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- A princípio é para ajudante de cozinha, pois a cozinheira logo vai se aposentar e o estabelecimento procura alguém para substituí-la. Irei passar um período de treinamento e se tudo der certo mesmo, serei eu a comandar a cozinha. - disse meio receosa

Peguei a sua mão e apertei, ela olhou para mim e por sua expressão percebi que ela não esperava por aquele ato. 

- Tenha fé em Deus, mãe...pois já deu certo! - ela esboçou um lindo sorriso, o que me contagiou, e acenou positivamente.

- Obrigada, filha! - vi seus olhos marejarem e a puxei para um abraço apertado.

Regina assistiu a tudo emocionada e vi seus lábios dizerem um “eu te amo” silencioso, somente para mim e um sorriso orgulhoso chegou até seus olhos. Retribuí e estendi a mão para ela que pegou no mesmo instante.

E assim aconteceu. Algumas semanas depois, Mary foi efetivada no restaurante e estava radiante. Eu me sentia realizada por estar cumprindo minha promessa de cuidar de minha mãe. 

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Em meados do mês de dezembro, a peãozada, bem como todos aqueles envolvidos com as obras de regeneração, decretaram silenciosamente o recesso de final de ano. Nós nos vimos simplesmente sem ter como trabalhar, e por isso acabamos assumindo este recesso. Júlio não se mostrou contrariado com isso, até porque continuava absoluto como dono da situação.

Arthur havia voltado dos EUA e parecia ter melhorado, mas sua esposa ainda proibia visitas. Sabíamos dele sempre através de Júlio.

O casal com o qual Regina negociava vendeu o imóvel e terminamos de reformá-lo pela época do recesso. E ele foi imediatamente vendido para um casal de líderes religiosos. Pagaram à vista!

Sandra se comunicou e disse que estava morando em um novo endereço, no Leme, e nos convidou para passar natal e ano novo com ela, que ficou super contente quando lhe contei sobre minha mãe e disse que não via a hora de conhecê-la. Gostamos da ideia e aceitamos.

Nara, que desde outubro não dava sinal de vida, mandou um postal onde se limitou a escrever: “Descobri que a felicidade pode ser possível. Estou bem, e para vocês, my best wishes!”

Ruby disse que não perderia a chegada do ano 2000 em Copa nem por um decreto, e pediu para nos ver por lá. Disse que finalmente se formaria no ano vindouro. Lilith iria com o namorado e mais um pessoal esquisito para uma gruta na região serrana de São Paulo, enquanto Kristin badalava em Porto Seguro com seu garotão. Tinker, incomunicável.

Ruth e Paulinha, ou Paula, saíram definitivamente de nossas vidas por razões distintas.

A saúde de vovó Granny passava por altos e baixos, e por conta disso ela estava na fazenda de Shelley desde outubro. Nossa agitada velhinha não se aguentava mais. Em seu último e-mail disse que se não morresse pelo coração morreria de tédio.

“Vocês não sabem o que é viver com tanto sossego! Eu preciso de ar poluído, barulho, confusão, e gente andando por todo lado. Shelley diz que aqui é um pedaço do céu, mas sempre achei que valia a pena passar no inferno pelo menos nos finais de semana para me divertir um pouco.” 

Por todo o país as cidades caprichavam nos preparativos para a virada; afinal, se aproximava o tão esperado ano 2000! Profetas anunciavam o final dos tempos e pessoas cometiam suicídios coletivos em diversas partes do mundo. Enquanto isso, os meios de comunicação alertavam sobre os problemas consequentes do famigerado bug do milênio.

Dia 23, pela manhã, chegamos no Rio debaixo de um calor terrível. Sandra nos buscou no aeroporto e disse não ter ideia sobre o que fazer no natal, mas queria se sentir útil. Decidimos então, após acomodar as coisas em sua casa e comer algo, ir para praia e pensar melhor.

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