na Penumbra", que o garoto imaginou ser o nome da loja e "discos obscuros & sons soturnos" que devia ser algum tipo de slogan.

O interior da loja era igualmente deprimente, quase um total breu, as paredes escuras estavam apinhadas de pôsteres de bandas esquisitas e festivais estranhos, itens de decoração macabros como caveiras, mãos esqueléticas, morcegos pendurados no teto e demônios estilizados, além dos vaso de plantas horrendas, as prateleiras de CDs e discos estavam apinhadas de capas que ostentavam bizarrices ou pessoas soturnas de aparência tristonha e, num cantinho mais isolado, havia um espaço com aparelhos de sons equipados de fones, Álvaro imaginou que para testar os discos. Logo ao entrar na loja havia um porta revistas em que ele notou muitas edições do fanzine "Nocturna Obscura".

— Ah, são vocês. — Disse um rapaz que estava no balcão da loja ao vê-los entrar. Ele parecia bem entediado, — não os esperava aqui nesse horário. Todos vão estar lá no Cripta hoje, achei que vocês também estariam.

— Não, hoje a gente tem companhia, — Eleonora falou apontando para Álvaro e Beatrice.

— Quem são essas crianças, Ely? Foi mal, a gente não vende CD da Shousha.

— Corta essa, a Luna não avisou que viríamos? O Radu e o Jasper vão fazer uma tatuagem.

— Ah, então é por isso que ela ainda está no estúdio. Não, ela não avisou, ela parou de falar comigo desde que comecei a falar que o tal do Sasha Jung é um poeta horrível, não exatamente com essas palavras.

Nos fundos da loja de discos aparentemente havia um estúdio de tatuagem onde uma jovem chamada Luna Violeta trabalhava. Supostamente ela era a única que conseguia fazer tatuagens decentes em Jasper e Radu devido às suas "condições". O cara do balcão falou que, enquanto isso, Álvaro, Eleonora e os outros poderiam ficar por aí dando uma olhada nos discos e ouvir uns sons novos e aí ele começou a falar sobre uns "projetos muito maneiros de dungeon synth e dark ambient experimentais que..." e um monte de baboseira que Álvaro não entendeu nada e nem sabia que aquelas coisas eram supostos gêneros musicais.

Depois de cerca de cinco minutos zanzando pela loja entre as prateleiras de discos e CDs, Beatrice foi até o cara do balcão e interrompeu a conversa dele com Eleonora para perguntar:

— Vem cá, aqui não vende música normal não?

Ele olhou a garota como se nem soubesse o que responder. Silêncio.

— Já sei exatamente do que você vai gostar. — Disse ele balançando o indicador na direção dela, como se tivesse tido uma ideia e correu até uma das prateleiras tirando de lá um disco de capa violeta e arte estilizada de maneira a parecer sombras em preto e branco, o desenho de um tipo de fada olhando com desconfiança na direção de quem segurava o disco. — Imajicka, esses caras surgiram há pouco tempo, mas já são uma sensação aqui na cidade. Eles têm uma sonoridade meio oitentista se utilizando de sintetizadores, uma vibe meio gótica, post-punk, dark wave, uma aura de mistério, onírica, sombria e macabra, mas inocente e fofa ao mesmo tempo, isso é muito intensificado pelo timbre da vocalista Kawaii-Pixie. Particularmente eu gosto da faixa dois "Don't Forget Me" e da faixa quatro "Bloody Cupcake", você muito provavelmente vai curtir muito a faixa seis "The Queen of Hearts" que combina muito com seu estilo...

Máscara LunarWhere stories live. Discover now