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[ 31 de maio, sábado ]




  O vestido fica perfeito depois dos ajustes, agarrando as partes certas do meu corpo e valorizando todas as curvas. Me sinto bonita, elegante e graciosa enquanto me olho no espelho da porta do guarda-roupas. Coloco a perna um pouco para frente, de modo que a ponta do meu pé direito apareça sob a barra do vestido — a tira prateada da sandália que Ariana me emprestou contrastando com a cor escura da saia. Coloco também a tiara e o colar. O conjunto todo é digno de uma verdadeira elfa, mas acho que se parece demais com a fantasia que é. É provável que eu me sinta acanhada quando chegar a hora de usá-lo no baile. Todas as garotas vão optar por algo mais... normal, digamos assim.

  Por outro lado, Castiel foi um fofo ao comprá-lo e planejar aquele convite. Não posso não usar o vestido. Além do mais, ele também estará trajado diferentemente dos outros. Posso suportar chamar atenção se ele estiver ao meu lado. Na realidade, tenho ouvido muitos cochichos pelos corredores desde que a Crowstorm começou a ganhar certo destaque. Já escutei uma garota dizer que não entende porque Castiel e eu estamos juntos. O que um gato como ele viu nessa menina? Ela é tão sem gracinha. Passei o resto do dia um pouco pilhada, me lembrando das coisas que a Debrah falava.

  Ouço Castiel entrar em casa e decido ir ao seu encontro. Ele havia saído para comprar comida de gato, e seus olhos estão no celular conforme adentra a casa. Aguardo na porta do quarto até ser notada. Castiel bloqueia o celular, o guarda no bolso e levanta a cabeça. Sorrio quando nossos olhares se encontram. Ele interrompe os passos e abre a boca; a sacola com a ração cai no chão.

  — Wow — diz. — Você... Você... Esse foi um dinheiro muito bem gasto.

  Rio.

  — Gostou? — pergunto, fazendo uma pose.
 
  — Se gostei? — ele segura minhas mãos, me olhando de cima abaixo. — Você está magnífica, Greene. Não, magnífica é pouco. É quase uma pena que o povinho daquela escola também poderá te ver assim.

  — Ora, foi você que comprou o vestido — respondo, acanhada.

  — Como eu disse, foi um dinheiro muito bem gasto. Você vai ser a garota mais linda no baile, Greene, pode acreditar. Já é a garota mais linda em qualquer lugar aos meus olhos, de qualquer maneira.

  Não sou boa em responder elogios, então apenas sorrio. Castiel faz com que eu me sinta ainda melhor do que me senti na frente do espelho.

  — É muito tarde para pedir que só use esse vestido para mim?

  — Hm... Vou ter que usá-lo no baile, mas posso vesti-lo para você sempre que quiser.

  — Parece um bom acordo.

  — Só que você também terá que colocar sua fantasia quando eu pedir.

  — Qualquer coisa por você, garotinha. Pintaria o cabelo de rosa, se me pedisse.

  Rio outra vez, imaginando-o com o cabelo rosa chiclete. Tenho certeza que Castiel ficaria bem com qualquer cor de cabelo, embora algumas ficassem engraçadas de início. Envolvo seu pescoço com os braços para beijá-lo, mas me afasto quando ele começa a se empolgar demais.

  — São três da tarde — digo. — E não quero danificar o vestido.

  — Vou tirá-lo com cuidado — ele promete em um tom de voz baixo e grave, avançando em minha direção, porém espalmo as mãos em seu peito para pará-lo. — Qual é, Greene, por favor!

  — Não! Estamos no meio da tarde.

  — E daí? Já fizemos no meio da madrugada.

  — Esquece. Vou me trocar e podemos sair para tomar um café. Estou morta de fome.

  Castiel faz um beicinho, como se o " já fizemos no meio da madrugada " em questão não tivesse sido nessa madrugada. Francamente, todos os homens são assim? Passaríamos vinte e quatro horas por dia na cama se dependesse dele. E no sofá, na banheira, no banco traseiro do carro... Talvez sejam os hormônios adolescentes. Não me leve a mal, eu adoro transar com ele — muito mesmo —, mas consigo passar mais de duas horas sem ter vontade de tirar as roupas.

  Nós vamos até uma lanchonete com mesas externas cobertas por guarda-sóis. O calor está de matar e, apesar de estar vestindo uma blusa de alcinhas, minhas pernas estão suando sob a calça. O sol conseguiu derrotar até mesmo o Castiel, que está usando bermuda e regata — ambas pretas, porque ele não se rende por completo.

  — Você fica ainda mais pálido fora de casa — comento.

  — Eu não tomo sol, Greene, isso pode me matar. Posso entrar em combustão.

  — Porque você é um vampiro? — pergunto, achando graça.

  — Não, porque sou emo.

  Solto uma gargalhada.

  — Você é tão pálida quanto eu, sabia?

  — Obrigada. Me esforço muito para parecer um Cullen. Você, por outro lado, parece a Marceline.

  Castiel faz uma careta debochada, mas não responde nada porque uma garçonete se aproxima para anotar nossos pedidos. Peço um sanduíche e um suco de laranja com muito gelo, Castiel pede o mesmo. A mulher parece um pouco nervosa e animada enquanto anota tudo no bloquinho.

  Nós comemos e conversamos, e tiro uma foto do Castiel para compartilhar no story do Instagram. O dia está bonito e a luz, perfeita. É um daqueles momentos simples e maravilhosos que fazem eu me dar conta de que estou viva e que minha vida é boa. A mesma garçonete volta quando pedimos a conta.

  — É por conta da casa — ela diz, sorridente.

  — Por que? — pergunto.

  — Ora, porque ele faz parte de uma banda famosa!

  — Não é tão famosa, na verdade — Castiel replica. — Não ainda.

  — É a mais famosa da cidade. Já conheci o Jake uma vez, sabe? Vocês são todos uns fofos. Posso tirar uma foto?

  — Sim, claro.

  A garota puxa o celular do bolso de trás e se posiciona para uma selfie, com o rosto bem próximo ao de Castiel. Ele abre um sorriso contido.

  — Legal, já começou a ganhar coisas de graça — comento enquanto caminhamos de mãos dadas pela calçada.

  — Você também não pagou. Pode botar isso na longa lista de vantagens em ser minha namorada.

  — Longa lista? — provoco, arqueando as sobrancelhas.

  — Sim. Sou romântico, engraçado, bonitão e mando muito bem no sexo. Você nega?

  — Não, mas só transei com você e não tenho com quem comparar, então...

  — Hilário, Greene. É por isso que eu te amo.

  Rio, encostando a cabeça em seu braço.

  — Não, é verdade, você é maravilhoso. E agora todo mundo saberá disso. Que orgulho! E que droga — faço um biquinho. — Mas vai ser divertido quando as fanfics começarem.

  Castiel grunhe, jogando a cabeça para trás.

  — Você pode ser uma namorada boazinha e dizer que se incomoda com fanfics que simulam um relacionamento amoroso entre mim e um dos caras? Principalmente se for o Keith. Ele me perturbaria eternamente.

  — Está brincando? Eu vou adorar! Vou criar uma conta no twitter só para incentivar os escritores de plantão.

  — Ótimo — resmunga. — Você é minha maior fã e minha maior hater ao mesmo tempo. Como viverei assim?

  — Ora, Chase, é a relação de amor e ódio que sempre tivemos — sorrio.

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