- Prometo! – uma lágrima escorreu de seus olhos – Eu não acho que seja doente, e nem me irrito com o fato de me querer. Só estou cansada e fui infeliz com as palavras naquele dia. – passou a mão no meu rosto – Não acontecerá mais. Eu prometo. 

Peguei sua mão e beijei-a.

- Levo você pro aeroporto amanhã.

- E dorme abraçada comigo? – pediu como uma criança receosa.

- Claro, meu amor. Não precisa pedir.

Lançou-se nos meus braços e apertou-me de um jeito como se tivesse medo de algo que estava por vir.

- Seja lá o que for que está acontecendo com você, a gente vai resolver juntas, entendeu?

Balançou a cabeça e continuou colada comigo ainda por uns bons minutos.

                  ☆♤☆

                  

Voltei para Natal na sexta, porém cheguei mais tarde do que deveria por conta de um acidente na BR. Quando finalmente entrei em casa era quase meia noite. Encontrei Regina dormindo na poltrona e parei para analisá-la de perto. Sentei na mesa de centro e fiquei olhando para seu rosto, observando detalhadamente cada traço daquele perfil delicado. Parecia ter chorado, o nariz estava vermelho. Não sabia explicar porque, mas senti uma imensa tristeza ao admirá-la.

- Vamos levar essa morena pro quarto?

Levantei-a no colo e fui caminhando para nosso quarto. Ela acordou sonolenta e surpresa.

- Emmy! – envolveu meu pescoço com os braços – Fez boa viagem? Que horas são?

- Fiz sim. E é hora de dormir com minha rainha.

Ela sorriu e deitou a cabeça no meu ombro.

- Lembra de quando eu adormecia estudando e você fazia isso de me levar pra cama no colo?

- Claro que lembro, meu bem. Lembro com detalhes de tudo que vivi com você. – deitei-a na cama – Não disse que vou até escrever sobre nós?

Ela sorriu e disse:

- Só depois que eu esclerosar. Agora vá tomar seu banho e venha deitar aqui comigo.

- Pode deixar, meu amorzinho.

Dormimos abraçadas aquela noite.

E no sábado tomamos café e fizemos nossos rituais específicos. Por volta das 10:30h Regina foi para o quarto e decidi que aquele seria o momento de nossa conversa.

- Estranho quando Fran falta, não é? Senti falta de ouvi-la cantando forró. – penteava os cabelos.

- Eu também. Tomara que a neta dela melhore. – respirei fundo – Acho que agora é a hora da nossa conversa, não é?

- É. – sentou-se na cama. - Vou lhe contar tudo, uma vez que eu mesma agora sei de tudo, e não sei o que fazer.

Sentei na cama também, de frente para ela.

- Estou ouvindo. – olhei-a intrigada.

- Você falou abril, não foi? – sorriu triste – Eu me sinto estranha desde abril. Pensei que era o excesso de trabalho e que iria passar, mas não passou. Só ficou pior. Eu me sinto sempre cansada, sinto dores, meu corpo vem aparecendo manchas arroxeadas na pele, minha menstruação está com o fluxo com aumento considerável... Naquele dia em que brigamos, eu estava completamente confusa. – abaixou a cabeça – Meu nariz sangrou.

- O que? Como assim, Regina? Você foi ao médico?! – perguntei preocupada. Meu coração já estava acelerado.

- É só o que tenho feito. Por isso tenho chegado tarde. – contornou os desenhos da colcha com os dedos, com a cabeça baixa. – E fui para São Paulo fazer um exame, além de conversar com o tal arquiteto também.

- Exame de que? Por que escondeu isso de mim? Esse mal estar? Eu queria ter estado do seu lado como sempre estive.

- Eu não quis ser mais um motivo de dor para você. Sabia que sofreria e achei que se me afastasse...

- Eu sofreria ainda mais! Seu afastamento doeu mais que qualquer coisa que pudesse fazer! Pensei que estava tendo um caso.

- Isso nunca me passou pela cabeça! – olhou no fundo dos meus olhos.

- Mas me diga logo, que exame fez e o que está acontecendo? Você disse que agora sabe tudo; do que sabe? – estava agoniada. 

Ela respirou fundo, fechou os olhos e encarou-me com tristeza.

- Recebi o resultado do exame ontem. Estou com câncer,Emma.

- O que??? – senti uma leve pressão na cabeça que me tonteou. Meu coração bateu apertado e minha boca secou.

- Leucemia. – derrubou algumas lágrimas dolorosas – Não sei o que fazer... Estou confusa e com medo. - sua voz saiu trêmula.

- Ah, meu amor...minha pequena! – lágrimas saíram de meus olhos – Não tenha medo e nem fique confusa! – aproximei-me dela e puxei-a para que se sentasse no meu colo – Vamos resolver isso juntas e estarei sempre do seu lado. – abracei-a com força – Eu te amo e Deus vai nos ajudar. Acredite.

Ela abraçou-se comigo, me envolvendo o pescoço e chorando como criança.

“Ah, meu Pai eterno! Por favor, eu suplico. Permita-nos vencer isso! Não deixe minha rainha ir embora, por favor não deixe!”

Além do TempoWhere stories live. Discover now