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[ 22 de fevereiro, terça-feira ] 





  Apesar de saber que Castiel Chase me detesta sem um bom motivo aparente, eu não tenho nada contra ele. Isso não significa, porém, que estou empolgado para passar a tarde dos próximos não sei quantos dias cuidando dele. Agora que Ana finalmente decidiu me dar uma chance, gostaria de passar ainda mais tempo com ela. Mas eu também adoro a Ari, e não poderia negar-lhe ajuda. É por esse motivo que estou num elevador, rumo ao décimo quinto andar, carregando uma mochila com um carregador de celular, fones de ouvido, um livro e uma troca de roupas ( porque nunca se sabe ).

  Quem atende a porta é o Keith. Ele está vestindo o uniforme do Hummingbird, e o cabelo loiro comprido está meio preso para trás. 

  — Nos vemos amanhã cedo — ele se despede do amigo, que não consigo ver daqui, depois se dirige a mim: — Boa sorte, Lysandre. Castiel está com um ótimo humor, como pode imaginar. 

  — Não se preocupe — balanço a cabeça. — Ele está sempre de mau humor quando se trata de mim, já me acostumei. 

  — Bom, todo mundo sabe como ele pode ser um pé no saco — Keith inclina a cabeça para dentro do apartamento, dizendo a última parte em um tom mais alto. — De qualquer forma, tem comida no fogão. Sinta-se livre para trancá-lo na sacada se ele ficar insuportável demais. 

  Dou risada. Avisto Castiel assim que entro no apartamento. Ele está sentado com as costas retas no sofá de frente para a televisão; não está usando camisa e uma tipóia estranha adorna seus ombros, além de outros ferimentos. Seu péssimo humor seria notável mesmo se Keith não tivesse me avisado. Ele nem olha para mim, mas posso sentir a aura aborrecida exalando por cada um de seus poros. 

  Não é minha primeira vez aqui, mas antes haviam mais pessoas presentes. Agora que estamos sozinhos, me sinto estranho. Passaremos a tarde toda juntos; como vai ser isso? Sobre o que vamos falar? Castiel vai me ignorar o tempo todo? Se a situação ficar ruim demais, talvez eu acate a sugestão do Keith.

  — Se vai ficar aí parado como um idiota, juntando poeira — o dono da casa fala, de repente. —, seria melhor não ter vindo. 

  — Concordo — respondo, movendo-me para mais perto. — Todavia, a Ari me pediu ajuda e eu disse sim, então você está preso comigo durante as próximas horas.
 
  — Maravilha. Me faz um favor? — pede, finalmente olhando para mim. 

  — Claro. 

  — Pega a garrafa de vinho na geladeira e quebra na minha cabeça. 

  — Tentador — esfrego o queixo, fingindo considerar. — Infelizmente, não posso fazer isso. Mais algum pedido? 

  Castiel revira os olhos e volta a atenção para a televisão. 

  — Imagino que seja uma droga estar nessa situação, mas não seria melhor tentarmos nos dar bem? Facilitaria as coisas — sem resposta. Suspiro. — Vou deixar minha mochila aqui e pegar um pouco de comida, está bem? 

  — Faça o que quiser — resmunga. 

                                      °

  — Então — Keith pergunta, varrendo o chão. —, ansiosa para dar início à vida de casada? 

  — Como assim? — pergunto de volta, limpando as mesas.

  — Você vai viver com o Castiel por um mês. Acho que não preciso dizer, mas o humor dele está pior que o normal por causa da fratura. 

  — Imagino — suspiro. — Não vai ser fácil. A dor vai diminuir em alguns dias, provavelmente, mas ele não poderá mover o ombro pelo resto do tempo. O pior é que anunciaram na escola que as inscrições para a faculdade começam hoje. 

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